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Marcos Mion revela presente inusitado que seu filho pediu no Natal

28/12/2015
Marcos Mion revela presente inusitado que seu filho pediu no Natal
(Foto: Divulgação)

(Foto: Divulgação)

Quem acompanha as redes sociais de Marcos Mion provavelmente já viu em algum momento uma demonstração de amor do apresentador pelos seus três filhos. Neste Natal não foi diferente. Ele aproveitou a data especial para contar uma linda história de seu filho mais velho, Romeo, de apenas nove anos, e que tem autismo.

No post, publicado no Facebook no último domingo, dia 27, o apresentador contou sobre o inusitado presente de Natal que o pequeno pediu para ele (pensando que era para o Papai Noel), e sobre a lição que aprendeu com isso.

Além de Romeo, Mion é pai de Donatella, de cinco anos, e Stefano, de apenas três.

Lições que aprendi com meu filho autista

Este texto é uma reflexão natalina. Um aprendizado.

Quanto mais eu leio para meus filhos sobre o menino Jesus e toda sua sabedoria, mais a identifico dentro da minha própria casa.

Não apenas os discípulos, mas todos que o conheciam, chamavam o menino Jesus de mestre.

Mestre não é um título que alguém pode atribuir a si mesmo. O mestre nasce da capacidade do interlocutor de reconhecer a sabedoria quando entra em contato com ela.

O mestre, para existir, por mais sábio que seja, depende da humildade daqueles ao seu redor de se reconhecerem numa posição de inferioridade, de aprendiz.

(E é assim que eu me sinto. Humilde e extremamente feliz de dividir meu dia a dia com uma criança que ilumina e engrandece todos ao seu redor).

Todos já me viram falar publicamente que me sinto abençoado e extremamente feliz por ter sido escolhido por Deus para ser pai de uma criança autista, ou como eu prefiro dizer, o guardião de um anjo. O meu Romeo.

Sempre que eu faço algum post, aparecem centenas de pais comentando e dividindo o mesmo sentimento de gratidão. Como se fosse um clube que, quem não faz parte, secretamente agradece e não consegue nem começar a entender o porquê daquelas pessoas serem tão gratas por fazerem parte dele.

Afinal, como que, na prática, meu filho me faz tanto bem? Como uma criança que, aparentemente, tem dificuldades, consegue me ensinar?

Como falei acima, parte da minha capacidade de identificar a sabedoria e transformá-la num aprendizado.

Vou contar o que aconteceu neste Natal e qual foi a lição que ele nos deu.

Como de costume, pelo fim de novembro, minha esposa, Suzana, e eu juntamos os três para fazer a cartado Papai Noel.

– Eu quero infinitos Legos!, disse o Stefano.

– Calma que já tenho minha lista separada em imagens no iPad, disse Doninha, lembrando da quantidade razoavelmente grande de presentes que já tinha separado entre borrachas da Hello Kitty e um tênis da Nike, além de várias coisas de menina de marcas que ela gosta.

Resumindo? Duas listas extensas e extremamente comuns para crianças que convivem num mundo tecnológico, repleto de marcas, com demandas que eu considero ridículas de consumismo. Propagandas em todo lugar, aquela maldita sensação, que eu odeio, causada na escola que é necessário ter para existir. Sensação que lutamos muito contra aqui em casa, enchendo as crianças de autoconfiança, dando centro para elas saber em que o que interessa na vida não são as coisas que o dinheiro compra, mas que, por motivos óbvios, sempre cerca qualquer criança hoje em dia. Ainda mais na época do Natal!!

Até que chegamos no Romeo e indagamos o que ele gostaria de ganhar do Papai Noel.

– Uma escova de dentes azul.

E agora chegamos ao ponto crucial desse texto.

Se você dá risada com essa resposta e pensa que o menino autista realmente está fechado no seu mundo e não conecta com a realidade, que é filho de um artista de TV, que poderia pedir qualquer coisa no mundo que ganharia e, burro, pediu só uma escova de dentes azul, esse texto não vai fazer sentido algum para você. Pode parar poraqui. Você não consegue identificar um ensinamento quando se depara com um.

Suzana e eu, instantaneamente, ficamos emocionados com aquela resposta. Ao meio de tanto consumismo, numa época que virou símbolo de consumismo, nosso mestre, sem saber, sem ter a consciência externa do que estava fazendo, afinal sua sabedoria é nata, é orgânica e instintiva, colocou nossos pés no chão, nos remontando com os verdadeiros valores do Natal.

O que realmente vale nessa vida? Essas coisas materiais vão com o tempo, quebram, ficam velhas e obsoleta tornando-se um lembrete vivo e constante do dinheiro que jogamos pela janela adquirindo valores que não interessam.

Não serei hipócrita e dizer que não é saudável comprar brinquedos e presentes. Não é isso. Sou totalmente a favor de usar o ato da compra material como recompensa e até como educação, inclusive de valores morais, mas fato é que existe um grande exagero nas proporções que o consumismo tomou hoje em dia, como mencionei explicando os pedidos dos meus outros filhos.

Ainda perguntamos para ele se não queria mais nada, um bichinho de pelúcia que ele adora, um iPad novo que, para quem não sabe, é uma das ferramentas mais poderosas de comunicação dos autistas com o mundo exterior, mas ele foi categórico: uma escova de dentes azul. É isso que eu quero ganhar do Papai Noel.

Até que finalmente chegou o dia do Natal. Fizemos a comemoração da véspera, deixamos os cookies feitos em família na varanda para o bom velhinho e todos foram dormir muito ansiosos com a visita do Papai Noel na madrugada.

Não preciso dizer que 5h já ouvi Tefo rasgando papel de presente! rs.

Levantamos para acompanhar e viver com eles todo esse momento mágico que tem data de validade, pois a crença real no Papai Noel não é eterna e, hoje em dia, acaba cada vez mais cedo. E enquanto Tefo e Doninha pareciam dois demônios da tasmânia envoltos em presentes e embrulhos, abrindo mais um e mais um e mais um, Romeo assistia de longe com um certo grau de tensão no ar.

– O Papai Noel trouxe minha escova de dentes azul?, ele perguntava sentindo o que eu identifiquei como medo de frustração! Uma real incerteza se ganharia aquele único e tão valioso presente. Lembrem que isso foi na manhã do dia 25, quase dois meses depois do dia que escreveram as cartas e essa ainda era sua única vontade, seu único desejo de Natal.

Conduzi Romeo até a árvore e o deixei identificar o presente com seu nome!

Fico emocionado ao lembrar, mas ele abriu o embrulho com uma expectativa tão grande, uma ingenuidade e um doutorado em desapego que, quando o último pedaço de papel revelou sua escova de dentes azul, ele foi tomado de emoção!! Abaixou a cabeça num alivio e se atrapalhou de tão forte que essa emoção veio.

Sim, ele chorou.

Chorou de alegria, inundado pela mais pura e bela emoção! Eu e Suzana choramos juntos.

Tão pouco…um presente tão simples…e aí me deu o estalo. Mestre!

Entendi que era algo muito maior do que uma simples escova de dentes. Ali, naquela emoção, naquela pureza, naquela humildade e, acima de tudo, naquele desapego, tive a maior lição de Natal da minha vida.

Obrigado Mestre, por mais uma. Te amo.

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