Política

Data de sessão para votar cassação de Cunha gera polêmica por beneficiá-lo

12/08/2016
Data de sessão para votar cassação de Cunha gera polêmica por beneficiá-lo
Eduardo Cunha em 13 de julho. LULA MARQUES AG. PT

Eduardo Cunha em 13 de julho. LULA MARQUES AG. PT

Dentro de pouco mais de um mês, os deputados federais estão convocados para votar o processo de cassação de Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Se vão comparecer em meio à campanha para as eleições municipais, já é outra coisa. Na quarta-feira passada, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), convocou a votação do processo contra Cunha para o dia 12 de setembro. A data foi comemorada por parlamentares aliados deste peemedebista, assim como por assessores do presidente interino Michel Temer (PMDB). O primeiro grupo acredita que, com um quórum baixo de deputados na Casa sob a alegação de que estariam fazendo campanha eleitoral, seria possível evitar a perda de mandato de um dos mais polêmicos políticos que já ocupou a presidência do Legislativo. Já os representantes do governo provisório torciam para não precisarem dividir os holofotes com a votação do impeachment de Dilma Rousseff (PT), este que deve ocorrer até o fim de agosto.

Os opositores de Temer e Cunha, contudo, veem a data como uma tentativa de proteger o parlamentar, que diz ter orgulho de ter dado entrada no processo de impedimento da presidenta afastada. “O Planalto e uma parte da Câmara têm medo de Cunha. É um misto de covardia e conivência”, diz o deputado Alessandro Molon, da REDE, um dos partidos que entrou com a representação contra o deputado.

Logo que foi eleito para o cargo de presidente da Câmara, Maia sinalizou que poderia colocar a cassação de Cunha em votação na segunda semana de agosto. Porém, a análise do projeto de lei complementar 257/2016 (que trata da renegociação da dívida dos Estados) se arrastou por duas semanas e obrigou a uma mudança de planos.

Cobrado por opositores a definir uma nova data, Maia apresentou uma série de justificativas para não pautar logo a questão. Disse que na próxima semana, inicia-se a campanha eleitoral nos municípios e a presença de congressistas em Brasília deve ser baixa. Na semana iniciada pelo dia 22 de agosto, deve iniciar o julgamento do impeachment de Rousseff e ele não quis “misturar” dois momentos históricos no mesmo período. Na semana seguinte, a Câmara deverá ficar sob o comando de Waldir Maranhão (PP-MA), já que, se passar o impeachment, Temer irá para o encontro do G-20 na China e Maia assumirá temporariamente a presidência da República. Na outra semana, o feriado de 7 de setembro, uma quarta-feira, será o responsável por esvaziar o plenário. Sobrou só a outra semana, iniciada no dia 12 de setembro.

Sem pressão, é possível que esse jogo de empurra acabe levando a votaçãoapenas para o período pós-eleição municipal, em outubro, conforme o EL PAÍS revelou. “Agora cabe aos líderes partidários cobrarem os deputados a comparecerem no dia 12. Sem a pressão popular sobre todos os deputados, corremos, inclusive, o risco de ver Cunha ser absolvido”, avaliou o deputado Glauber Braga (PSOL-RJ).

As últimas sondagens feitas pelas bancadas partidárias mostravam que cerca de 400 dos 511 deputados (Cunha e o presidente da Câmara não votam) seriam favoráveis à cassação do peemedebista. O número bem superior aos 257 necessários para uma cassar o mandato, mas pode oscilar caso o quórum seja baixo.

Cunha teve sua cassação recomendada pelo Conselho de Ética da Câmara em junho passado. Os conselheiros entenderam que ele quebrou o decoro parlamentar ao mentir que não tinha contas bancárias no exterior.

O deputado é investigado pelo Ministério Público Federal por envolvimento na operação Lava Jato e por movimentar milhões de reais não declarados em bancos da Suíça. Desde maio, está afastado de suas funções parlamentares porque o Supremo Tribunal Federal entendeu que ele estava usando de seu cargo para se proteger. Se perder o mandato, ele deixa de ter a prerrogativa de foro e, ao invés de ser julgado pelo Supremo, cairia na primeira instância judicial. Neste caso, seu julgador seria Sergio Moro, famoso por ser célere e rígido em suas sentenças. Tudo o que Cunha não quer.