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Indiferença à festa da Mãe de Deus

20/12/2017
Indiferença à festa da Mãe de Deus

A devoção à Virgem Maria atravessa um longo tempo de contrastes e perseguições. Sua Festa inicialmente celebrada em 21 de Novembro do ano de 543 (século 5), com a construção de uma Igreja em Honra à Maria “Mãe de Deus”, nas proximidades de Jerusalém não foi suficiente para manter acesa a tradição em sua memória até os dias de hoje.

Quatro séculos se passaram então para se iniciar a celebração da Festa de Maria “Mãe de Deus” pelo mundo oriental, por uma atitude corajosa dos Mosteiros Beneditinos da Itália meridional. Depois, no século 11, a Grã-Bretanha introdução à comemoração na Europa. E no mundo ocidental somente por volta de 1371 (século 14), o papa Gregório XI permitiu primeiramente na Igreja dos Franciscanos, em Avinhão (residência papal) e depois inseriu a Festividade à Maria no calendário da Cúria Romana. Mas, em 1472 (século 15) o papa Sisto IV estendeu a comemoração a toda a Igreja Ocidental, adotando-a de forma oficial. Contudo, no ano de 1568 (século XVI), a Festa à Maria foi retirada do Calendário Romano da Igreja Católica, por ordem do papa Pio V, em razão da discussão de que se tratava de uma festa de origem apócrifa (festividade nascida do povo).

Mas, depois de 17 anos, durante o papado de Sisto V, em 1585, foi reinscrita a comemoração no calendário romano, com a prescrição de que usasse para ela o formulário litúrgico da “Natividade de Maria” (em 8 de setembro), tendo sido elevada a festa para o rito duplo por decisão do papa Clemente VIII, em 1602 (século 17). Todavia, as incertezas decorrentes da falta da compreensão bíblica, levaram alguns papas a suprimir a festividade de Nossa Senhora a partir do século 17. Até que, no século 19, exatamente no dia 8 de dezembro de 1854, o papa Pio IX decide pela proclamação do Dogma (Verdade de Fé) da Nossa Senhora da Imaculada Conceição. E somente depois da realização do Concílio Vaticano II (1962-1965) ficou definitivamente decidido à conservação da Apresentação da Virgem Maria, retirando-se a palavra “no templo” com o grau de Festa, para se introduzir a expressão de Memória.

Porém, por outro lado, ao fazer o seu comentário sobre o Magnificat de Maria, Martinho Lutero chegou a afirmar, em certa altura, que se a Mãe de Jesus houvesse dito que a “sua alma engrandeceria a si mesma”, com certeza após a sua morte, sua alma “teria caído no inferno com Lúcifer (cf. Isaías 14, 12)”. Mas, Maria engrandece exclusivamente a Deus e atribui tudo de si somente a ele. Ela acreditou que Deus realizou em seu corpo e em sua alma uma grande obra. Mas ela não se considerou maior do que a pessoa mais humildade da terra. Maria teve este pensamento: se outra jovem tivesse sido beneficiada por Deus, ela também desejaria alegrar-se e querer tudo de bom para essa jovem. Maria foi um saudável albergue e uma serviçal anfitriã de Jesus. Por isso ficou com tudo para sempre” (…) “Maria é a mulher mais elevada e a pedra preciosa mais nobre no Cristianismo depois de Cristo… Ela é a nobreza, a sabedoria e a santidade personificadas. Nós não poderemos jamais honrá-la o bastante. Contudo, a honra e os louvores devem ser dados de tal forma que não ferem a Cristo nem às Escrituras.” (cf. Lutero no Sermão na Festa da Visitação, em 1537).

Essa visão crítica do alemão e ex-monge agostiniano Martinho Lutero (1483- 1546), o Pai da Reforma, sobre Maria Santíssima fez com que os principais líderes Protestantes como o suíço Ulrico Zwinglio (1484-1531), o francês João Calvino (1509-1564) e o britânico John Wesley (1703-1791) tivessem o mesmo entendimento. Os notáveis protestantes professavam a fé em sua virgindade perpétua e chamavam-na de “Mãe de Deus”. Foi assim que João Calvino, o Pai do Calvinismo, reconheceu a glória da Virgem Maria: “Não podemos reconhecer as bênçãos que nos trouxe Jesus, sem reconhecer ao mesmo tempo quão imensamente Deus honrou e enriqueceu Maria, ao escolhê-la para Mãe de Deus.” (cf. João Calvino, Comm. Sur l ‟Harm. Evang.”, 20). Também Ulrico Zwinglio não foi voz discordante ao afirmar que “Estimo grandemente a Mãe de Deus, a virgem Maria perpetuamente casta e imaculada.” (…) “Firmemente creio, segundo as palavras do Evangelho, que Maria, como virgem pura, nos gerou o Filho de Deus e que, tanto no parto quanto após o parto, permaneceu virgem pura e íntegra.” (in Corpus Reformatorum: Zwingli Opera 2,189).

Ora, a deturpação protestante da figura de Nossa Senhora, bem como a negação da devida honra que devemos prestar a ela só aconteceram anos depois por iniciativa de outras igrejas protestantes, após conhecer da insegurança da devoção por membros da Igreja Católica, infelizmente. Pensemos nisso! Por hoje é só.