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A cura interior pelo riso

02/08/2017
A cura interior pelo riso

Em passado remoto, o “riso” era considerado uma manifestação “diabólica”, supondo-se que o Diabo usava da “gargalhada” quando se apossava de uma alma. Os antigos religiosos diziam que o céu era um lugar de seriedade e de silêncio, enquanto que o inferno era um lugar de riso e de dor. Aristóteles, gênio dos filósofos, disse que o riso é algo próprio do ser humano.

Ele observou que alguns animais antropoides (chimpanzés, gorilas e orangotangos) abrem suas bocas, expõe seus dentes, retraem os cantos da boca, e emitem vocalizações altas e repetitivas, não como o “riso dos humanos”. Pelo contrário, são apenas “sons” parecidos com “guinchos” ou “granidos”, com certas posturas corporais. Mas, isso não é “riso humano” que libera endorfinas para o cérebro, combatendo a dor; que aceleram as glândulas salivares e lacrimais; que fortalece o coração, estimulando funções cardiovasculares e dilatando artérias, evitando “aneurismas”; que enchem os pulmões de ar, provocando a sensação de bem estar; que contraem os músculos abdominais, relaxando a vesícula; que fortalece o sistema imunológico, evitando as doenças; que comprimem os músculos das pernas e agitam os pés, como que sugerindo “asas” para voar. Não é esse o “riso” dos antropoides, que apenas “gargalham” ou “murmuram”, usando de “gestos”, “granidos” ou “posturas” para chamar a atenção dos animais da mesma espécie (com certo “ar” de exibicionismo). Semelhantes as “esses animais” são alguns “homens públicos” (por nós conhecidos e que vivem no meio de nós), que “gargalham” nos logradouros públicos, com o fim de imitir “sons” para irritar os adversários ou tentar convencer seus “asseclas” e aliados que são pessoas livres e felizes. Meras “caricaturas”! Esses “animais domésticos”, inseridos na vida pública, como já dizia o professor mineiro Alberto Deodato, não sabem rir, apenas “imitam” ou “copiam” outros animais “irracionais”.
Por enquanto, estou apenas me referindo ao “riso natural do ser humano”.

Esse riso espontâneo, gracioso, generoso, ingênuo ou infantil, que não causa dano aos outros. Estou me referindo ao riso dos amigos; ao riso dos amantes; ao riso pais dedicados e dos filhos amorosos; ao riso das pessoais puras e sinceras; o riso que demonstra o gosto pela vida; o riso que encanta e embala emoções; o riso solto, sem cinismo, sem gozação, sem maldade, que não morde a gengiva, nem envenena os corações alheios. Também, não pretendo aqui, descrever o riso arrepiado; o riso falso ou arrependido: o riso amargo ou melancólico, ou, ainda, o riso decepcionado ou frustrado. Esses “risos”, porém, precisam de tratamento psicológico, de terapia específica, para serem “curados” e, depois, exibidos.

Ora, se na Grécia antiga, Platão descrevia o riso como “um prazer associado à dor, ligado muito frequentemente à zombaria”; se, na época Romana, o riso tinha uma caráter negativo, segundo disse Túlio Cícero; por sua vez, na Renascença, o riso passou a ser valorizado, enobrecido, exaltado. François Rabelais, frade franciscano, atribuiu-lhe um valor terapêutico. O filósofo francês René Descartes considerou o riso como uma das principais expressões de alegria. Enquanto isso, Baruch Spinoza lhe atribuía uma função mística e nele via uma extensão de nossa natureza divina. De fato, o riso “cínico”, “debochado” e “irritante”, por seu turno, representa a extensão da natureza “diabólica” do homem.

Nesse aspecto, há de se reconhecer que hoje, o riso “natural e franco” mantém uma boa reputação, pois são reconhecidos nele benefícios para si e para os outros, tanto no plano físico, como no plano psicológico. Pierre-Augustin C. Beaumarchais dizia que: “Eu me faço a rir de tudo, por medo de ser obrigado a chorar”. E Theodor Haeeker confirmava “a alegria e o humor formam o ambiente mais nobre da humanidade”. Mas, sem fazer disso uma “panaceia”, pode-se dizer que o riso “livre e solto”, faz bem ao corpo e a mente daquele que ri. Não há nada melhor que uma “boa gargalhada”, sem ironia, sem deboche, sem desprezo aos outros. E, sem exagero, dizia São Francisco de Assis: “Um santo triste é um triste santo”. Pensemos nisso! Por hoje é só.