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Educação emocional e social em Arapiraca contribui para o enfrentamento da discriminação

22/11/2016
Educação emocional e social em Arapiraca contribui para o enfrentamento da discriminação
Escola de Ensino Fundamental Luiz Alberto de Melo, na vila quilombola remanescente de Pau D'Arco, em Arapiraca, professores e alunos celebraram o 20 de novembro. Ascom

Escola de Ensino Fundamental Luiz Alberto de Melo, na vila quilombola remanescente de Pau D’Arco, em Arapiraca, professores e alunos celebraram o 20 de novembro. Ascom

No horizonte da Escola de Ensino Fundamental Luiz Alberto de Melo, na vila quilombola remanescente de Pau D’Arco, em Arapiraca, professores e alunos vislumbram o dia em que o Brasil, de fato e direito, se livrará dos grilhões do racismo sutil ou deliberado. Desde sua fundação, e especialmente de 2005 para cá, a escola tem feito sua parte para que este sonho de Martins e Zumbis torne-se realidade.

A Luiz Alberto, bem como toda a comunidade de origem negra, este ano, ganhou mais um instrumento para auxiliar na batalha da aceitação, autonomia, elevação da autoestima e construção identitária afrodescendente: a Metodologia Liga Pela Paz, programa de Educação Emocional e Social implantado no município por meio da Secretaria de Estado de Prevenção à Violência (Seprev), prefeitura e organização Inteligência Relacional.

“A metodologia veio realmente para contribuir com tudo aquilo que a gente já vem realizando na escola. Vejo que depois da inserção desse programa em nossa escola os meninos estão mais abertos, mais participativos, estão começando a gostar de se verem como eles são. Daqui em diante tudo tende a melhorar”, afirmou a coordenadora Rita de Cássia Oliveira Silva.

A compreensão e o acolhimento das mais diversas expressões e origens culturais são temas dialogados pela metodologia, que beneficia os alunos do Ensino Infantil ao 5° ano da escola. Mas antes da Liga Pela Paz, há 12 anos existe o projeto “Construindo a Identidade Afrodescendente”, aqui chamado de “empreendimento” e que nesta edição de novembro trouxe como tema “Gente Quilombola” – uma homenagem a todas as pessoas que se doaram à tarefa de pesquisar as origens da comunidade, como explica um dos coordenadores do empreendimento, Ivan Jorge da Silva.

“Iniciamos o projeto em 2005, mas bem antes disso já havia um trabalho aqui na comunidade quilombola em pesquisar nossas origens e documentá-las. É uma preocupação pedagógica e pessoal a maneira como nossos alunos se veem e como eles lidam com o olhar do outro sobre as raízes deles, a cor, a identidade cultural e étnica deles”, disse Silva.

Esse resgate e a valorização da história da vila de Pau D’Arco são trabalhados ao longo de todo o ano, tendo como culminância o Dia da Consciência Negra, comemorado no último domingo (20). Por meio de atividades comunitárias e escolares, como exposições e desfile cívico-estudantil, a Associação de Desenvolvimento da Comunidade Remanescente de Quilombos, criada em 2007, fruto do projeto, é mais uma ferramenta importante da Escola Luiz Alberto de Melo para a construção da identidade racial da vila.

Dentre as apresentações artísticas, duas músicas do acervo psicopedagógico da Metodologia Liga Pela Paz, a “Somos Iguais” e “Seja Tolerante”, embalaram as coreografias dos alunos do 3° ano da escola.

“Eu tenho muito orgulho da minha origem, da minha cor. Essa escola me ajudou muito a lidar com os conflitos e preconceitos do mundo lá fora. Me descobri remanescente de quilombo aqui”, confessou Felipe Luiz do Nascimento, de 20 anos, integrante do grupo de dança afro da escola, o “Pérolas Negras”, e ex-aluno da Luiz Alberto de Melo.

Mulher, negra, pobre e quilombola

Laurinete Basílio dos Santos, pedagoga e professora de história, é uma das pessoas mais respeitadas da comunidade e uma das mulheres homenageadas pela escola nesta edição do projeto. Há 28 anos ela chegava à escola, depois de ter sido a primeira de uma prole de 12 filhos remanescentes de quilombo a alcançar e concluir o Ensino Superior.

“Meus pais eram analfabetos e se dividiam entre querer que nós estudássemos e achar que o correto era trabalharmos na monocultura do fumo. Na época, em 1989, foi difícil para mim e meus pares. A rejeição era muito grande por sermos da zona rural e do quilombo. Éramos considerados ‘burros’ e nós também nos discriminávamos”, rememora. E considera: “Mas eu sempre tive o objetivo de vencer na vida e via que o caminho era a educação. Não havia outro. O estudo me fortaleceu para lutar contra o preconceito por ser negra, pobre e mulher”.