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Brasileira ganha de saudita por 15 a 0 na esgrima, mas destaca papel da rival

10/08/2016
Brasileira ganha de saudita por 15 a 0 na esgrima, mas destaca papel da rival
Tais Rochel bateu adversária saudita em menos de dois minutos (Foto: REUTERS/Issei Kato )

Tais Rochel bateu adversária saudita em menos de dois minutos (Foto: REUTERS/Issei Kato )

Primeira rodada do florete feminino na Arena Carioca 3. Na pista, a brasileira Taís Rochel contava com uma torcida especial nesta quarta-feira, em casa, com a presença da família e amigos, além de todos os outros brasileiros. A arena estava toda a seu favor para a sua estreia em Jogos Olímpicos, logo no Rio de Janeiro. Do outro lado estava uma atleta que tinha o cabelo coberto pelo véu, e sem nenhuma torcida por ela. Nas arquibancadas, ninguém a conhecia. Na pista, Taís também não. No final, após um 1m40seg de combate, o placar de 15 a 0 para a brasileira mostrou que ali havia um abismo não só técnico, mas cultural. Lubna Al-Omair, de 29 anos, chegou à Olimpíada como uma das quatro mulheres sauditas convidadas pelo Comitê Olímpico Internacional para participar da competição, o dobro do que se viu em Londres 2012.

Se a esgrima ainda é um esporte pouco praticado e difundido no Brasil, na Arábia Saudita, para as mulheres, ele praticamente não existe. As mulheres são, por exemplo, proibidas de competir e só o podem fazer quando autorizadas pelo marido ou pai. Taís Rochel revelou que não achou nada da adversária após a definição das chaves, e que entrou para o duelo sem nenhuma informação.

– Procurei e não achei nenhum vídeo. Aproveitei e fui estudar direto a Shanaeva, a russa (que ela enfrentou na rodada seguinte). Para mim, ela era uma surpresa, e toda hora tem alguém se naturalizando, achei até que podia ser alguma que tinha se naturalizado.

Desde o início da Olimpíada, Lubna Al-Omair caminha sempre tranquilamente pela Arena Carioca 3, onde são realizadas todas as disputas da esgrima, mas especialmente na última segunda-feira sentou num lugar privilegiado para assistir o que queria. Ela viu de perto os jogos da americana Ibtihaj Muhammad, primeira atleta dos Estados Unidos a competir com o hijab, o véu muçulmano. Também com o cabelo coberto, a todo o momento ela registrava imagens de Ibtihaj na pista.

Se ela não quis dar entrevistas e tem o acesso restrito por conta da repressão que as mulheres sofrem na Arábia Saudita, coube a Taís Rochel ressaltar a importância de sua presença na Olimpíada do Rio.

Lubna Al-Omair esgrimista Arabia Saudita (Foto: Issei Kato/Reuters)

– Ela deu um grande passo num país que reprime muito as mulheres. Acho que ela tem que estar muito orgulhosa do papel que fez hoje. Eu estava preparada, mas não estava pensando em ser uma pioneira, isso o Brasil já tem um monte. Agora, ela tem que estar muito orgulhosa de si por estar numa Olimpíada.

Sobre o placar de 15 a 0, a brasileira admitiu que é raro acontecer, principalmente nos Jogos Olímpicos. Como não a tinha visto Lubna Al-Omair competir antes, Taís começou o duelo ainda um pouco nervosa pela estreia, mas, com o apoio da torcida, não teve dificuldades para vencer. 

– É um placar difícil de acontecer, ainda mais nos Jogos Olímpicos. Foi a primeira vez que vi a menina na vida. Mesmo nas competições não a tinha visto, ela era uma surpresa em todos os aspectos, podia vir com uma baita esgrima como também podia não vir com uma esgrima tão forte. Acredito que ela, assim como eu, estava um pouco apreensiva, só que eu tinha a torcida do meu lado e estava superconcentrada, e desde o começo meu técnico falou: tem que jogar 100% desde o início.

Tais Rochel acabou derrotada na rodada seguinte, diante da russa Aida Shanaeva, quarta do ranking mundial, que a venceu por 15 a 13, num duelo equilibrado do início ao fim.