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Artista brasileira ganha fama mundial colorindo o passado em fotos históricas

20/09/2016
Artista brasileira ganha fama mundial colorindo o passado em fotos históricas

A ciência diz que cores são capazes de despertar emoções – talvez isso esteja por trás do impacto do trabalho da mineira Marina Amaral, que se especializou em colorir digitalmente fotos em preto e branco.

Na tela do computador em sua casa em Belo Horizonte, a artista de 21 anos dá nova vida ao passado devolvendo cores – em tons impressionantemente realistas – a registros históricos por meio do programa Photoshop.

Conforme os tons de cinza dão lugar a azuis, vermelhos, verdes ou marrons, o sofrimento de um prisioneiro de campo de concentração alemão parece tornar-se mais intenso. E a destruição causada na cidade japonesa de Hiroshima pela bomba atômica fica ainda mais impactante.

“Acho que as fotos em preto e branco acabam distanciando as pessoas. O evento registrado parece quase irreal. Cores quebram essa barreira e nos aproximam dessa realidade”, diz Marina, que começou a colorir fotos casualmente e, desde o início do ano, fez disso sua profissão.

Momentos que ficam na memória

Marthin Luther King Jr. marcha por direitos civis para negros em Washington, nos EUA (Foto: Arquivo Nacional dos EUA)

Marthin Luther King Jr. marcha por direitos civis para negros em Washington, nos EUA (Foto: Arquivo Nacional dos EUA)

Antes de colorir fotos históricas, Marina Amaral diz fazer uma extensa pesquisa de documentos e referências (Foto: Arquivo Nacional dos EUA)

Desempregados se reúnem nas ruas de San Francisco, nos EUA (Foto: Biblioteca do Congresso dos EUA)

Desempregados se reúnem nas ruas de San Francisco, nos EUA (Foto: Biblioteca do Congresso dos EUA)

Artista acredita que devolver as cores de imagens em preto e branco nos aproxima da situação e das pessoas retratadas (Foto: Biblioteca do Congresso dos EUA)

Marina aprendeu a mexer no Photoshop por conta própria quando era criança e uniu essa habilidade ao seu fascínio por história depois de conhecer pela internet técnicas para recuperar cores em fotos antigas.

Desde abril do ano passado, ela passou a se dedicar quase exclusivamente a esse tipo de trabalho e avalia que a prática lhe permitiu sofisticar seu estilo e até mesmo desenvolver métodos próprios.

 

Muitas das fotos nas quais trabalha são de domínio público, obtidas em bancos de imagens de fundações e instituições governamentais, como a Biblioteca do Congresso e o Arquivo Nacional dos Estados Unidos e a Biblioteca Britânica.

Médicos americanos auxiliam soldados feridos em praia da Normandia, na França, durante a 2ª Guerra Mundial (Foto: Exército dos EUA)

Médicos americanos auxiliam soldados feridos em praia da Normandia, na França, durante a 2ª Guerra Mundial (Foto: Exército dos EUA)

Trabalho de Marina Amaral tem ganhado milhares de admiradores nas redes sociais (Foto: Exército dos EUA)

Retrato da enfermeira japonesa Aiko Hamaguchi feito durante a 2ª Guerra Mundial (Foto: Biblioteca do Congresso dos EUA)

Retrato da enfermeira japonesa Aiko Hamaguchi feito durante a 2ª Guerra Mundial (Foto: Biblioteca do Congresso dos EUA)

Retratos costumam demandar menos tempo, diz a artista (Foto: Biblioteca do Congresso dos EUA)

Retrato do ex-presidente americano Abraham Lincoln (Foto: Biblioteca do Congresso dos EUA)

Retrato do ex-presidente americano Abraham Lincoln (Foto: Biblioteca do Congresso dos EUA)

Muitas das fotos em que Marina trabalha são de domínio público (Foto: Biblioteca do Congresso dos EUA)

São registros feitos em outros países e, principalmente, do início do século passado, quando a fotografia colorida ainda engatinhava. Marina diz ser “frustrante” não poder realizar o mesmo trabalho com imagens históricas do Brasil.

“Tenho muita vontade, mas é difícil achar fotos brasileiras antigas com boa resolução. As poucas que existem não são de domínio público. Talvez seja só uma questão de ainda não ter achado a fonte adequada”, diz ela.

“Escolho as fotos de acordo com a qualidade e disponibilidade das imagens, mas não só isso. Adoro trabalhar com fotografias que retratam momentos históricos e ficaram marcadas na memória das pessoas.”

Seguidores

Registro de uma casa do povo saami, natural da Suécia (Foto: Norse Folkemuseum)

Registro de uma casa do povo saami, natural da Suécia (Foto: Norse Folkemuseum)

Hoje, existem diversas comunidades na internet dedicadas à coloração de fotos antigas (Foto: Norse Folkemuseum)

Retrato do piloto C. Hopson, do serviço postal americano, feito em 1926 (Foto: Arquivo Nacional dos EUA)

Retrato do piloto C. Hopson, do serviço postal americano, feito em 1926 (Foto: Arquivo Nacional dos EUA)

Colorir fotos antigas é um tipo de trabalho que vem ganhando muitos adeptos e fãs nos últimos anos. Chega a reunir, por exemplo, mais de 115 mil membros em um dos fóruns do site Reddit.

Marina começou a divulgar suas obras em fóruns assim. Depois, passou a publicá-las em seus perfis em redes sociais e começou a receber encomendas para trabalhar em álbuns de família e pedidos de museus e empresas.

 

A demanda cresceu tanto que Marina decidiu largar a faculdade de Relações Públicas. “Estava ficando sem tempo para os estudos”, explica ela. “Colorir um retrato leva uma hora, mas imagens complexas podem levar meses para ficarem prontas.”

Destruição da cidade de Hiroshima, no Japão, pela bomba atômica durante a 2ª Guerra (Foto: Arquivo Nacional dos EUA)

Destruição da cidade de Hiroshima, no Japão, pela bomba atômica durante a 2ª Guerra (Foto: Arquivo Nacional dos EUA)

Cenas mais complexas podem demandar meses de trabalho, explica Marina Amaral (Foto: Arquivo Nacional dos EUA)

Fotos de general William T. Sherman (Foto: Marina Amaral)

Fotos de general William T. Sherman (Foto: Marina Amaral)

Por meio do Twitter e do Facebook, as novas versões das fotografias feitas por Marina começaram a chamar a atenção de entusiastas desse tipo de trabalho e de historiadores. Hoje, ela tem milhares de seguidores em seus perfis nestas redes.

Foi pelo Twitter que Daniel Jones, historiador e apresentador do canal britânico Channel 5, conheceu Marina.

“Amei seu trabalho de cara, compartilhei em meu perfil algumas vezes e passamos a trocar mensagens”, conta Jones, que convidou Marina para um projeto em conjunto.

Pesquisa ‘rigorosa’

Região conhecida como Banana Docks, no píer de Nova York, no início do século 20 (Foto: Biblioteca do Congresso dos EUA)

Região conhecida como Banana Docks, no píer de Nova York, no início do século 20 (Foto: Biblioteca do Congresso dos EUA)

Esta imagem, segundo Marina, foi uma das mais trabalhosas para colorir, por conter muitos detalhes (Foto: Biblioteca do Congresso dos EUA)

Família em bebedouro no Central Park, em Nova York, em 1942 (Foto: Arquivo Nacional dos EUA)

Família em bebedouro no Central Park, em Nova York, em 1942 (Foto: Arquivo Nacional dos EUA)

Colorir o passado passou de hobby a profissão da artista mineira (Foto: Arquivo Nacional dos EUA)

Jones diz que as fotos de Marina “são a maneira perfeita de fazer as pessoas se interessarem por história na internet”, porque “nos fazem ter empatia pelo que é retratado de uma forma que a foto em preto e branco não permite em um mundo saturado de cores como o nosso”.

 

Para o historiador, ela se destaca entre outros artistas do gênero por “sua pesquisa rigorosa”, algo também destacado com frequência por publicações de peso, como a revista americana Wired – que a chamou de “mestre da colorização” – e o jornal britânico Daily Mail, que publicaram reportagens sobre a arte de Marina.

Bandeira americana é hasteada na França após vitória dos Aliados (Foto: Arquivo Nacional dos EUA)

Bandeira americana é hasteada na França após vitória dos Aliados (Foto: Arquivo Nacional dos EUA)

Maioria das imagens coloridas por Marina é do início do século 20 (Foto: Marina Amaral)

Meninos franceses diante de tanque alemão após derrota de nazistas na França (Foto: Imperial War Museums)

Meninos franceses diante de tanque alemão após derrota de nazistas na França (Foto: Imperial War Museums)

Ao escolher fotos, Marina busca imagens com qualidade e que retratam momentos marcantes (Foto: Imperial War Museums)

Antes de colorir uma imagem, Marina busca documentos e referências que indiquem os tons originais da pessoa ou cena fotografada.

“Acho que, até o momento, trabalhos assim não levavam tão a sério a pesquisa histórica. Dedico muitas horas a isso para o resultado ser o mais fiel possível à época”, diz ela.

Jones vai além: “As ferramentas estão disponíveis para todo mundo, mas é preciso ter habilidade artística. Marina tem um talento nato.”

Escola para negros em Anthoston, no Estado de Kentucky (EUA), em 1916 (Foto: Biblioteca do Congresso dos EUA)

Escola para negros em Anthoston, no Estado de Kentucky (EUA), em 1916 (Foto: Biblioteca do Congresso dos EUA)

Colorir imagens em preto e branco faz as pessoas se interessarem pela história, diz o inglês Daniel Jones (Foto: Biblioteca do Congresso dos EUA)

Retrato de Lewis Powell, que tentou matar o secretário de Estado americano William H. Seward, em 1865 (Foto: Arquivo Nacional dos EUA)

Retrato de Lewis Powell, que tentou matar o secretário de Estado americano William H. Seward, em 1865 (Foto: Arquivo Nacional dos EUA)

Marina Amaral diz que a história sempre a fascinou (Foto: Arquivo Nacional dos EUA)