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EUA e Rússia anunciam cessar-fogo na Síria a partir de sábado

23/02/2016
EUA e Rússia anunciam cessar-fogo na Síria a partir de sábado
(Foto: ALAA AL-FAQIR)

(Foto: ALAA AL-FAQIR)

Estados Unidos e Rússia assinaram na segunda-feira uma declaração conjunta para anunciar a entrada em vigor do cessar-fogo na Síria a partir de 0h00 do sábado (19h em Brasília). O Departamento de Estado dos EUA foi encarregado de divulgar a informação, depois de uma conversa telefônica entre os presidentes Barack Obama e Vladimir Putin para fechar o acordo, informa Silvia Ayuso. O chefe da diplomacia dos EUA, John Kerry, tinha antecipado no domingo em Amã que já havia um princípio de acordo entre Moscou e Washington para a cessação das hostilidades e que ambos os presidentes negociariam os detalhes finais. Pouco depois do anúncio do cessar-fogo, o presidente sírio, Bashar al-Assad, anunciou a realização de eleições legislativas em 13 de abril.

A trégua do dia 27 — que se for cumprida porá fim temporariamente a quase cinco anos de guerra civil que provocou pelo menos 260.000 mortes e 11 milhões deslocados — não afetará o Estado Islâmico (ISIS) nem a Frente Al-Nusra (uma filial da Al-Qaeda na Síria), considerados grupos terroristas pela ONU, razão pela qual podem continuar a ser atacados.

O cessar-fogo só será aplicável às partes em conflito — Exército sírio e seus aliados russos, iranianos e libaneses (Hezbollah), de um lado, e os grupos rebeldes não qualificados como terroristas (oposição laica, islamita e curda) — “que tiverem anunciado antes do meio-dia da sexta-feira que respeitarão e aplicarão seus termos”, diz a declaração conjunta. Uma fonte da oposição síria citada pela agência Reuters afirmou no Líbano que a trégua terá uma duração inicial de duas semanas, podendo ser prorrogada por acordo entre as partes.

secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, saudou como “um sinal de esperança para a população síria” o anúncio do cessar-fogo feito pelas grandes potências e exortou as partes em conflito a respeitá-lo. O mediador das Nações Unidas, Staffan de Mistura, disse que voltará a convocar as negociações de paz em Genebra — que fracassaram no início do mês com a intensificação dos combates — o antes possível. A declaração conjunta sobre a cessação das hostilidades aconteceu no dia seguinte ao atentado mais grave cometido pelo ISIS em Damasco durante a guerra, que fez mais de 130 mortos nas proximidades de um santuário xiita no sul da capital síria. “É um momento de oportunidade que esperamos que venha a ser capitalizado pelas partes”, disse a Casa Branca. “É um passo real para deter o banho de sangue e combater o terrorismo”, disse por sua vez o Kremlin.

A trégua deveria ter entrado em vigor na sexta-feira, conforme acordado pelas grandes potências em Munique no dia 12, mas o aumento das hostilidades no terreno e a crescente participação turca no conflito — que bombardeou com sua artilharia posições das milícias curdas no norte da Síria — impediu a cessação das hostilidades. A Turquia, que também sofreu um ataque jihadista na semana passada na capital, Ancara, confirmou no domingo que não ordenará uma intervenção terrestre no vizinho país árabe.

O presidente da Síria, Bashar al-Assad, já havia antecipado que aceitava o cessar-fogo em uma entrevista ao EL PAÍS: “Estamos prontos, mas isso dependerá (…) de se será preciso impedir que os terroristas [rebeldes em geral, segundo Damasco] aproveitem a suspensão das operações para melhorar suas posições”. Assad advertiu então que continuará combatendo não apenas o ISIS e a Al-Nusra como também “outras organizações terroristas”, como Ahrar al Sham e Jeish Islam (Exército do Islã). Esses grupos rebeldes islâmicos fazem parte do Alto Comitê de Negociações (HNC, na sigla em inglês), reconhecido pela ONU como representante legítimo da oposição síria.

Os delegados do HNC se reuniram na segunda-feira na Arábia Saudita para estudar a proposta de cessar-fogo. O negociador-chefe Riad Hijab disse que a oposição aceitaria a trégua se ela acarretar no fim dos bombardeios russos, no fim dos cercos a populações civis e na libertação de prisioneiros nas prisões do regime.