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Reconhecer aptidão é o maior obstáculo

08/04/2018

Entre as falhas apontadas pelo estudo encomendado pelo Ministério da Educação (MEC) está a confusão no reconhecimento de uma criança com altas habilidades. O relatório aponta que há “ausência de técnicas mais modernas para identificação” desses estudantes, fazendo com que pessoas com superdotação sejam confundidas com outros diagnósticos, como déficit de atenção, hiperatividade, transtorno desafiador opositor, entre outros.

Segundo o documento, há “descrédito dos professores na superdotação apresentada pelos alunos”, por causa do despreparo dos profissionais das escolas regulares para lidar com a área, bem como falta de prioridade nos municípios.

O relatório estabelece 12 principais problemas no atendimento oferecido pelos serviços públicos de altas habilidades no Brasil. Entre eles estão a falta de material didático-pedagógico adequado e a ausência de equipamentos e de recursos tecnológicos, além de poucos profissionais capacitados. Há até dificuldade em locomover os alunos para essas salas de recursos, o que seria motivo para eles não participarem de atividades.

Estudo. O despreparo para descobrir e tratar os alunos adequadamente foi analisado pela professora Vera Lúcia Capellini, do Departamento de Educação da Unesp em Bauru. A especialista investigou, a partir de 2003, se as escolas de educação básica do município atendiam alunos com superdotação. “Descobri que não havia nenhuma identificação nem atendimento.” Dez anos depois, em 2013, a pesquisa se repetiu. A situação continuava igual.

Foi aí que a Unesp, em parceria com a Secretaria Municipal de Educação e o governo do Estado, deu início a um projeto-piloto de identificação e atendimento a esses estudantes. A professora analisou um colégio de periferia com 289 alunos e, entre eles, 11 foram identificados com altas habilidades, por meio de uma avaliação multimodal, que utiliza diferentes instrumentos pedagógicos e psicológicos.

O resultado – 3,8% do total – indicou proximidade dos 5% de superdotados apontados pela Organização Mundial da Saúde em qualquer população. “Comprovamos que qualquer escola, mesmo na periferia, pode ter esses alunos”, diz Capellini. A especialista quer tentar expandir as avaliações para todas as escolas do município nos próximos anos.

Como ainda não foi possível ampliar o atendimento, os pesquisadores decidiram dar início a um projeto de extensão universitária atendendo à demanda espontânea. Se um pai desconfia que o filho possa ter altas habilidades, pode solicitar os testes na instituição. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Autor: Luiz Fernando Toledo
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