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A verdadeira história de Tiradentes

02/05/2018
A verdadeira história de Tiradentes

Segundo o escritor francês Honoré de Balzac (1799-1850), autor da obra “A Comédia Humana”, “existem duas histórias: a Oficial, que é mentirosa, e a Verdadeira, que é secreta”. Com base nessa proposição, cada vez mais temos conhecimento de falsos registros inseridos nos livros escolares sobre a História do Brasil. Um desses registros diz respeito a Tiradentes.

A priori, o alferes Tiradentes não usava barba e nem bigode, porque era um militar (soldado da Coroa Portuguesa). Esta ideia propagada de cabelos longos e barba grossa tem o sentido da Imitação de Cristo, que foi feita pelo impressionismo do pintor Pedro Américo em 1893, cujo quadro pertencente ao Museu Mariano Procópio da cidade de Juiz de Fora (MG), que foi sacramentada pelo Presidente da República, Marechal Castelo Branco, através da Lei Federal nº 4.897 de 1966, quando foi definida a foto-imagem de Tiradentes para a divulgação institucional.

Joaquim José da Silva Xavier, conhecido por Tiradentes, era maçom convicto iniciado na França. Ele fazia parte de uma sociedade secreta de homens livres proveniente do Iluminismo, que congregava quase a totalidade dos líderes do movimento da inconfidência. Esse movimento de conjuração reunia três províncias do Brasil: Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo.

A Inconfidência Mineira começou em Vila Rica (atual Ouro Preto), que era a cidade mais rica de Minas Gerais, grande produtora de pedras preciosas e de ouro, tendo uma vida glamorosa como as cidades europeias, que contava com orquestras, teatros e grupos literários. Porém, quando ocorreu em 1756 o grande terremoto em Portugal, que destruiu quase que toda a cidade de Lisboa, o Marques de Pombal (Sebastião José de Carvalho e Melo), estadista português e Secretário do Reino, impôs uma cobrança sobre o ouro de um quinto (1/5) sobre o peso do mesmo no Brasil que deveria ser enviado à Portugal por um prazo de 10 anos consecutivos, mas esse confisco durou 60 anos, até que as minas de ouro em Vila Rica se esgotaram e os mineiros não tinham mais como pagar “o quinto” de tributo. Mesmo assim, tendo a extração do ouro diminuído nas terras mineiras, a Coroa Portuguesa fixou uma cota única para região de Vila Rica, devendo ser arrecadado de qualquer maneira 1.500 kg (100 arrobas) de ouro por ano, não importando a quantidade da produção.

Se os tributos não atingissem essa quantia, o povo teria que complementar a quantia estipulada – o que era chamada de “Derrama”. Tiradentes e outros mineiros não aceitaram essa condição e formaram uma conspiração (conjuração), reunindo aliados como o coronel Francisco Antônio de Oliveira Lopes, o engenheiro Dr. José Alvares Maciel, maçom iniciado na Europa, o cirurgião Salvador Carvalho do Amaral Gurgel, o minerador Inácio José de Alvarenga Peixoto, o magistrado Tomaz Antônio Gonzaga (autor de Cartas Chilenas e do poema Marília de Dirceu), o poeta Cláudio Manuel da Costa, o padre José da Silva e Oliveira Rolim, o cônego Luís Vieira da Silva, o coronel Joaquim Silvério dos Reis Montenegro Leiria Grutes (o traidor), num total de 34 inconfidentes.

Esse movimento de conspiração, denominado Inconfidência Mineira, nascido por influência do Iluminismo do século 18 e dos liberais franceses, não se limitava apenas aos protestos de revolta contra os altos impostos cobrados pela Coroa Portuguesa. Em suas almas anticolonialistas, havia o sonho da Independência do Brasil em adesão à Revolução Francesa.

Tiradentes foi preso em 1789, justamente no ano da deflagração da revolta francesa e quando, praticamente, nascia a Maçonaria no Brasil. Tiradentes usava como desculpa para ir ao Rio de Janeiro, fazer um plano de “puxar água potável” para Vila Rica. É certo que Tiradentes esteve na França, onde se encontrou com o norte americano Thomas Jefferson, pedindo ajuda para a Independência do Brasil.

A bandeira dos Inconfidentes tinha como base um triângulo, que é o símbolo da Maçonaria Universal. A cor vermelha deste triângulo se deve a adoção da Maçonaria Francesa que era de tendência republicana, enquanto que a Maçonaria Inglesa tinha tendência à Monarquista e tinha como símbolo a cor azul. O enforcamento de Tiradentes ocorreu em 1792 no Rio de Janeiro, só que isso foi tramado pelos inconfidentes com a rainha Dona Maria I, os quais seriam exilados em Portugal e na África e que a culpa seria somente de Tiradentes.

A armação foi articulada para que Tiradentes fosse substituído por um ator italiano de circo, Renzo Orsini, também condenado à morte, que foi enforcado no lugar de Tiradentes, conta-nos os historiadores Assis Brasil (1857-1938) e Machado de Assis… Pensemos nisso! Por hoje é só.