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Empregos, deportações e mortes em conflitos: as cifras do governo Obama

18/11/2016
Empregos, deportações e mortes em conflitos: as cifras do governo Obama

Ao fim de oito anos de Barack Obama na Presidência dos Estados Unidos, uma pergunta sobre seu governo começa a ganhar força: como ele entrará na história?

A vitória de Donald Trump nas eleições deste mês coloca o primeiro presidente americano negro da história na posição incômoda de passar o cargo a um sucessor que ameaça acabar com seu legado.

Mas o próprio balanço dos dois mandatos de Obama possui zonas cinzentas em temas como economia, direitos humanos, imigração e saúde, inclusive contrastando com promessas feitas por ele antes de assumir o cargo, em janeiro de 2009.

Abaixo, conheça cifras que dão pistas sobre a marca que Obama deixará em seu país e no mundo.

4,9%
Foi a taxa de desemprego nos EUA em outubro, de acordo com o Escritório de Estatísticas de Trabalho, órgão do governo americano.

O número é menor do que a média mensal de 5,5% que vigora desde 1948 no país.

A taxa também ficou 2,9 pontos percentuais abaixo do nível de janeiro de 2009, quando Obama assumiu, e foi 5,1 pontos menor do que o grau máximo de desemprego em seu governo, alcançado há sete anos.

O número de outubro foi registrado após 73 meses de crescimento contínuo no mercado de trabalho e depois de uma recessão feroz que Obama herdou de George W. Bush.

“Estamos saindo de um poço profundo e, vendo os próprios números, empregos foram criados”, disse Sam Bullard, principal economista do banco de investimentos Wells Fargo Securities em Charlotte, na Carolina do Norte.

“Dito isso, o calibre dos trabalhos agregados não têm o impacto de períodos expansionistas anteriores, já que muitas das vagas criadas são em serviços e de meio período”, disse Bullard à BBC.

10,9 milhões
É o número de postos de trabalho criados nos EUA desde que Obama assumiu o cargo, de acordo com o Escritório de Estatísticas de Trabalho do governo americano.

Antes da eleição de novembro, Obama apresentou o dado como uma conquista de sua administração.

Mas o presidente aumentou a cifra, dizendo que 15 milhões de empregos haviam sido criados. Ele fez isso ao comparar o patamar atual com o ponto mais baixo em relação a trabalho de sua gestão, em fevereiro de 2010, em vez de relacioná-lo com os números de janeiro de 2009, quando os EUA tinham 134 milhões de empregos.

Em outubro, o número cresceu para 144,9 milhões, segundo um levantamento parcial.

Obama faz discurso nesta quarta-feira (9) (Foto: AP Photo/Pablo Martinez Monsivais)

Obama faz discurso nesta quarta-feira (9) (Foto: AP Photo/Pablo Martinez Monsivais)

43,1 milhões
É o número de pessoas pobres que havia nos EUA até o ano passado, das quais 14 milhões eram menores de idade, segundo informou o órgão do censo americano em setembro.

Em 2015, a taxa de desemprego foi ligeiramente superior a de 2008

O valor total representa uma melhoria ante 2014, quando havia 3,5 milhões de pobres a mais no país. No entanto, é pior do que o de 2008, quando a quantidade de pessoas nessa situação era 3,3 milhões menor.

No ano anterior ao início do governo Obama, 13,2% da população dos EUA viviam abaixo da linha da pobreza. Em 2015, essa taxa foi ligeiramente maior: 13,5%.

16,5 milhões
É quanto diminuiu a quantidade de pessoas sem seguro de saúde nos Estados Unidos entre 2008 e o primeiro trimestre deste ano, de acordo com pesquisas do Centro Nacional para Estatísticas de Saúde.

O “Obamacare”, que pretendia ampliar o atendimento de saúde, recebeu críticas dos conservadores

Essa mudança é largamente atribuída ao programa de saúde conhecido como Obamacare, que impulsionou a popularidade do presidente e entrou em vigor em 2013, em meio a críticas de conservadores.

Apesar do aumento da cobertura, estima-se que 27,3 milhões de pessoas nos EUA ainda não tinham seguro de saúde no início deste ano, o que representa 8,6% da população.

2,5 milhões
É o número de imigrantes deportados pelo governo Obama entre 2009 e 2015 com base em ordens de remoção, de acordo com o Departamento de Segurança Nacional.

Dados oficiais mostram que nenhum outro presidente na história dos Estados Unidos expulsou tanta gente como Obama, que foi chamado de “Deportador chefe” por líderes da comunidade latina.

A estratégia, no início de seu governo, era se concentrar em imigrantes com antecedentes criminais, disse Randy Capps, um perito do Instituto de Política de Migração, um centro de análise independente em Washington.

“Mas, no meio de sua administração, ele começou a estreitar essas prioridades”, disse Capps à BBC. “E depois de 2012 esses números começaram a cair novamente.”

Calcula-se em entre 5% a 10% a redução no número de imigrantes indocumentados durante o governo Obama; hoje, são cerca de 11 milhões no país.

Entre 64 e 116
É o número de civis mortos por ataques aéreos autorizados pelo governo Obama fora de zonas de guerra entre 2009 e 2015, de acordo com dados oficiais divulgados em julho.

As ações militares em países que não estão em guerra com os Estados Unidos tem sido criticadas por organizações de defesa dos direitos humanos.

No entanto, analistas e grupos independentes estimam que o número de mortos – boa parte deles vítima de ataques de aviões não tripulados ou drones – é muito maior, aproximando-se de 500.

Os números oficiais indicam também que entre 2.372 e 2.581 “combatentes” foram mortos pelos 473 ataques realizados pela CIA e pelos militares americanos em países onde os Estados Unidos não estão em guerra, como Paquistão e Somália.

Obama aumentou consideravelmente o uso secreto de drones em relação à administração Bush, inquietando organizações defensoras dos direitos humanos.

“Estamos preocupados não só com os drones, (que) não são ilegais por si. A questão é quais são as regras para seu uso”, disse Hina Shamsi, diretora do programa de segurança nacional da União Americana das Liberdades Civis (ACLU, na sigla em inglês).

Em entrevista à BBC, Shamsi argumenta que “é difícil dar crédito” a números de mortes geridos pelo governo Obama devido à falta de detalhes com que foram divulgados.

60
É a quantidade de detidos que permanecem na prisão militar norte-americana de Guantánamo, em Cuba.

Isto acontece apesar de Obama ter anunciado que, no primeiro ano de seu governo, iria fechar a controversa prisão – ela chegou a ter cerca de 780 detentos no governo Bush, por suspeitas de extremismo islâmico – e de diferentes agências terem recomendado a transferência de pelo menos 20 dos prisioneiros restantes.

Uma das promessas eleitorais de Barack Obama foi o fechamento da prisão norte-americana localizada na Baía de Guantánamo, em Cuba.

O presidente conseguiu reduzir em três quartos o número de prisioneiros, mas encontrou obstáculos dentro dos Estados Unidos para alcançar o fechamento de Guantánamo e opções muito limitadas de países dispostos a receber os presos.

Hina Shamsi, da ACLU, acredita que Obama “ainda tem tempo” para mudar a situação, mas ressalta que é preocupante que prisioneiros permaneçam nessa situação questionável.

“Preocupa que a administração Obama continue declarando sua autoridade para deter pessoas indefinidamente, em situações que não acreditamos que sejam consistentes com o Direito nacional e internacional”, adverte.

28%
É quanto cresceram as exportações de bens e serviços dos EUA desde que Obama assumiu o cargo até o segundo trimestre deste ano, de acordo com o Escritório Nacional de Análise Econômica dos Estados Unidos.

Essa é uma recuperação significativa, que reduziu o déficit comercial quase na mesma proporção.

Mas o que foi alcançado está longe de promessa de Obama de dobrar as exportações durante seu governo.

19,9 trilhões
É o valor em dólares da dívida pública dos Estados Unidos, que aumentou 87% sob a administração Obama, segundo dados oficiais.

Isso significa que a dívida pública dos EUA supera 100% do PIB, com a população e as instituições domésticos como principais credores e China como o maior credor estrangeiro.

A dívida pública tem sido uma questão central nos EUA desde antes de Barack Obama começar seu governo.

Por sua vez, o deficit orçamentário dos EUA chegou a US$ 587 bilhões ou 3,2% do PIB do ano fiscal de 2016 encerrado no final de setembro.

Isso acabou com a tendência de baixa do deficit registrada durante o governo Obama, que chegou a reduzir em três quartos o nível herdado da administração Bush.

“A dívida e o deficit têm sido um problema por um tempo, não só durante a administração Obama”, disse Sam Bullard, da Wells Fargo Securities.

“E vai continuar a ser uma prioridade”, diz ele, “uma vez que não estamos crescendo tão fortemente como fazíamos no passado.”