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In Menoriam

28/01/2017
In Menoriam

O competente psiquiatra Emerson Loureiro, natural da velha Viçosa, terra dos inesquecíveis médicos José Maria de Melo, ex-presidente da Academia Alagoana de Letras, José Pimentel, Theo Brandão, fez chegar às minhas mãos o último livro de seu saudoso genitor – Macário Loureiro – intitulado Coletânea Poética II, prefaciado pela minha singularíssima pessoa. Por essas razões, sinto-me honrado poder fazer modesto comentário da obra, bem como do autor que faleceu no dia 22 de outubro de 2016 no alto de seus noventa e seis anos de profícua existência.

Diga-se, de passagem, privei da fidalga amizade de Macário Loureiro e, por isso, compartilhei de sua trajetória literária e, ao mesmo tempo, convivi com sua honrada família quer na “ Antenas de Alagoas”, quer nos sodalícios que integrava com muita propriedade. Aliás, como viçosense de sete costados, versejava com sua poesia metricamente feita com sua verve de poeta nato.
SCRIPTOR FIT, POETA NASCITUR. Segundo a retórica latina: o escritor se faz, o poeta nasce. Nesse sentido, sou obrigado a plagiar o poetinha Vinícius de Morais: “ Com as lágrimas do tempo/ E a cal do meu dia/ Eu fiz o cimento/ Da minha poesia”.

Não sou poeta/ Não faço verso nem rima, / Sou apenas um mortal/ Cumprindo a própria sina. Declamei esse modesto verso na residência do vate quando completara noventa anos. Lá, estava uma plêiade de amigos do vate da estirpe do declamador Jader Tenório, atual secretário de Cultura do berço do Menestrel das Alagoas.

Na qualidade de ex-combatente da Força Expedicionária Brasileira (FEB), lutou na Itália defendendo o Eixo contra o ditador Hitler. E, sendo assim, representou o Brasil à altura de sua grandeza. Fez valer sua coragem cívica ao lado dos companheiros brasileiros e dos amigos italianos que massacraram os instintos animalescos do traidor da Humanidade.

Terminada a Segunda Guerra Mundial ( 1939/1945), Macário Loureiro voltou à terrinha que o viu nascer. Deu, portanto, prosseguimento à sua verve poética fazendo poemas imorredouros. E, por essas razões, escreveu três livros que o imortalizaram durante sua bem vivida existência ao lado de seus dignos descendentes. Inclusive, o filho querido – Emerson Loureiro – que, nos últimos dias de sua estada no mundo terráqueo, prestou-lhe assistência médica, cobrindo-lhe de carinho como retribuição a tudo que fez por ele e seus irmãos.

Coletânea Poética II, por sua vez, tem o estilo de um fazedor de versos que deixou marcas indeléveis que a poeira do tempo não conseguirá apagar. Torna-se, portanto, imperativo inserir nesta modesta crônica alguns poemas merecedores de reprodução pela densidade cultural que ostentava o poeta que presto homenagem mil (IN MEMORIAM) pela grandeza de seu caráter, e, principalmente, pelo seu patriotismo exacerbado.

“ A Cobra Fumando” retrata a batalha que teve a honra de defender as cores do Brasil. “ Eu vi a terra tremer,/ Eu vi o mundo se acabando,/ Eu vi a morte de perto,/ Eu vi a cobra fumando./ Foram cinco contingentes, / De soldados do Brasil,/ Que somados todos juntos/ Mais de vinte e cinco mil./ Muitos ficaram na Itália,/ No cemitério de Pistoia,/ Não voltando pra casa,/ Para contar a história./ Foi uma guerra terrível,/ Sem igual nem precedentes,/ Morreram pra muito mais,/ De cem milhões de viventes./ Salve o nosso comandante!/ Salve os nossos Generais,/ Salve o grande brasileiro,/ Mascarenhas de Morais”.

Por outro lado, no poema – Monte Castelo – fez valer sua rima que lhe era peculiar, ou seja, fazer poesia com amor d ‘alma e, consequentemente, foi fiel o que viu,o que presenciou e, sobretudo, vivenciado pela sua privilegiada memória a serviço deste país grande no tamanho territorial, e, porque não dizer, vilipendiado pelos políticos malfeitores de hoje que povoam Brasília, criada /idealizada pelo saudoso JK.

“ Novecentos e setenta e sete metros, / A altitude do Monte Castelo,/ Era o castelo da morte,/ Pois nada tinha de belo./ A cidade maldita, / Por todos nós conhecida,/ Não é possível esquecê-la,/ Durante toda a nossa vida./ Perdemos muitos companheiros,/ Naquele morro infernal, / Mas, após três meses de luta,/ Tivemos a vitória final./ Naquele morro sangrento,/ No verão ou no inverno,/ Defendido pelos fanáticos alemães, /Era um verdadeiro inferno”.

Por último, no livro estão inseridas crônicas que retratam o passado não munto remoto. Dentre elas, destaco: Pena de morte, Supersalários, Governo e Economia, Reforma Agrária, Democracia ou anarquia (é o que está acontecendo nos dias atuais), Os marajás e o povo ( cujo ex-governador Fernando Collor de Mello prometeu acabar), Atenas de Alagoas ( uma homenagem à terra de renomados escritores), e, finalmente, Por que a guerra ? É meu Caro Amigo Macário Loureiro, descanse em paz. Organização: Francis Lawrence.