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Incerteza atual recomenda se abster de dar indicações dos próximos passos, diz BC

26/06/2018

Na ata do último encontro do Comitê de Política Monetária (Copom), publicada nesta terça-feira, 26, o Banco Central deixou clara a opção de não passar indicações sobre as próximas decisões a respeito da Selic (taxa básica de juros da economia), atualmente em 6,50% ao ano.

“Em termos de sinalização futura, todos concordaram que o maior nível de incerteza da atual conjuntura recomenda se abster de fornecer indicações sobre os próximos passos da política monetária”, disse o BC na ata.

No comunicado da reunião da semana passada e na ata divulgada nesta terça, o BC não passou, ao contrário do que vinha ocorrendo, indicações sobre o que fará nos próximos encontros. A opção foi por deixar abertas todas as possibilidades.

Ao mesmo tempo, a autarquia reafirmou que os próximos passos da política monetária dependerão da evolução da atividade, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação.

Condicionalidades

O Copom voltou a destacar na ata que o grupo prefere “explicitar condicionalidades” sobre a futura evolução da política monetária. Isso, segundo os diretores do BC, é “o que melhor transmite a racionalidade econômica que guia suas decisões”. “Isso contribui para aumentar a transparência e melhorar a comunicação do Copom”, cita o parágrafo 26 do documento.

Diante dessa estratégia, os diretores do BC voltaram a ressaltar que “os próximos passos na condução da política monetária continuarão dependendo da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação”.

No parágrafo 24, os membros do colegiado reforçaram o conceito de que a atuação da política monetária tem foco exclusivamente “na evolução das projeções e expectativas de inflação, do seu balanço de riscos e da atividade econômica”. Essa afirmação foi acompanhada da lembrança de que “choques de preços relativos devem ser combatidos apenas no impacto secundário que poderão ter na inflação prospectiva”.

Ou seja, eventual choque de preços primário não será combatido pelo BC, que só reagirá se esses aumentos contaminarem outros preços da economia de forma generalizada. O texto reitera “a importância de insistir na comunicação de que não há relação mecânica entre choques recentes e a política monetária”.

Reformas

No documento, a diretoria do BC voltou a defender o avanço das reformas. “Notadamente as de natureza fiscal”, cita o documento, ao comentar que essas mudanças estruturais são fundamentais “para a sustentabilidade do ambiente com inflação baixa e estável, para o funcionamento pleno da política monetária e para a redução da taxa de juros estrutural da economia, com amplos benefícios para a sociedade”.

Ainda sobre as reformas, o Copom também mencionou a importância de iniciativas para aumento da produtividade, ganhos de eficiência, maior flexibilidade da economia e melhoria do ambiente de negócios. “Esses esforços são fundamentais para a retomada da atividade econômica e da trajetória de desenvolvimento da economia brasileira”.

Efeito estimulativo

O Banco Central retomou na ata uma ideia já presente em comunicações anteriores: a de que a taxa de juros real atual tem efeito estimulativo sobre a economia.

“Embora estimativas dessa taxa envolvam elevado grau de incerteza, os membros do Comitê manifestaram entendimento de que as atuais taxas de juros reais ex-ante têm efeito estimulativo sobre a economia”, pontuou o BC na ata.

Ao mesmo tempo, o BC reiterou o entendimento de que a conjuntura econômica “com expectativas de inflação ancoradas, medidas de inflação subjacente em níveis baixos, projeções de inflação um pouco abaixo da meta para 2018 e 2019 e elevado grau de ociosidade na economia prescreve política monetária estimulativa, ou seja, com taxas de juros abaixo da taxa estrutural”.

Choques

O Banco Central reafirmou que a autoridade monetária só reage a possíveis efeitos secundários nos preços. A ideia foi repetida e detalhada nos parágrafos 15 e 16 do documento. Nesse trecho, os diretores do BC reforçaram a tese de que “eventuais choques que produzam ajustes de preços relativos devem ter apenas seus efeitos secundários combatidos pela política monetária”.

Nesse trecho do documento, os diretores do BC também defenderam que eventual reação da política monetária a possíveis mudanças de preços relativos “será simétrica”. “Ou seja, a política monetária seguirá os mesmos princípios tanto diante de choques inflacionários”, cita o documento que dá como exemplo o caso de um choque externo que produza depreciação cambial ou, no sentido contrário, na eventualidade de um choque favorável nos preços de alimentos.

No parágrafo 16, o BC continua com a defesa de que a política monetária “deve reagir a choques que produzam ajustes de preços relativos” e, nesse contexto, os diretores do BC discutiram o grau de repasse cambial na economia. “Concluíram que a intensidade do repasse depende de vários fatores, como, por exemplo, do nível de ociosidade da economia e da ancoragem das expectativas de inflação”, cita a ata.

Meta de inflação

Os membros do Copom destacaram que eventual ajuste de preços relativos diante do cenário com a inflação ancorada “poderá acelerar a convergência da inflação para as metas”. O fenômeno, porém, não é considerado um “risco” pelos diretores do Banco Central.

No parágrafo 14 do documento, os membros do Copom notam que as diversas medidas de inflação subjacente estiveram “em níveis baixos no passado recente”. Diante desse comportamento, o BC nota que “um ajuste de preços relativos em contexto com expectativas ancoradas poderá acelerar a convergência da inflação para as metas, sem constituir risco para a manutenção de sua dinâmica favorável após concluídos esses ajustes”.

Mesmo sem ver risco, os diretores do BC notam que cabe à autoridade monetária “acompanhar a evolução da trajetória prospectiva da inflação no médio e longo prazos, além da ancoragem das expectativas de inflação”.

Autor: Fabrício de Castro e Fernando Nakagawa
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