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Guerra na Síria completa 5 anos com efeitos devastadores sobre a população

15/03/2016
Guerra na Síria completa 5 anos com efeitos devastadores sobre a população
(Foto: RFI)

(Foto: RFI)

Nesta terça-feira (15) completa-se cinco anos da sangrenta guerra civil na Síria, que já deixou 270 mil mortos, segundo a ONU, e 470 mil, segundo o Centro Sírio para Pesquisa Política. As consequências do conflito entre as forças do regime do presidente Bashar al-Assad e os grupos rebeldes, que incluem os terroristas Estado Islâmico e Al Nusra, são devastadoras para a população, principalmente para as crianças, e para o patrimônio histórico sírio.

No total, o conflitou levou 11 milhões de pessoas a migrar, ou seja, mais da metade da população do país. A ONU estima que 6,5 milhões tenham deixado suas casas para se mover dentro da Síria. Pelo menos outros 4,5 milhões migraram para países como Turquia, Jordânia e nações europeias, provocando um fluxo sem igual desde a Segunda Guerra Mundial.

O número de sírios que chega à Europa em busca de proteção internacional continua aumentando, causando uma crise de refugiados sem precedentes no continente. Foram 897 mil pedidos de asilo entre abril de 2011 e dezembro de 2015. Mas a inércia da União Europeia ao tratar do tema de maneira conjunta pode levar a uma crise humanitária iminente na Grécia. Na semana passada, 24 mil refugiados e migrantes estavam presos no país e pelo menos 1,5 mil dormiam nas ruas.

Turquia recebeu a maioria dos refugiados

Mesmo assim, o número de migrante na Europa é bem menor que dos países vizinhos à Síria e representa pouco mais de 10% das pessoas que fugiram do conflito. Atualmente há cerca de 2,2 milhões de refugiados na Turquia e 1,1 milhão no Líbano, o que criou um mercado de trabalho ilegal e uma rede de exploração de mão de obra:

Na Síria ainda restam 8 milhões de pessoas que escolheram ficar, por falta de dinheiro para fugir ou temendo os riscos das travessias.

A renda das crianças contribui para despesas domésticas básicas, como o aluguel, as contas de energia e a comida. Segundo a ONG Save The Children, o desafio de lidar com o trabalho infantil é anterior à guerra, mas hoje é maior porque se entrelaça à crise humanitária.

Os jovens mais vulneráveis são envolvidos em exploração sexual, atividades ilícitas ou serviços perigosos na mineração e na construção pesada. A maioria deles, no entanto, trabalha no pequeno comércio e na agricultura.

Um terço das crianças nasceu durante a guerra

Uma em cada três crianças sírias nasceu em meio à guerra iniciada em 2011 e cresceu em um contexto de “violência, medo e desenraizamento”, segundo um relatório do Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) divulgado na segunda-feira (14).

Cerca de 3,7 milhões de crianças nasceram desde 15 de março de 2011. Entre elass, 151 mil nasceram em países que acolhem refugiados sírios, principalmente Líbano, Jordânia e Turquia.

Ao todo, a guerra afeta atualmente mais de 80% das crianças sírias, ou seja, 8,4 milhões, que seguem em território sírio ou no exílio, de acordo com o relatório.

“Cinco anos depois do início da guerra, milhões de crianças têm crescido rápido demais”, lamenta Peter Salama, diretor do Unicef para o Oriente Médio e Norte da África.”Elas continuam a deixar a escola, e muitas têm que trabalhar, enquanto as meninas se casam em uma idade precoce”, relata.

“Graças à trégua podemos brincar ao ar livre”

Nesse contexto sombrio, esboça-se uma esperança frágil desde a entrada em vigor, em 27 de fevereiro, de uma trégua e o início das negociações entre o regime e a oposição na segunda-feira (14) em Genebra.

Os alunos das áreas controladas pelos rebeldes em Aleppo (norte) puderam sair dos porões, onde, por medo de ataques aéreos, recebiam as aulas, constatou recentemente um jornalista da AFP.

“Graças à trégua podemos brincar ao ar livre”, diz Sidra, uma pequena síria. “Antes da trégua, não podíamos brincar ou comer no pátio”, diz Sarah, sua colega na escola Abdel Kader Bazenjki, no bairro de Fardus.

Em seu relatório, o Unicef denuncia 1.500 “violações graves” cometidas em 2015 contra as crianças, a maioria delas vítimas de “armas explosivas”. Mais de um terço delas morreram na escola ou quando estavam indo para a aula.

Além disso, “a taxa de escolarização na Síria caiu vertiginosamente”, diz o relatório, que estima que 2,1 milhões de crianças na Síria não vão à escola.

Recrutados cada vez mais jovens

A agência da ONU também expressa preocupação com o recrutamento de crianças cada vez mais jovens pelas diferentes partes envolvidas no conflito.

Inicialmente, esse fenômeno afetava principalmente homens de 15 a 17 anos, que atuavam como apoio atrás das linhas de frente.

Mas, em 2015, mais da metade dos recrutas eram menores de 15 anos, segundo o relatório. Estes jovens recebem treinamento militar, participam nos combates e em missões que colocam suas vidas em risco, tais como transporte e manutenção de armas.

O Unicef cita o exemplo de Huda, uma menina que aos 14 anos foi forçada a combater. “Eu estava apavorada. O comandante me deu uma arma e pediu-me para que eu me alista-se na linha de frente”, diz a jovem que agora vive em um campo de refugiados na Jordânia.

O grupo jihadista Estado Islâmico já divulgou vários vídeos terríveis nos quais crianças, às vezes muito jovens, executam prisioneiros.

A ONG Save the Children expressou recentemente sua preocupação com os efeitos devastadores dos conflitos sobre a saúde mental das crianças e também afirmou que ao menos 250 mil crianças se encontram sitiadas em localidades sírias cercadas por combatentes e que algumas são obrigadas a se alimentar com ração para animais e capim para conseguir sobreviver.

Para o Unicef, são necessários 1,4 bilhão de dólares em 2016 para ajudar as crianças a recuperar a sua dignidade e bem-estar. Mas a agência recebeu apenas 6% dos fundos necessários.

Destruição do patrimônio histórico

Os jihadistas do grupo Estado Islâmico (EI) destruíram o patrimônio histórico da cidade síria de Palmira, patrimônio da Humanidade pela Unesco.

Palmira abrigava as ruínas monumentais de uma grande cidade que foi um dos mais importantes focos culturais do mundo antigo. Os jihadistas destruíram o templo de Baalshamin e vários outras joias do passado.

Mais de 300 sítios históricos sírios foram danificados, destruídos ou saqueados durante o conflito. O EI considera as obras religiosas pré-islâmicas, em especial as estátuas, como idolatria.