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Cinco motivos para apostar na delação de Cunha

27/10/2016
Cinco motivos para apostar na delação de Cunha

Os cinco motivos para se apostar na delação premiada de Cunha (que pode derrubar boa parte da República do Temer) são os seguintes:

1º) Sua mulher, Cláudia, já está sendo processada sob a jurisdição do Moro (lavagem de dinheiro e evasão de divisas); sua filha Danielle já está denunciada (mas a denúncia ainda não foi recebida – pelos mesmos crimes). Ao pedir a prisão preventiva de Cunha a força-tarefa apontou que empresas ligadas ao empresário Henrique Constantino, um dos herdeiros da Gol Linhas Aéreas, teriam pago propinas ao peemedebista por meio de transferências à empresa Jesus.com – de Cunha e da jornalista Cláudia Cruz, sua mulher – e à GDAV, de Felipe e Danielle Dytz da Cunha, filha mais velha do ex-deputado.

Para preservar a família é comum que o criminoso (sobretudo do colarinho branco) faça delação premiada (isso ocorreu, por exemplo, com Paulo Roberto Costa). Poderia ser negociada uma pena bem suave para Cláudia (ou até mesmo o perdão judicial) assim como o arquivamento para seus filhos. Tudo isso a lei permite. Mas o acordo depende da quantidade e qualidade das informações prestadas (assim como das provas oferecidas ou indicadas).

2º) Cunha já estava escrevendo um livro que se dizia “uma delação informal”. Ora, do ponto de vista jurídico é muito melhor fazer uma “delação formal” (pelos benefícios que isso pode significar). Mais: ao fazer contato com seus novos advogados, Cunha disse que “quer falar, que vai falar” (ver Valor Econômico). Não se pode comparar Cunha (um religioso com labilidade ética) com os “companheiros fanáticos” da esquerda (que não falam por nada nesse mundo).

3º) Cunha contratou uma equipe de advogados especializados em delação. Não faria isso se não tivesse a intenção de delatar seus comparsas nas tramoias e conluios corruptivos. Mais: suas penas podem passar de 20 anos de prisão, o que significaria regime fechado por longo período.

4º) Cunha está com ódio (nesse ponto se parece com Delcídio, frente ao PT). Sua derrubada do poder está sendo atribuída a Moreira Franco e Rodrigo Maia. Um capítulo inteiro do seu livro estaria dedicado às corrupções de Moreira Franco (Porto Maravilha, Odebrecht etc.).

5º) Há suspeita de que Cunha tenha outras contas bancárias no exterior (particularmente nos EUA). Moro decretou o bloqueio dos seus bens. Ele teria bens 53 vezes maior que o declarado na Receita Federal. Toda essa parte financeira costuma ser objeto de negociação (considere-se que já está em vigor o convênio Brasil-EUA de troca de informações bancárias). O rastreamento é rápido e prontamente pode-se descobrir contas no exterior. Ou seja: está ficando difícil ocultar contas bancárias no exterior.

Quem seria delatado por Cunha, o “rei dos jabutis”?

Cunha é considerado o “rei dos jabutis” porque em quase todas as medidas provisórias ele procurava favorecer alguma empresa ou político com emendas (que nada tinham a ver com o objeto da medida). Centenas de empresas e pessoas podem ser delatadas. Eventualmente inclusive Temer (houve corrupção em medidas provisórias em favor do grupo Libra, em maio/2013, que atua no Porto de Santos e que é a financiadora de Temer).

A lista ainda inclui bancos, empreiteiras, seguradoras, frigoríficos, grupos de mineração, telefonia e porto de Santos. Boa parte do PIB brasileiro que pratica o capitalismo à brasileira (de amizades, de compadrio, de carteis) tinha em Eduardo Cunha o seu canal de enriquecimento ilícito (ou favorecido). No Brasil cleptocrata há um propinoduto que liga empresas e bancos à política. Tudo é feito sem nenhum sentimento de culpa. Cunha não chegou por acaso à presidência da Câmara.

Moreira Franco (corrupções no Porto Maravilha, Odebrecht etc.) será alvo preferencial. Se algo existir contra Rodrigo Maia, este é outro alvo predileto. Além de empresas e pessoas, podem também ser delatados vários políticos (que eram financiados por Cunha, com dinheiro de propinas). Também o sistema de arrecadação de doações e propinas para as campanhas eleitorais do PMDB etc.