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População volta a reclamar do fornecimento de água em Palmeira dos Índios

27/06/2016
População volta a reclamar do fornecimento de água em Palmeira dos Índios

Barragem da Carangueja  Quebrangulo AL google maps Guilherme Correia

A barragem da Carangueja fica localizada em Quebrangulo. (Foto: Guilherme Correia/Google Maps)

A barragem da Carangueja fica localizada em Quebrangulo. (Foto: Guilherme Correia/Google Maps)

O problema no fornecimento de água no município de Palmeira dos Índios é antigo. Tão antigo quanto a estação de tratamento que abastece a cidade, construído há 18 anos, que nunca passou por uma reforma.

Além disso, a água que sai das torneiras apresenta um aspecto nada agradável: amarelado e muitas vezes com lama. E como se não bastasse, a alta nas contas das faturas também assusta a população, que fica sem compreender porque paga tão caro por um serviço pouco eficiente.

Em 2010, quando foi inaugurada a adutora Helenildo Ribeiro, na barragem Caçamba, criou-se uma expectativa de que o sistema seria duplicado e toda a cidade passaria a ser abastecida de maneira integral. Mas isso não aconteceu. A barragem contribui hoje com 35% do quantitativo fornecido pela Companhia de Saneamento de Alagoas (Casal) e os bairros são submetidos a um “rodízio” para que o serviço não seja totalmente comprometido.

Mas segundo a gerência da Unidade Serrana, com sede em Palmeira, o rodízio não é falta de água. O problema está na própria estação de tratamento, que precisa passar por uma reforma e ampliação para funcionar de forma efetiva. “Se deixarmos todos os registros abertos, a água vai chegar os sete dias da semana, mas em apenas alguns bairros. Em outros, ela não vai ter força para alcançar as torneiras por causa da geografia do município, que tem muitas ladeiras. Se não fizermos essa divisão, a pressão da água só vai atingir algumas regiões. E se não tivéssemos o sistema de adutora Helenildo Ribeiro, da barragem Caçamba, seria um colapso total em Palmeira dos Índios”, explicou o gerente José Oliveira Filho.

Jose Oliveira é gerente da Unidade Serrana, com sede em Palmeira dos Índios. (Foto: Cortesia/Tribuna do Sertão)

Jose Oliveira é gerente da Unidade Serrana, com sede em Palmeira dos Índios. (Foto: Cortesia/Tribuna do Sertão)

Outra solução para normalizar o fornecimento de água em Palmeira, segundo José Oliveira, seria a implantação de válvulas reguladoras de pressão nas fontes da cidade. “Isso normalizaria a chegada do líquido em todo o município. Temos um projeto que pretende colocar essas válvulas até o final deste ano. O projeto da Casal está pronto e dependemos de verba, inclusive federal, para que isso seja executado. Em Maceió ele já foi implantado e deu certo, e se for colocado aqui seremos a primeira cidade do interior a utilizar esse mesmo procedimento”, afirmou.

Com relação à procedência da água, José Oliveira assegura que é de qualidade. Ele disse que além do tratamento que a água recebe, a cada semana é feito uma análise do produto para verificar se existe algum problema de contaminação. “Posso garantir que a água é potável e própria para consumo humano, como banhos e lavagem de roupas. Mas não serve para beber. Quanto à cor, apesar de ela ser amarelada, é porque as águas da barragem da Carangueja, que também abastece Palmeira, são turvas e chegam às torneiras com essa coloração. Isso não tem como melhorar. Já as águas da barragem de Caçamba são de ótima qualidade.

Contas altas

Mesmo com o rodízio de fornecimento de água, que possibilita a chegada do produto em um ou dois dias para cada bairro, os usuários do sistema não entendem como as contas podem sofrer alta se não utilizam o serviço da Casal todos os dias. A comerciante Maria de Souza disse que a água chega duas vezes por semana em sua residência e que de um mês para o outro a conta teve um aumento de 100%. “Fazemos as mesmas coisas todas as semanas. Lavamos roupas no dia em que a água chega, até porque se fizermos isso com a água das caixas ficaremos sem água para banho o resto da semana. Não entendemos como um serviço tão ruim cobra tão caro para ser oferecido”, reclamou.

Consumidora mostra recibos que apresentam mais de 50% de acréscimo de um mês para o outro. (Foto: Tribuna do Sertão)

Consumidora mostra recibos que apresentam mais de 50% de acréscimo de um mês para o outro. (Foto: Tribuna do Sertão)

Para isso, José Oliveira explicou que muitas pessoas deixam os registros ou torneiras abertos, para verificar a chegada de água em suas casas, e isso faz com que o consumo aumente. “Estou há trinta e cinco anos na Casal e percebo que as pessoas utilizam os dois dias que a água chega de maneira exagerada e acabam consumindo mais do que se ela chegasse todos os dias. E também ficam abrindo e fechando a torneira, o que possibilita a passagem de ar e contribui para o aumento das contas”, completou.

Mas também existem os erros de leitura das contas e os vazamentos. A cada mês, a Unidade Serrana da Casal, em Palmeira,  refatura 200 contas para um valor menor por conta desses problemas. “No caso de vazamentos, as pessoas podem ligar para o 3421-2177 e informar o problema. Nos casos de faturas altas, elas precisam vir à nossa sede para que possamos verificar a leitura das contas e reparar o erro, se ele for nosso”, concluiu.

Privatização

No ano passado, os servidores do Sindicato dos Urbanitários de Alagoas, filiados à Central Única dos Trabalhadores (CUT), se reuniram no Centro de Palmeira dos Índios, para recolher assinaturas da população como forma de repúdio a uma possível privatização da Companhia.

Segundo o Sindicato, tramitava na Assembleia Legislativa de Alagoas (ALE) um projeto de Lei, de autoria do ex-governador Teotonio Viela Filho, que previa a privatização 56% da empresa. A mobilização dos servidores, que também aconteceu em outras partes do estado, sensibilizou o governador Renan Filho, que enviou à mesa diretora da Assembleia, em outubro de 2015, um ofício da Secretaria do Gabinete Civil pedindo a devolução do projeto de lei. A matéria de tramitação foi retirada da matéria de tramitação e o governo ficou de analisar a situação.

De acordo com o Sindicato dos Urbanitários de Alagoas, o Estado de São Paulo é um exemplo de que a privatização da água pode ser algo desastroso, pois nos estados onde a água foi privatizada, o processo gerou, apenas, transtorno ao consumidor. Ainda segundo o Sindicato, o governo de Alagoas, na gestão passada, devolveu cerca de R$ 147 milhões ao governo federal, que deixaram de ser investidos em áreas de saneamento básico, retiradas de tubulações antigas e em obras de reestruturação.

Para José Oliveira, as consequências de uma privatização poderiam ser duramente sentidas pela população.  “Se o projeto for aprovado, a população é quem vai sofrer as consequências. Além das demissões, pode ocorrer aumento nas taxas dos serviços que a Casal oferece, entre outros danos, porque o Estado deixa de ter controle sobre a empresa”, explicou.

Cronograma

Com a escassez das chuvas, a Companhia vai dar continuidade ao cronograma de abastecimento da região, iniciado em 2014, e que leva água de maneira fracionada aos bairros do município.

No domingo e na segunda-feira, são beneficiados os bairros de Paraíso, São Luís, São Francisco, Xucurus, loteamentos Padre Ludugero, Juca Sampaio, Vegas, Luar das Palmeiras e Recanto Sabiá, Graciliano Ramos e Ribeira.

Nas terças, quartas e quintas é a vez da Cafurna, São Cristóvão, Jardim Brasil, Cerâmica, Vila Maria, Eucalipto, loteamento Natércio Viana, conjuntos Sebastiana Gaia (Salgada), Edval Vieira Gaia, Jota Duarte e Brivaldo Medeiros.

Na sexta-feira e no sábado, recebem o serviço os bairros do Centro, Vila Nova, Tenório Cavalcante (Maçonaria-parte baixa), Vila João XXIII, Palmeira de Fora e os loteamentos Vera Cruz e Helenildo Vieira.

Segunda, quarta e sexta-feira, a Casal abastece a parte alta da cidade, o Alto do Cruzeiro e o loteamento Tenório Cavalcante. A Casal alerta que no caso de sobra de água, o abastecimento é direcionado para a próxima região ou onde tenha déficit do serviço.