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Idosa de 105 anos se torna heroína na Índia por ajudar aldeia a acabar com hábito de defecar a céu aberto

03/11/2016
Idosa de 105 anos se torna heroína na Índia por ajudar aldeia a acabar com hábito de defecar a céu aberto

Na terça-feira (2), Dhamtari se tornou o primeiro de distrito do Estado indiano de Chhattisgarh a se livrar oficialmente da defecação a céu aberto – um hábito comum entre pelo menos 550 milhões de habitantes do país.

Tudo graças a Kunwar Bai Yadav, uma idosa que diz ter 105 anos e que ficou famosa por ter vendido seus pertences – alguns bodes – para construir um banheiro comunitário em sua casa, no vilarejo de Kotabharri.

Por sua iniciativa, Kunwar virou uma celebridade e a mascote de uma campanha estadual para acabar com a defecação a céu aberto.

No início do ano, o premiê indiano, Narendra Modi, fez reverências em frente à idosa e tocou seus pés para expressar seu apreço pelo trabalho de Kunwar. Na terça passada, Modi voltou a Dhamtari para declarar o distrito “livre” do hábito.

O banheiro custou cerca de R$ 1.100 para Kunwar  (Foto: BBC)

O banheiro custou cerca de R$ 1.100 para Kunwar (Foto: BBC)

Mas como Dhamtari, que tem 800 mil habitantes, conseguiu mudar de hábitos? Faça a pergunta a qualquer um na região e o nome da senhora Yadav será mencionado.

Há dois anos, o governo indiano lançou uma campanha nacional para acabar com a defecação a céu aberto na Índia até 2 de outubro de 2019 – a data que marca o 150º aniversário do nascimento de Mahatma Gandhi.

Kunbwar encontra Narendra Modi
A campanha foi motivada pelas estatísticas de que quase metade dos 1,25 bilhão de indianos fazem suas necessidades em público por causa da ausência de banheiros – na verdade, estatísticas mostram que indianos têm mais acesso a telefones celulares que a banheiros.

As autoridades pediram que as pessoas construíssem banheiros comunitários e enviou agentes de saúde às áreas mais remotas do país para falar sobre os benefícios da medida.

Foi assim que Kunwar, que por 100 anos usava florestas próximas para defecar, ouviu falar pela primeira vez em toaletes.

“Um funcionário distrital visitou a escola do vilarejo para fazer um discurso e falou sobre a construção de banheiros. Até aquele ponto, eu não sabia o que eram toaletes, mas pensei que a ideia de construir um parecia boa”, explica Yadav.

Kunbwar encontra Narendra Modi  (Foto: Press Trust of India)

Kunbwar encontra Narendra Modi (Foto: Press Trust of India)

A mulher nunca foi à escola e sequer foi registrada – o que não pode comprovar se ela realmente tem 105 anos.

Mas o rosto altamente curtido, a figura curvada e a vista cansada são sinais de que Kunwar viveu muito. Nos últimos anos, ela vinha sofrendo com a caminhada até a floresta. Caiu duas vezes e se machucou.

“Pensei que valia a pena construir um banheiro em casa para me poupar de atribulações”, explica.

“O problema é que não tinha dinheiro, então precisava encontrar como pagar pelo banheiro. Minhas únicas posses eram 20 e poucos bodes”. Kunwar vendeu sete deles pelo equivalente a 900 reais e conseguiu um pouco mais de dinheiro com a nora.

Quatro pedreiros trabalharam por 15 dias para construir o banheiro, ao custo final de cerca R$ 1,100, e o cômodo logo se transformou em uma atração. Em uma questão de semanas, outros começaram a ser construídos e, em apenas um ano, todas as casas no vilarejo tinham um banheiro.

Kunwar vendeu cabras e bodes para levantar fundos  (Foto: BBC)

Kunwar vendeu cabras e bodes para levantar fundos (Foto: BBC)

“Todo mundo falava ‘Somos pobres, como podemos construir um banheiro?’. Mas Kunwar calou todos. Ela é mais pobre que a maioria das pessoas, mas ofereceu uma solução”, explica Johan Singh Yadav, genro da idosa.

Construir um banheiro, porém, não significa que as pessoas automaticamente abandonarão hábitos antigos. Por isso, as autoridades indianas contam com grupos de fiscais que patrulham locais mais populares para a defecação a céu aberto.

Kunwar, que passou a vida inteira na obscuridade e jamais tinha saído de seu vilarejo até ser convidada este ano para conhecer Modi, está tentando se acostumar com a vida de celebridade.

“Por toda a minha vida, saí de casa pela manhã para cuidar das cabras e trabalhar. Tive 12 filhos, mas oito já morreram, bem como meu marido. A pobreza era cruel, lutávamos todo dia contra a fome para sobreviver. Jamais imaginei que um dia fosse ficar famosa”.

Mas essa fama é merecida, segundo C.R. Prasanna, uma espécie de chefe do distrito de Dhamtari.

“Ele inspirou um Estado inteiro. É nossa mascote, nossa garota-propaganda”, diz Prasanna.