Política

Cerveró relata propinas de mais de R$ 500 milhões desde 2002

06/06/2016
Cerveró relata propinas de mais de R$ 500 milhões desde 2002
Preso pela Lava Jato desde janeiro do ano passado, Cerveró também delatou 11 políticos como beneficiários do esquema. (Foto: pbhoje.com.br)

Preso pela Lava Jato desde janeiro do ano passado, Cerveró também delatou 11 políticos como beneficiários do esquema. (Foto: pbhoje.com.br)

O ex-diretor internacional da Petrobras Nestor Cerveró apontou o pagamento de pelo menos R$ 564,1 milhões em propina envolvendo negócios da estatal e de uma de suas subsidiárias, a BR Distribuidora. Onze políticos são nominalmente citados como beneficiários dos desvios.

Os detalhes estão na delação premiada de Cerveró, que está colaborando com a Justiça em troca de redução da pena. A cifra deve ser maior, uma vez que os valores não estão atualizados e não há informação de quanto foi pago em propina em parte dos negócios com irregularidades.

Individualmente, o valor mais alto se refere à aquisição pela Petrobras, em 2002, da empresa petrolífera argentina Pérez Companc. Segundo ele, o negócio rendeu US$ 100 milhões em propina para integrantes do governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Usando o câmbio de sexta-feira passada, mas sem correção monetária, a cifra chega a R$ 354 milhões.

Em 2007, outro negócio relativo à Pérez Companc voltaria a render propina, segundo Cerveró. Foi durante a venda da Transener, principal linha de energia que liga a Argentina de norte a sul e que era da Pérez Companc. Em 2003, Nestor Kirchner assumiu a Presidência da Argentina e, segundo Cerveró, fez pressão para a Petrobras vender a Transener.

O negócio foi fechado com um amigo de um ministro da administração Kirchner e rendeu pelo menos US$ 300 mil (R$ 1,06 milhão) para Cerveró e outros US$ 300 mil para o lobista Fernando Antônio Falcão Soares, mais conhecido como Fernando Baiano. Mas, segundo o próprio Cerveró, a maior parte da propina ficou na Argentina

De acordo com o ex-diretor da Petrobras, a compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, rendeu US$ 15 milhões (R$ 53,1 milhões) em propina para o ex-senador Delcídio Amaral, Fernando Baiano e o ex-diretor de Abastecimento da estatal Paulo Roberto Costa, entre outros. Mais R$ 4 milhões foram pagos a Delcídio em razão da reforma da refinaria. Em 2014, o TCU (Tribunal de Contas da União) concluiu que Pasadena causou um prejuízo de US$ 792,3 milhões (R$ 2,804 bilhões) à Petrobras.

A aquisição de sondas também levou ao pagamento de pelo menos US$ 24 milhões (R$ 84,96 milhões) em propina. Cerveró apontou como beneficiários o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), o presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), o senador Jader Barbalho (PMDB-PA) e Delcídio, entre outros.

Segundo Cerveró, a compra de blocos de petróleo em Angola gerou propinas de R$ 40 milhões a R$ 50 milhões para a campanha presidencial do PT de 2006, quando Luiz Inácio Lula da Silva era candidato à reeleição. O ex-diretor da Petrobras disse que obteve essa informação de Manoel Vicente, presidente da Sonangol, empresa estatal de petróleo de Angola. As negociações do lado brasileiro teriam sido conduzidas pelo ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci.