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Erro no Cântico da Via Sacra

16/03/2016
Erro no Cântico da Via Sacra

Na Campanha da Fraternidade de 2016, promovida pala Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), alterou-se a expressão mais importante na Via Sacra. Ou seja, a CNBB se equivocou ao substituir uma palavra por outra nos versos da Canção que encerra cada uma das 14 Estações da Cruz. Ao invés de pronunciar: “… Pela Via Dolorosa/Vossa Mãe tão piedosa, / perdoe-me Meu Jesus”, cantam-se nas Igrejas e nas Procissões, erroneamente: “… Pela Virgem Dolorosa/Vossa Mãe tão piedosa/ perdoe-me Meu Jesus”.

Esse erro crasso (erro grosseiro) que se ouve no final do “cântico” de cada uma das Estações da Cruz não chamaria a atenção dos fiéis, se não existisse entre os “leigos” da Religião Católica alguns cristãos com conhecimento da Historicidade da Via Sacra e, consequentemente, também providos de saber gramatical sobre questões de sintaxe, de “concordância”, de semântica, de hermenêutica e de lógica.

Ora, a palavra “sintaxe”, derivada do Latim e que tem origem em termo grego, significa “coordenar”, logo, trata-se da parte da gramática que ensina “estruturar” e “unir” as palavras para formação de orações e expressar conceitos e definições. A “concordância” corresponde à flexão entre dois termos, podendo ser verbal ou nominal. No caso da concordância verbal, o verbo deve concordar com o seu sujeito. No caso da concordância nominal, o adjetivo deve concordar em gênero (feminino) e número (plural) com o substantivo a que se refere; logo, as flexões de pessoa, número e gênero se correspondem. A

“semântica”, que é ramo da lingüística, estuda o significado das palavras, das frases e dos textos de uma língua. A semântica está dividida em descritiva – que estuda o sentido atual das palavras – e em histórica – a que estuda as mudanças que as palavras sofreram no tempo e no espaço. A “semântica descritiva” estuda o significado das palavras e também as figuras de linguagem. A “hermenêutica” é palavra com origem grega e significa a arte ou técnica de interpretar e explicar um texto ou discurso. No caso relacionado à Bíblia, a hermenêutica consistia na compreensão das Escrituras, segundo as palavras de Deus. Gramaticalmente falando, a hermenêutica aborda duas vertentes: a “epistemológica”, que interpreta textos e a “ontológica”, que remete para a interpretação de uma realidade. A “hermenêutica” é palavra

relacionada com “Hermes”, que era o “deus” grego da oratória. A “Lógica”, que é um substantivo de origem grega, está relacionado com o logos, razão, palavra ou discurso, por isso é reconhecida como ciência ou arte do raciocínio. Em sentido figurado, a “lógica” está relacionada com um modo específico de raciocinar, de forma acertada.

Em sendo assim, o juízo lógico exige pronunciar: “… Pela Via Dolorosa/Vossa Mãe tão piedosa, / perdoe-me Meu Jesus”, porque a “Via Sacra” (Via Sagrada ou Via Crúsis) representa o caminho doloroso e sofrido que o Mestre dos Mestres percorreu ao lado da Sua Mãe, piedosa e chorosa, desde o Pretório Romano (local onde estava Poncio Pilatos) até o Monte do Gólgota (lugar do calvário), que significa “trajeto de dor e de sofrimento”, entre antigas árvores de Oliveiras, onde cruzes foram erguidas rigidamente contra o céu.

Aliás, desde meus sete (7) anos de idade, ouvi minha mãe cantar esse hino religioso, com os seguintes versos: “Pela via dolorosa / Vossa Mãe tão piedosa, / perdoai-me meu Jesus. (Bis)”. Essa época memorável já ultrapassa mais de meio século de existência.

Como dado histórico, sabe-se que a “Via Sacra” (caminho sagrado, em Latim) já existia no século IV, quando os romeiros visitavam em Jerusalém à Terra Santa, de modo informal os lugares santos onde aconteceram “a Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus”. Este costume se transformou no exercício prático da Via-Sacra que se mantém até os dias de hoje, no período da Quaresma (Semana Santa). Os antigos romeiros (peregrinos) percorriam a “Via Dolorosa”, em Jerusalém, no sentido inverso, ou seja, desde o Santo Sepulcro até o Pretório Romano. Segundo a tradição histórica, a piedosa e a compadecida Virgem Maria, Mãe de Jesus, depois da Ressurreição do Cristo, costumava percorrer a “Via Dolorosa”, revendo o Cenáculo, a Casa de Anás e de Caifás, o Pretório, o Getsemani, o Vale de Cedron, a Fortaleza de Antônia no Sião, o Horto das Oliveiras, o Calvário e o Santo Sepulcro… Pensemos nisso! Por hoje é só.