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Obama desembarca em Cuba para visita histórica

21/03/2016
Obama desembarca em Cuba para visita histórica
(Foto: Ismael Francisco)

(Foto: Ismael Francisco)

O presidente americano Barack Obama desembarcou em Havana neste domingo para uma visita histórica que irá selar a reaproximação que ele e o ditador cubano, Raúl Castro, acordaram em dezembro de 2014, depois de dezoito meses de negociações secretas. Obama partiu da Base Aérea de Andrews, perto de Washington, ao lado da família e uma pequena delegação política às 13h32 (horário local – 14h32 em Brasília) e pousou em solo cubano cerca de três horas depois.

Junto a Obama e sua família viajam a líder da minoria democrata na Câmara dos Representantes, deputada Nancy Pelosi, os senadores democratas Patrick Leahy e Dick Durbin e o republicano Jeff Flake. Uma delegação mais ampla de líderes políticos e empresariais viaja separadamente. Acompanhado de sua esposa Michelle, suas filhas Sasha e Malia e sua sogra, Marian Robinson, Obama cumprirá uma longa agenda de compromissos até terça-feira. Ele é o primeiro presidente americano a pisar o solo cubano em 88 anos.

Prisões – Poucas horas antes da chegada de Obama, dezenas de opositores e ativistas das Damas de Branco foram detidos e levados em ônibus por agentes do estado. Os manifestantes estavam perto de uma igreja protestando por direitos humanos, quando foram abordados por agentes oficiais e grupos governistas. Entre os detidos estão Danilo Maldonado e Berta Soler, líder das Damas de Branco, como são conhecidas as mulheres que vão à missa todos os domingos vestidas de branco em protesto contra a detenção de parentes por motivos políticos.

Mudanças – Após mais de meio século de antagonismo entre os dois vizinhos, Obama redefiniu as relações com Cuba nos últimos quinze meses, e a ilha caribenha está mudando – mas seus dirigentes comunistas receiam ir rápido demais. Havana observou um aumento no número de visitantes americanos de 77% em 2015, enchendo hotéis e restaurantes que desde então têm ficado lotados. Nesta semana, Obama promulgou regras abrangentes para incentivar ainda mais as viagens e os negócios com o país caribenho. Foi a quinta vez que ele recorreu a seus poderes executivos para fortalecer os laços com Cuba, passando ao largo do Congresso de maioria republicana, que continua se recusando a cancelar o embargo econômico de 54 anos contra a ilha.

Contudo, algumas mudanças do lado cubano ainda podem demorar. O governo cubano descartou taxativamente a implantação de reformas e aberturas internas e advertiu que ainda persistem sérias divergências nas relações recém-restabelecidas com os Estados Unidos. “Em nossa relação com os Estados Unidos não está na mesa de negociações, de modo algum, a realização de mudanças internas em Cuba, que são e serão da exclusiva soberania do nosso povo”, garantiu o ministro cubano das Relações Exteriores, Bruno Rodríguez, em declarações pela televisão na última quinta-feira.

Ritmo lento – O americano Saul Berenthal esperou décadas por uma chance de fazer negócios em Cuba. Mas, apesar dos avanços nas relações, ele terá de aguardar um pouco mais. Berenthal e seu parceiro comercial Horace Clemmons, do Estado do Alabama, estão perto de se tornarem os primeiros empresários dos EUA a abrir uma empresa em Cuba graças a seu plano de construir tratores de baixo custo para fazendas cubanas. Seu projeto tem o aval dos EUA, e o governo da ilha comunista deu sinais positivos a respeito da fábrica pretendida, mas ainda não concedeu sua permissão. “É um pouco um teste de lealdade”, disse Berenthal, que nasceu em Cuba em 1944 e foi para os EUA em 1960, um ano após a revolução de Fidel Castro.

Diante da resistência do regime ditatorial cubano em abrir sua economia, permitir mais liberdades civis e políticas à população, a Casa Branca  desagradando Havana confirmou que Obama irá se encontrar com dissidentes políticos que são perseguidos pelo governo. Certamente, o encontro será um dos pontos altos da visita do presidente americano à ilha dos irmãos Castro.

A visita – O chefe de Estado americano fará um discurso na terça-feira no Grande Teatro de Havana e o pronunciamento será transmitido ao vivo pela TV aos cubanos. Obama seguirá na terça-feira para a Argentina, onde anunciará a “desclassificação” de documentos sigilosos sobre o papel dos Estados Unidos durante a ditadura argentina (1976-1983), incluindo, pela primeira vez, arquivos militares.