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O que é o DUP, partido irlandês que deve garantir continuidade de Theresa May como premiê

09/06/2017
O que é o DUP, partido irlandês que deve garantir continuidade de Theresa May como premiê

Sem maioria parlamentar, o Partido Conservador do Reino Unido, liderado pela primeira-ministra do país, Theresa May, encontrou uma forma de continuar no poder.

Indicou que formará um governo de minoria com o apoio do Partido Democrático Unionista (DUP, na sigla em inglês), uma legenda da Irlanda do Norte até então desconhecida no espectro político mundial.

Com praticamente todas as urnas apuradas, os conservadores conquistaram 318 assentos no Parlamento, seguidos dos trabalhistas, com 261. Já o DUP, dez.

Eram necessários 326 assentos para que os Conservadores tivessem maioria, ou seja, mais representantes do que todos os dos outros partidos somados.

Como isso não foi possível, May viu-se obrigada a costurar um acordo com o DUP.

Mas o opositor Jeremy Corbyn, líder do Partido Trabalhista, pediu a renúncia da rival.

 

O que é o DUP?

 

O Partido Democrático Unionista é o maior partido da Irlanda do Norte e a sigla com mais representantes no Parlamento local (28). Além disso, tem uma grande base de apoio entre os protestantes irlandeses.

De maneira geral, na Irlanda do Norte a coloração política segue linhas religiosas: os protestantes defendem a permanência dentro do país no Reino Unido, enquanto os católicos buscam a independência e a reintegração das duas Irlandas.

No passado, o DUP foi muito criticado por seus vínculos com grupos paramilitares violentos leais à Coroa britânica – e inimigos do IRA (Exército Republicano Irlandês).

Mas o partido nunca apoiou os conservadores da mesma forma que um de seus rivais na Irlanda do Norte, o Partido Unionista do Ulster.

O DUP chegou, inclusive, a se opor ao Acordo de Belfast, que pôs fim à violência na Irlanda do Norte.

Mas se, no passado, o partido não estava na esfera de influência dos conservadores, agora ganhou importância política.

Desde 2007, o DUP divide o poder na Irlanda do Norte com o Sinn Féin, por muitos anos considerado o braço político do IRA e que apoia a reintegração das duas Irlandas.

Na ocasião, o aperto de mãos entre o líder do DUP, o reverendo Ian Paisley, e o dirigente do Sinn Féin, Martin McGuiness, ambos falecidos, foi considerado um marco no processo de paz da Irlanda do Norte.

Mas o momento também representou uma mudança na direção do DUP, que passou a ser um partido de governo na Irlanda do Norte, abdicou de seu passado violento e se tornou uma opção política mais palatável nas urnas.

 

Pontos espinhosos

 

O DUP foi favorável à saída do Reino Unido da União Europeia, o Brexit, no plebiscito realizado no ano passado.

Neste sentido, seria, à primeira vista, um aliado potencial do Partido Conservador.

Por outro lado, o DUP reforçou não querer mudanças na situação de fronteira entre a Irlanda do Norte e a Irlanda.

A Irlanda faz parte da União Europeia.

Esse é um dos pontos mais espinhosos da negociação entre Reino Unido e UE para um novo acordo pós-Brexit. Em seu plano de governo, o DUP diz querer uma fronteira com a Irlanda “fluída e sem fricções”.

Outra demanda do DUP é que o governo britânico compense integralmente os fundos que a Irlanda do Norte vai perder com a saída do Reino Unido da União Europeia.

A Irlanda do Norte esperava receber mais de US$ 400 milhões (R$ 1,3 bilhão) por meio da chamada Política Agrícola Comum da União Europeia e outros US$ 500 milhões (R$ 1,5 bilhão) referentes a demais pactos.

Analistas acreditam que como os conservadores vão depender do apoio dos unionistas para aprovar votações importantes, provavelmente terão de fazer concessões.

Neste sentido, o ex-ministro de Finanças do Reino Unido George Osborne zombou do novo pacto entre os partidos dizendo que “vamos ver muitas estradas, escolas e hospitais novos na Irlanda do Norte”.

Outras concessões se referem possivelmente à redução de alguns tributos.

Fora o Brexit, o DUP também defende a proibição ao casamento entre pessoas do mesmo sexo e o aborto. O aborto é considerado ilegal na Irlanda do Norte, exceto em casos médicos específicos.

Ainda que o ceticismo quanto ao aquecimento global não faça parte de suas diretrizes oficiais, o partido indicou um negacionista como ministro do Meio Ambiente no país.

Além disso, também tem uma série de adeptos do criacionismo [a crença religiosa de que a humanidade, a vida, a Terra e o universo são criação de um agente sobrenatural] entre seus integrantes.