Política

Para jornal colombiano, política brasileira se converteu em ‘circo’

18/04/2016
Para jornal colombiano, política brasileira se converteu em ‘circo’
Segundo jornal colombiano, votação na Câmara dos Deputados no domingo se transformou em "um festival de agressões verbais"  (Agência Efe)

Segundo jornal colombiano, votação na Câmara dos Deputados no domingo se transformou em “um festival de agressões verbais”
(Agência Efe)

Um “festival de agressões verbais” e “falta de argumentos”. Assim o jornal colombiano El Espectador se referiu, nesta segunda-feira (18/04), à votação da Câmara dos Deputados que aprovou o prosseguimento do processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff no domingo (17/04).

No artigo “Quando a política brasileira se converteu em um circo”, a publicação comenta o fato de a maioria dos deputados justificarem seus votos em argumentos que não estavam diretamente relacionados às acusações contra o governo de Dilma . Em vez disso, evocaram aspectos religiosos, familiares e até contra o comunismo.

“‘Por minha família, por meus filhos, por minha esposa, por minha neta, por meu pai, sempre presente em minha vida’, por eles votavam os deputados”, diz o artigo.

Segundo o texto, a votação “se converteu logo em um festival de agressões verbais e em uma mostra de que a política na América Latina é, também, um jogo de retórica que pretende ocultar a falta de argumentos”.

Alguns deputados baseavam seus votos favoráveis ao impeachment em uma suposta “rede de corrupção” no governo de Dilma Rousseff. No entanto, “tanto os partidos de oposição, como o governista PT, estão implicados”, diz a publicação, que lembra que 60% dos membros da Câmara e do Senado são investigados por crimes eleitorais, de corrupção ou homicídio.

O processo de impeachment na Câmara exibiu, segundo El Espectador, um retrato de nacionalismo “rasteiro” e um espetáculo “vergonhoso”.

“A votação foi se tornando, pouco a pouco, em um retrato rupestre do nacionalismo mais rasteiro e do espetáculo mais vergonhoso. Já não era política: era uma peça de teatro”.

O artigo acrescenta que “as negociações, que começaram na sexta-feira [15/04], foram feitas nos bastidores, mas ainda assim os políticos dominavam a tribuna como se se tratasse do último discurso de sua existência: com os braços agitados, a gritos, com golpes no peito alimentados de chauvinismo e religião”.

“Cunha disse ao votar: ‘Que Deus tenha misericórdia dessa pátria. Voto sim’. Necessitarão misericórdia: o desastre se cria entre sua classe política”, diz o artigo.

Alemanha: show do impeachment

O jornal Tagesspiegel, de Berlim, chamou a votação deste domingo de “show do impeachment”. “Foi a sessão mais longa que o Parlamento brasileiro já teve. Foi, ao mesmo, tempo, a mais assistida, seguida por milhões de brasileiros em locais públicos, em praças e em casa. E foi uma das mais curiosas: com uma votação como em um estádio de futebol, deputados cuspiram, traíram e mandaram cumprimentos à mamãe”, afirma o periódico.

“O voto do domingo é uma grande decepção para Rousseff, que, junto com seu mentor, o ex-presidente Lula da Silva, tentou até a última hora ganhar votos. Mas o vento havia se virado há algum tempo contra Rousseff: seu parceiro de coalizão mais importante [o PMDB] pulou fora. Além disso, o vice-presidente Michel Temer conspira abertamente contra ela”, diz.

tagesspiegel