A comunidade também foi ouvida e diversos questionamentos foram feitos pela população local. (Foto: Assessoria)

A Assembleia Legislativa de Alagoas realizou ontem, 20, uma audiência pública, histórica, na cidade de Piaçabuçu, para debater a qualidade da água fornecida pela Companhia de Saneamento de Alagoas (Casal) no município ribeirinho e a salinização do rio São Francisco em todo Baixo São Francisco. Os deputados Alcides Andrade (PSD), Jó Pereira (PMDB) e Inácio Loiola (PSB) representaram o Poder Legislativo estadual na audiência, que teve início após a execução do Hino Nacional e da apresentação de um poema sobre o “Velho Chico”, declamado pelo ator Chico de Assis.

O deputado Alcides Andrade, autor do requerimento que deu origem a audiência, agradeceu a presença de todos e destacou a importância do Parlamento ter a oportunidade de, in loco, ouvir os anseios da comunidade ribeirinha. “Essa audiência é fundamental para que todos possam conhecer de perto a situação do nosso rio São Francisco e, em particular, da população de Piaçabuçu, que não consegue tomar um copo de água potável. A Casal tem um horário para captar a água do rio, mas não é suficiente para abastecer o município. Vamos levar essa discussão para dentro do Parlamento estadual e cobrar da nossa bancada federal mais recursos para o abastecimento de água em Piaçabuçu”, disse Alcides Andrade.     

A deputada Jó Pereira destacou que o encontro foi bastante proveitoso, já que o Poder Legislativo teve como ouvir a população ribeirinha e as alternativas apresentadas para a solução do problema. “A diminuição da vazão das águas São Francisco é que está possibilitando a entrada da água do mar no rio, tornando-o impróprio para o consumo humano. Vamos encontrar soluções para curto, médio e longo prazos com todos os órgãos envolvidos e com a população de Piaçabuçu. Precisamos definir o papel de cada ente, para que a população saiba a quem possa cobrar as medidas para a solução da qualidade da água de Piaçabuçu”, afirmou.

O deputado Inácio Loiola fez uma palestra sobre a situação do São Francisco e a diminuição de sua vazão. Ele destacou ainda que o rio é responsável por 75% do potencial hídrico do Nordeste, por 95% da energia gerada pela Chesf e por 300 mil hectares de projetos de irrigação ao longo de sua bacia hidrográfica. Disse ainda que as águas do São Francisco abastecem várias cidades de Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Alagoas e Sergipe e alimenta diversos projetos de piscicultura, sendo sua preservação fundamental para a sobrevivência do povo ribeirinho. “Quando o rio não tem água para adentrar no mar, é o mar que adentra no rio, por isso, temos que encontrar uma saída para reverter o quadro atual. O São Francisco é o rio que mais perdeu volume de água no mundo nos últimos 50 anos. Essa audiência foi muito importante para darmos os próximos passos em defesa do nosso ‘Velho Chico’”, disse.

O secretário de Meio Ambiente e Recursos Hídricos de Alagoas, Alexandre Ayres, defendeu a revitalização do São Francisco e destacou as ações promovidas pelo Governo Renan Filho. “O Governo de Alagoas tem feito a sua parte e defende a revitalização do rio. Estamos saindo do campo do discurso para resolver os problemas e impasses gerados em decorrência da salinização da água em Piaçabuçu. No entanto, precisamos cobrar de forma veemente ao Governo Federal, que é maior responsável pela redução da vazão do São Francisco. É preciso ter conhecimento sobre o trabalho da Casal, que reza na cartilha para distribuir a água para consumo humano, prioritariamente”, explicou o secretário.

O vice-presidente de Gestão Operacional da Casal, Francisco Beltrão, disse que as providências adotadas pela Companhia para garantir o abastecimento da população de Piaçabuçu, na região do Baixo São Francisco, estão avançadas e citou alguns exemplos que estão sendo colocados em prática. “Intensificação do monitoramento da qualidade da água tratada, ampla divulgação da tabela do regime de operação para a comunidade, modificação do regime operacional, paralisando o sistema nas marés altas, instalação de duas caixas d´água de 25 mil litros no  povoado Paciência, limpezas diárias dos crivos das bombas flutuantes, entre outras ações”, disse Beltrão, informando ainda que estão previstas diversas melhorias na Estação de Tratamento de Água (ETA).

A comunidade também foi ouvida e diversos questionamentos foram feitos pela população local. O morador de Piaçabuçu e advogado Thiago Carnaúba, que organizou um abaixo-assinado com cerca de 800 assinaturas denunciando a situação do abastecimento da água em Piaçabuçu e solicitando uma audiência do Poder Legislativo, confrontou os dados apresentados pela Casal e disse que os moradores vêm sofrendo muito com a presença do sal na água, que deveria ser para consumo humano. “Além da falta constante da água na cidade, temos ainda a falta de tratamento adequando para que a população possa beber e usar o líquido que chega nas nossas torneiras. Sem contar que a diminuição da vazão das águas do rio vem afetando decisivamente na nossa região ribeirinha”, disse.

Ao final da reunião ficou acordado entre os deputados e a população presente, a criação de uma comissão formada por moradores de Piaçabuçu para acompanhar e monitorar as ações e a qualidade da água no município. Também será formada uma mesa redonda com representantes do IMA, do Ibama, da Codevasf, da Casal, do Governo do Estado, de outros órgãos ambientais e da população, para debater tecnicamente os problemas. Durante a discussão da Lei Orçamentária, será apresentada uma emenda alocando recursos para o abastecimento de água em Piaçabuçu. Os deputados também irão solicitar a nomeação dos membros do Comitê Gestor da Revitalização do Rio São Francisco. Ainda haverá uma solicitação dos deputados para que seja marcada uma reunião com o Governo do Estado, a fim de debater o problema, além de uma reunião com a Casal, no sentido de verificar as ações que estão sendo efetivadas para resolver as demandas.

Participaram ainda da audiência, que durou cerca de cinco horas, o prefeito de Piaçabuçu, Dalmo Júnior, vereadores, representantes de associações e de órgãos ambientais, pescadores e as comunidades de Piaçabuçu e de Penedo.