Cidades

Secretário será processado por 2.200 servidores da Educação de Arapiraca

29/07/2017
Secretário será processado por 2.200 servidores da Educação de Arapiraca

As declarações ofensivas do secretário de Planejamento, Orçamento e Gestão de Arapiraca, Antonio Lenine Pereira Filho, contra os servidores municipais da Educação, em greve há 82 dias, resultarão em milhares de ações contra ele na Justiça. A conhecida falta de habilidade política e de gestão do empresário, como é de conhecimento de quem atua nos bastidores do Município há muito tempo, tem contribuído diretamente para a manutenção da paralisação.

Em tom de voz agressivo, comum a ele, o empresário concedeu entrevista ao radialista Ailton Avlis na manhã da última segunda-feira (24). Na ocasião, ele afirmou que “facções” atuam nos bastidores de sindicatos, o que incluiu também o Sindicato dos Trabalhadores da Educação de Alagoas (Sinteal). “Há suspeita de que existem facções querendo tomar o poder [nos sindicatos]”, frisou Lenine.

E ele prosseguiu com seu ataque a servidores públicos que reivindicam seus direitos, negados friamente pela atual gestão municipal, que tem à frente um professor e proprietário de escola. “15, 20 baderneiros se posicionaram [nos portões] dando todo um prejuízo ao município, evitando que servidores entrem para seu dia de trabalho normal”, atacou.

O secretário esqueceu que os portões do Centro Administrativo foram fechados com cadeados e a Polícia Militar acionada por decisão dele próprio, em orientação ao prefeito Rogério Teófilo (PSDB), segundo informações colhidas junto a uma fonte da atual gestão, que não terá a identidade divulgada. Ainda durante a entrevista, o secretário atribuiu ao prefeito um suposto “temor” por algum tipo de vandalismo partindo justamente de quem estuda para educar, para formar cidadãos.

Antonio Lenine, em seu destempero e inabilidade política, também disse que “talvez seja isso que quem não costuma trabalhar esteja querendo”, ao se remeter a um suposto confronto que estaria sendo planejado pelo comando de greve, o que nunca foi tratado ou deliberado durante as assembleias da categoria.

A reação da categoria às declarações lamentáveis do secretário municipal, em greve ou não, foi imediata. Uma professora que não quis se identificar e que não pode aderir à paralisação, mas apoia o movimento afirmou que “foi muito doloroso ouvir esse homem me chamando de criminosa. Enquanto eu estava com livro na mão levando saber aos meus alunos, ser comparada com bandido, traficante, com gente ruim. Espero que ele pense muito bem no que ele vai dizer das próximas vezes”, desabafou.

E ela prosseguiu. “É um desrespeito com qualquer categoria. É muito forte o que ele falou. Já levamos nomes de vagabundos, desocupados, mas de facção… Considero imperdoável. Não espero mais nada de bom”, falou a professora.

Outra professora que também optou pelo anonimato temendo futuras perseguições da gestão municipal, destacou que o secretário “não tem habilidade, competência ou conhecimento para ocupar qualquer cargo público. É nisso que dá os conchavos políticos. Esse homem não deve saber nem administrar a empresa dele. Muito me admira o nosso prefeito ouvir esse senhor para alguma coisa. Não sei o que pensar do futuro da nossa cidade”, afirmou a educadora.

Já a professora Josi Pereira, que trabalha na Creche Sebastiana Bezerra, localizada no bairro Mangabeira, não teme prováveis perseguições. “Nós conhecemos a verdade. Temos que mostrar à sociedade que ele é o mentiroso. Ele colocou os cadeados [nos portões do Centro Administrativo]. Resistimos até agora e precisamos resistir ainda mais. Você tira o meu dinheiro e nós tiramos o seu sossego”, desafiou.

As respostas da categoria

O presidente do Núcleo Regional de Arapiraca do Sinteal, André Luís da Silva, disse que, a exemplo da categoria, também repudia a atitude do secretário de Planejamento, Orçamento e Gestão de Arapiraca. “Ele não tem conhecimento do que é facção e muito menos do que é educação, do que é ser educador. Temos divergências, sim, no sindicato, mas a nossa luta está unida. Isso é normal em todas as classes. Divergências devem existir, afinal somos professores e temos o direito de divergir entre nós”.

As palavras do presidente do Núcleo Regional de Arapiraca do Sinteal, André Luís da Silva, reforçam o sentimento de indignação e repúdio que toma conta dos servidores do município e da população que conheceu um pouco mais do temperamento do secretário de Planejamento, Orçamento e Gestão de Arapiraca, Lenine Pereira, alguém que até poucos dias, sequer existia para a cidade, mas age como quer nos bastidores da política local e também pelos corredores do Centro Administrativo.

O dirigente sindical antecipou que uma cópia da gravação já foi entregue aos advogados do Sinteal que também irá processar o secretário, já que os servidores da Educação já decidiram que irão, de forma individual, processar Lenine Pereira nas esferas cível e criminal. “Se bem que é de esperar esse tipo de secretário que não respeita servidor público e nem entende o que é uma greve numa gestão que tem um ex-secretário estadual de Educação que já mandou servidores tomarem naquele lugar também em reivindicações justas”, lembrou André Luís.

Bolo de aniversário

Durante assembleia realizada na manhã de ontem, os servidores aprovaram a continuidade da greve, mesmo com a campanha da Prefeitura disseminada em redes sociais e grupos de troca de mensagens informando que a paralisação acabou. Iniciativa que foi alvo de diversas críticas dos servidores durante seus pronunciamentos.

Entre as propostas, uma foi unânime. Aos 90 dias de greve, os servidores irão ao Centro Administrativo com um bolo de aniversário, em homenagem ao prefeito Rogério Teófilo e ao secretário de Planejamento, Orçamento e Gestão. “Iremos cantar parabéns. Eles merecem essa homenagem”, salientou André Luís.

O dirigente sindical informou que o Sinteal já entrou com uma ação no Fórum de Arapiraca para que a “Justiça comum determine o aumento. Ele não teria a obrigação de dar o reajuste se a gente ganhasse a mais do que o piso, o que desde janeiro não acontece. Nenhum prefeito foi preso no Brasil por ter dado aumento a servidor. Isso ele sabe”, explicou.

Por fim, durante entrevista, o presidente do Núcleo Regional Arapiraca do Sinteal explicou que o ano letivo 2017 não está perdido, como pessoas andam espalhando. “Se a gente retornar em agosto, por exemplo, seguiremos até junho. Em julho iniciaremos o ano letivo 2018. Nada está perdido, a começar pela nossa luta”, finalizou André Luís.

Na próxima terça-feira, dia 1º, os servidores irão em caravana até o Tribunal de Justiça de Alagoas, em Maceió, com a finalidade de cobrar um posicionamento a respeito da legalidade da greve, condição dada como certa, e também para mostrar os contracheques que novamente terão descontos pelos dias de paralisação durante o mês de julho.