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Não dá mais para adiar a reforma da Previdência, diz Barroso

10/04/2018

Para Luís Roberto Barroso, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), “não dá mais para adiar a reforma da Previdência”. Em sua opinião, o debate não deve ser ideológico ou filosófico, porque a Previdência custa mais de 50% do orçamento público, mais do que o somatório de todos os programas sociais de governo.

“O ideal era que ela tivesse sido feita para que o próximo governo não gastasse tempo com isso”, afirmou Barroso, em palestra no 7º Encontro de Resseguro do Rio de Janeiro.

O ministro ainda destacou a necessidade de o País implementar a reforma Tributária e complementou que o Brasil precisa desenvolver uma agenda social.

“Precisamos de menos Estado e mais iniciativa privada, isso contribui para a corrupção. O Estado é um gestor ineficiente de recurso público. Mas também precisamos convencer a iniciativa privada a viver num Estado capitalista. A presença do Estado dificultou o surgimento de uma mentalidade ousada”, disse ele.

Para Barroso, o modelo econômico brasileiro é de financiamento público, de reserva de mercado e desoneração. “Isso é socialismo para ricos. Temos que substituir ideias obsoletas, dogmáticas por ideias progressistas. Precisamos saber o que produz melhor resultado para as pessoas”, complementou.

Modelo de negócios

O ministro do STF também criticou o modelo de política e de negócios ainda em vigor no Brasil, em que a corrupção prevalece com nomeações políticas, desvios de dinheiro público e licitações fraudulentas. “O modo de fazer política e negócios no Brasil é estarrecedor”, destacou ele.

Barroso afirmou que, apesar disso, o modelo de nomeações de políticos para empresas estatais e órgãos públicos e toda a cadeia de corrupção que vem na sequência prevalece no ambiente de negócios no Brasil. Para ele, esse é o modelo ‘padrão’ de se fazer política e negócios no País. “Esse é o paradigma que podemos romper. Ainda não foi rompido. As coisas ainda funcionam largamente assim”, alertou o ministro.

Para ele, é preciso criar no Brasil uma cultura de ‘não aceitação do inaceitável’ e de ‘praticar padrões éticos normais’. Barroso disse que é contra o moralismo e ‘vingadores mascarados’, mas que não é possível imaginar que o modelo de política e de negócios em que a corrupção prevalece permite a criação de um grande país.

“O momento brasileiro é de enfrentamento da corrupção e a chance que nós temos de parar de varrer essa sujeira para debaixo do tapete. A sociedade já parou de varrer. Já estamos conseguindo separar o joio do trigo. O problema é a quantidade de gente que ainda prefere o joio. Somente uma mobilização da sociedade nos ajudará a virar essa página”, avaliou ele.

Custo alto

O ministro do STF afirmou que a corrupção tem custo alto país e que do lado financeiro corresponde a 2,3% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro num total de R$ 100 bilhões, segundo a Fiesp. Além do custo financeiro, conforme ele, há também um custo social, que é o dinheiro da corrupção e as más práticas que dificultam o avanço na educação, saúde e melhoria dos transportes.

Concluiu dizendo que é possível um país criar um ambiente de integridade do bem, da boa fé. “Tenho dito e gosto de dizer isso: uma democracia comporta projetos liberais e conservadores. Tem lugar para todo mundo. Só não podemos ter projetos desonestos. Integridade não é ideologia. Vem antes”, finalizou.

Autor: Aline Bronzati, enviada especial, e Fernanda Nunes
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