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A lama em Minas e em Brasília

02/12/2015
A lama em Minas e em Brasília

O Rio que era Doce em Minas Gerais ficou azedo, amargo, ácido, envinagrado. A correnteza de água cristalina ficou emporcalhada, impura, encardida, suja, contaminada, imunda, fétida e poluída. Água imprestável para ser usada no consumo humano e animal. Minha querida Ipatinga, cidade que nasceu da confluência dos Rios Doce e Piracicaba ficou tão triste quanto sua irmã a bela Governador Valadares. Segundo Moema de Castro Leite, mineira de sangue puro do Distrito de Bento Rodrigues, “morreu o lugar que eu nasci, morreu meu cavalo, meu cachorro e minha história… O peixe virou cimento, sobrou nada da plantação, nenhum quadro na parece, nada prova que sou José, nada diz que sou João… mas choro não limpa o rio, nem devolve a vida ao chão… correu longe o leito de morte, uma lama sem distinção… E o Rio, que era doce até então, hoje, vale nada não”.

Mas, mesmo que haja uma revitalização do caudaloso Rio Doce daqui há 10 ou 20 anos, a história deste Rio nos deixa saudade com um sabor de esperança e nos faz recordar um imortal passado de glória. A lama, as lágrimas e as mortes de pessoas inocentes deverão servir de estímulo e de arma dos ribeirinhos contra os governantes mineiros que, na sua ânsia de poder, de riqueza e de prestígio junto aos empresários, prevaricaram em detrimento do povo humilde, ordeiro e hospitaleiro de Minas Gerais.

O alienado e omisso Prefeito de Mariana, diante da tragédia que abalou as estruturas sociais e econômicas da sua região, usou suas palavras para dizer, simplesmente: “Mariana “fecha as portas” sem a mineração”. Em contra partida, Dona Vilma, uma brava mulher mineira da região de Conceição do Mato Dentro, assustada com a intervenção das mineradoras na região, foi prudente e iluminada ao afirma na TV Assembléia, que “Nós somos de uma terra rica em minérios, mas pobre em justiça!” Outro mineiro saudosista que protestou contra a possibilidade de destruição pela exploração de Minérios na sua cidade natal de Itabira, por via do seu poema “Confidência do Itabirano”, confessou que “Alguns anos vivi em Itabira. Principalmente nasci em Itabira… Tive ouro, tive gado, tive fazendas. Hoje sou funcionário público. Itabira é apenas uma fotografia na parede, mas como dói!”

No entanto, em que pese à angústia, a indignação e a tristeza dos mineiros de Ipatinga, de Governador Valadares, de Aimorés, de Caratinga, de Coronel Fabriciano, de Itabira, de Mariana, de Ouro Preto, de Ponte Nova, de Timóteo e de Viçosa, diante da catástrofe provocada pela Mineradora SAMARCO S/A, com o rompimento das suas Barragens em Bento Rodrigues (Mariana), vazando rejeitos tóxicos sobre as águas cristalinas do Rio Doce, que já alcança a bacia hidrográfica do Espírito Santo, esse povo ainda continua pujante, altaneiro, discreto, desconfiado, silencioso, que sabe ouvir, que não aprova nem desaprova, “muito antes pelo contrário”. Aliás, não perde “o trem”, porque é precavido, cauteloso e afável.

Pior do que a “lama de rejeitos tóxicos” que adentrou no Rio Doce, azedando e envenenando suas águas, cuja recuperação é previsível mesmo que demore alguns anos, o mesmo não se pode dizer com a “lama moral e institucional” que enlameou o Senado da República, com a prisão de um Parlamentar (Senador Delcídio Amaral (PT-MS), líder do Governo Federal, em pleno exercício do cargo eletivo, por ordem e decreto do Supremo Tribunal Federal (STF), acusado de corrupção e de tentar destruir provas contra ele e de planejar a fuga de outro corrupto, Nestor Cerveró, ex-Diretor da Petrobrás, com o fim de prejudicar as investigações da Operação Lava Jato, deflagrada pela Polícia e pela Justiça Federal… Pensemos nisso! Por hoje é só.