Política

Os 17 alvos de Dilma e Temer na batalha final do impeachment no Senado

07/07/2016
Os 17 alvos de Dilma e Temer na batalha final do impeachment no Senado
Reguffe (Sem partido-DF) e Cristovam Buarque (PPS-DF), senadores alvo de assédio.  (Foto: Ana Volpe/Agência Senado)

Reguffe (Sem partido-DF) e Cristovam Buarque (PPS-DF), senadores alvo de assédio. (Foto: Ana Volpe/Agência Senado)

Enquanto a Comissão do Impeachment do Senado encerra sua fase de instrução com a presidenta afastada Dilma Rousseff (PT) dizendo ser injustiçada, os aliados da petista e do presidente interino Michel Temer (PMDB) articulam nos bastidores pelos votos de 17 senadores que sinalizaram que poderiam mudar de lado no julgamento do impeachment. Rousseff mira especificamente em nove parlamentares, Temer, em quatro, e ambos disputam o voto de outros quatro.

Para se configurar o impeachment são necessários ao menos 54 votos dos 81 senadores. Quando o Senado admitiu a abertura do processo e Rousseff foi automaticamente afastada, 55 entenderam que ela deveria ser alvo de uma investigação jurídico-política e 22 foram contrários. Isso não significa, no entanto, que esses congressistas já admitiam de antemão que ela cometera os crimes de responsabilidade dos quais é acusada.

No próximo dia 2 de agosto, a Comissão votará o relatório do senador Antônio Anastasia (PSDB-MG), que será pelo impedimento da petista. A expectativa é que, na segunda quinzena de agosto, o plenário aprecie a questão em definitivo. Até lá, porém, muitas negociações deverão ser feitas. As diferenças, são o que cada um dos principais interessados tem a oferecer.

Nesta semana, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o criador da figura política Rousseff, esteve em Brasília para retomar os diálogos com os senadores. Conforme o EL PAÍS noticiou nesta quarta-feira, a principal cartada de Dilma para tentar retornar ao cargo seria o de garantir aos parlamentares que encamparia uma campanha pelo plebiscito de convocação de novas eleições presidenciais.

O poder de barganha da petista, contudo, é bem menor do que o de seu ex-aliado e hoje principal adversário, Temer. O presidente interino tem feito uma das coisas que mais sabe fazer: política. Com a caneta na mão, ele prometeu a senadores liberar recursos para concluir todas obras que estiverem perto do fim e que custem menos de 300.000 reais ao Tesouro. As promessas são feitas nas dezenas de encontros oficiais e extraoficiais com os parlamentares.

Desde que assumiu o cargo, em 12 de maio, o peemedebista promoveu e participou de ao menos três almoços e jantares com mais de 40 parlamentares e recebeu 20 deles em agendas oficiais e exclusivas no Palácio do Planalto. Entre eles, Otto Alencar (PSD-BA), um dos 22 senadores que disse não encontrar as digitais de Rousseff nos decretos de créditos suplementares que resultaram no pedido de impeachment. Na ocasião do encontro, o presidente pediu que ele listasse quais problemas que gostaria que fossem resolvidos na Bahia e explicou quais seus planos para a infraestrutura.

Além de Alencar, o grupo de Temer mira em João Alberto Souza (PMDB-MA), Armando Monteiro (PTB-PE) e Roberto Muniz (PP-BA). Nos próximos dias, deverão ser chamados para conversas com o interino para falarem sobre demandas de seus Estados. Os dois primeiros foram contra a abertura do processo de impedimento. O último não votou porque, na ocasião, era o suplente de Walter Pinheiro (ex-PT-BA).

“As reuniões do presidente são, sem dúvida, para tentar conquistar mais votos para o impeachment. E não há nenhum problema nisso. Ele está apenas fazendo o que a sua antecessora não soube fazer, que é dialogar”, disse o líder do PSDB no Senado e aliado de primeira hora de Temer, Cássio Cunha Lima. “Até cachorro sarnento gosta de afago, por que com políticos seria diferente?”, afirmou o tucano.

á os parlamentares que são constantemente paquerados pelos dois lados são: Eduardo Braga (PMDB-AM), Jader Barbalho (PMDB-PA), Cristóvam Buarque (PPS-DF) e Wellington Fagundes (PR-MT). Braga e Barbalho estavam de licença médica na primeira votação. O primeiro deles era ministro de Minas e Energia de Rousseff e tem sido contemplado por Temer com a nomeação de aliados para cargos de terceiro escalão na região norte do país. Barbalho viu seu filho virar ministro dos Portos de Rousseff e agora da Integração Nacional de Temer. Já Buarque (que já foi do PT) e Fagundes (que quase se tornou líder do Governo Dilma no Senado), já estiveram ao lado da petista em algumas das votações no Senado, mas com o tempo se afastaram dela e acabaram votando a favor da abertura do processo de impeachment.

A mira do grupo de Rousseff está voltada para dois senadores do PMDB, Dário Berger (SC) e Raimundo Lira (PB); dois do PSD, Omar Aziz (AM) e Sérgio Petecão (AC); dois do PSB, Antonio Carlos Valadares (SE) e Roberto Rocha (MA); além de um do PP, Ivo Cassol (RO); um do PDT, Acir Gurgacz (RO) e um sem partido, José Reguffe (DF). Todos eles votaram a favor do processo de impeachment, os mais difíceis de terem a opinião revertida são os peemedebistas, segundo aliados de Dilma. “O Lira poderia entender que jogaria fora o trabalho da comissão que ele preside [a do impeachment] e o Berger pode ser ‘comprado’ porque o Temer não quer ver traição dentro do próprio PMDB”, afirmou um senador petista. Com exceção de Reguffe, os demais parlamentares teriam colocado na mesa eventuais apoios nas eleições municipais deste ano e nas gerais de 2018, além da promessa de novo pleito presidencial.

QUEM SÃO OS SENADORES POR QUEM DILMA E TEMER BRIGAM

 Assediados por Dilma

Acir Gurgacz PDT RO
Antônio Carlos Valadares PSB SE
Dário Berger PMDB SC
Ivo Cassol PP RO
Omar Aziz PSD AM
Raimundo Lira PMDB PB
Reguffe S/partido DF
Roberto Rocha PSB MA
Sérgio Petecão PSD AC

Assediados por Temer

Armando Monteiro PTB PE
João Alberto Souza PMDB MA
Otto Alencar PSD BA
Roberto Muniz PP BA

Assediados por ambos

Eduardo Braga PMDB AM
Jader Barbalho PMDB PA
Cristovam Buarque PPS DF
Wellington Fagundes PR MT

A confiança dos grupos de Temer e Dilma se refletem nos discursos. Os petistas e seus aliados dizem que podem ter os 28 votos necessários para que ela retorne ao cargo. Os adversários dela afirmam que terão, sem dúvida, mais do que os 54 de que precisam para impedi-la em definitivo. “Teremos entre 58 e 61 votos. Só uma hecatombe faria com que ela voltasse ao cargo”, diz um senador a favor da queda definitiva da petista.

“O QUE MAIS DÓI É SER VÍTIMA DE UMA FARSA JURÍDICA E POLÍTICA”

Ontem (6), o advogado da presidenta afastada Dilma Rousseff, José Eduardo Cardozo, leu sua defesa no processo de impeachment para os 42 membros da comissão especial que a investiga. No documento, ela falou que as razões para destituí-la são puramente políticas.

“[O processo de impeachment] partiu-se do desejo claro de que, por razões puramente políticas, houvesse o meu afastamento da Presidência da República, para então passar-se a procurar, de forma ávida, quaisquer pretextos jurídicos que pudessem justificar, retoricamente, a consumação desta intenção. Isso explica, aliás, a absoluta fragilidade das acusações que constituem a denúncia por crime de responsabilidade contra mim dirigida neste processo”, afirmou a presidenta.

Nas 29 páginas de sua defesa, Rousseff citou quatro vezes que estava sendo vítima de uma injustiça. Ao final, pediu que os senadores fossem isentos em seu julgamento. “A consumação do meu impeachment será uma grande injustiça. Os que forem verdadeiramente isentos e justos jamais vincularão suas biografias a esta farsa”.

“Errar, por óbvio, é uma decorrência inafastável da vida de qualquer ser humano. Todavia, dentre estes erros, posso afirmar em alto e bom som, jamais se encontrará na minha trajetória de vida a desonestidade, a covardia ou a traição. Jamais desviei um único centavo do patrimônio público para meu enriquecimento pessoal ou de terceiros”, disse. “O que mais dói é perceber que estou sendo vítima de uma farsa jurídica e política”.