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Advogados no Paquistão entram em greve após atentado suicida

09/08/2016
Advogados no Paquistão entram em greve após atentado suicida
Voluntários ajudaram no transporte de feridos após explosão em um hospital em Quetta, no Paquistão, nesta segunda-feira (8) (Foto: Naseer Ahmed /Reuters)

Voluntários ajudaram no transporte de feridos após explosão em um hospital em Quetta, no Paquistão, nesta segunda-feira (8) (Foto: Naseer Ahmed /Reuters)

Muitos advogados no Paquistão decidiram nesta terça-feira não participar de audiências para protestar contra o atentado suicida que matou ao menos 70 pessoas, entre elas muitos colegas de profissão, em Quetta, no sudoeste do país, na segunda-feira (8).

O ataque foi lançado contra o hospital civil, onde 200 pessoas, a maioria jornalistas e advogados, reuniam-se em sinal de luto pelo assassinato poucas horas antes de um famoso advogado da região.

A cidade estava quase deserta e a maior parte do transporte público não circulava, enquanto as escolas e os mercados estavam fechados em sinal de luto. A polícia estava mobilizada diante do local da explosão.

O atentado foi reivindicado na noite de segunda-feira por uma facção talibã, Jammat-ul-Ahrar (JuA), e depois pelo grupo extremista Estado Islâmico (EI). Nenhuma destas reivindicações foi verificada pelas autoridades paquistanesas.

“Os advogados de todo o país boicotarão nesta terça-feira os processos judiciais como protesto após a morte de advogados em Quetta ontem”, indicou em um comunicado o Conselho de Advogados do Paquistão.

Foram organizadas manifestações em diversas cidades, incluindo a capital, Islamabad, Karachi e Quetta. A maioria das vítimas já foram enterradas.

Estado Islâmico
Se for confirmado que o grupo EI foi o responsável pelo ataque, este seria o atentado mais mortífero já lançado pelo grupo terrorista no Paquistão, onde tem dificuldade para se implantar.

Por sua vez, o JuA, formado em 2014, reivindicou o atentado mais sangrento do ano, ocorrido em um parque infantil de Lahore que custou a vida de 75 pessoas no fim de semana de Páscoa.

O departamento de Estado dos Estados Unidos incluiu este grupo na linha de organizações terroristas na semana passada, descrevendo-o como “uma facção dos Tehreek-e-Taliban Pakistan (TTP, talibãs paquistaneses) estabelecida na zona fronteiriça entre Afeganistão e Paquistão”.

Confusão
O braço do EI no Paquistão e no Afeganistão, amplamente composto por ex-talibãs, também está classificado como terrorista.

São poucos os ataques reivindicados pelo EI no Paquistão, onde o grupo extremista compete com outros movimentos islamitas mais estabelecidos no país, como os talibãs. Seu pior ataque foi registrado contra um ônibus de xiitas em Karachi em meados de 2015 no qual 45 pessoas morreram.

No Afeganistão, por sua vez, o EI registrou avanços, fruto de seus ataques no leste e na fronteira com o Paquistão, no âmbito de uma luta pelo poder com os talibãs.

No mês passado, o EI reivindicou um duplo atentado suicida que deixou 80 mortos no centro de Cabul, o pior ataque na capital afegã desde 2001.

O especialista em talibãs Rahimullah Yusafzai expressou suas dúvidas sobre as duas reivindicações, ressaltando que até o momento havia poucos indícios de uma presença do grupo EI ou do JuA no Baluchistão. No entanto, os suicidas podem agir em qualquer lugar, “então não se pode excluir” nenhuma possibilidade.

As reivindicações talvez não sejam contraditórias, acrescentou, mencionando a possibilidade de um ataque conjunto. “Não há nada concreto”, destacou.