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Eu creio que sou cristão ortodoxo

28/12/2016
Eu creio que sou cristão ortodoxo

Certa vez, em diálogo com Monsenhor José Araújo Silva, filósofo, pároco emérito, professor de português, articulista deste Semanário, ouvi dos lábios deste sacerdote de que meus escritos sobre religião demonstram que sou “Ortodoxo”. Não me causou nenhum impacto tal opinião.

Também não iniciei qualquer discussão porque não havia clima para isso. Afinal, esse encontro ocorreu após a Celebração da Santa Missa, enquanto o Templo já estava vazio, necessitando da minha retirada em respeito ao horário e à idade avançada do meu interlocutor.

Mas, o que é ser “ortodoxo”?  Essa expressão vem da Língua Grega (orthodoxos) – “é aquele que tem a opinião certa”; de ortodoxia (ortho) – “reto, verdadeiro, correto” + “Doxa” – “opinião, elogio”; de “Dokein” – “aparentar, parecer”.

Ortodoxo é um indivíduo que age ou pensa conforme a “ortodoxia” (não confundir com os adeptos da Igreja Católica Ortodoxa). Ser um Cristão Ortodoxo é seguir a “verdadeira” doutrina de Jesus Cristo, segundo seus Evangelhos. Ser Cristão Ortodoxo não é vestir somente terno ou roupa social; não andar de bermuda; não falar gírias; não assistir televisão; ouvir ou cantar determinados hinos; não beber vinho em demasia; nunca comer carne vermelha; nunca discutir sobre rituais; nunca comentar sobre política, família e religião, entre outros comportamentos sociais.

Também não é pela linguagem que se usa ou pelo modo legalista de defender suas idéias que possa identificar um Cristão Ortodoxo. Ser Ortodoxo, independente do aspecto físico ou social, é praticar a bondade; é ser coerente com suas convicções; é tolerar as opiniões divergentes; é cultivar a Justiça. Aliás, falando em nome de Deus, o discípulo São Paulo afirmou: “Abstende-vos de toda a aparência do mal”. Afinal, a palavra “aparência” no texto bíblico grego tem o sentido de “essência”.

 Muito cedo, lembro-me que li textos do livro “Confissões” de Santo Agostinho (354-430) que resumiu sua existência na seguinte sentença: “Senhor, criaste-nos para Ti e o nosso coração vive inquieto enquanto não repousar em Ti” (Confissões 1,1). A partir daquele dia acreditei que minha alma foi feita para o infinito, pois meus prazeres humanos não me satisfazem totalmente. Pelo contrário, estou sempre necessitando de novas revelações e buscando as coisas que vem do alto; refletindo sempre sobre o meu papel no mundo e entre meus semelhantes. Por que vivo? Por que tenho de morrer? De onde venho e para onde vou? O que faço para não ser inútil?

Ora, por influência de Santo Agostinho, compreendi melhor a vida: “Ter fé é acreditar nas coisas que você não vê; a recompensa por essa fé é ver aquilo em que você acredita”. Em sua análise, Santo Agostinho aconselha: “Se você acredita no que lhe agrada nos Evangelhos e rejeita o que não gosta, não é nos Evangelhos que você crê, mas em você”.

Nesse contexto, aprendi que com a verdade e a beleza, com a liberdade e a voz da consciência e com a ânsia de infinito e de sentido do bem moral, o homem sempre estará questionando sobre a existência de Deus em sua vida e recebendo sinais da sua misericórdia e compaixão. Confesso que leio o Antigo Testamento como leitura primária da Bíblia Cristã para justificar a onipresença do Divino Jesus Cristo nesta terra e entre os seres humanos iluminados. Mas, como cristão, creio que Jesus de Nazaré, como filho de Deus feito homem, é a “palavra única”, perfeita e insuperável do Pai Eterno.

Em Jesus Cristo, Deus disse tudo o que havia de ser dito, inclusive alterou o temor dos profetas que viveram neste mundo antes do “Mestre da Galiléia” falando em nome de Deus, durante a longa história da Humanidade. Creio que não haverá outra palavra sobre Deus e Sua magnífica obra, senão àquela difundida por Jesus Cristo e seus apóstolos nos Evangelhos.

Com efeito, minha linha de conduta e de pensamento segue “rigorosamente” (ortodoxamente) os quatro (4) Evangelhos, escritos por São Mateus, São Marcos, São Lucas São João. Os demais textos escritos do Novo Testamento são leituras complementares, adicionais, mas nem sempre receptivas, se não estiverem em perfeita harmonia e sintonia com as “palavras” de Jesus de Nazaré.

Nos “Atos dos Apóstolos”, texto escrito por São Lucas, também acato os ensinamentos dos apóstolos, mas sempre em conta com as “palavras” do Mestre dos Mestres, Jesus Cristo, nos Evangelhos transcritos. Assim, de um modo geral, fico à vontade para reconhecer a verdade expressa pelo Monsenhor José Araújo Silva à cerca da minha personalidade.  Realmente, sou cristão ortodoxo, porque não me deixo influenciar por nenhuma outra palavra contrária àquelas proferidas por Jesus Cristo… Pensemos nisso! Por hoje é só.