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Um olhar sobre os necessitados

06/11/2015
Um olhar sobre os necessitados

   O Padre Renato Chiera publicou um livro que foi apresentado na Bienal de São Paulo, no ano passado. O título do livro é “Presença do Inferno”. O aludido sacerdote, sempre afável, encontrou o produtor musical Rafael Volpe, na Bienal, e convidou-o a fazer uma visita à Casa do Menor em Nova Iguaçu, no Rio de Janeiro.

   O livro trata de pessoas ignoradas do poder público, de viciados em drogas e de crianças desprezadas, violentadas e maltratadas. O convite foi aceito, o músico conduz, na bagagem, seu estúdio em direção à Casa do Menor.

   Nessa casa, afirma o convidado: “Doei-me totalmente para a comunidade”. Afinal, o que foi encontrado: bebês em situação de risco, crianças que sofreram maus tratos, abandonadas e sofreram toda a espécie de abuso.

   Alguém que cuidava das crianças chegou a dizer que sentia que estava ali Jesus Menino. “Jesus disfarçado no meu colo”. O visitante percebeu que, naquela casa, havia vários voluntários que davam muito amor àqueles seres tão frágeis e tão indefesos. E as crianças estavam sentindo o amor até estão desconhecido.

    As crianças, com um pouco de mais idade, viram no visitante alguém que dava amor e foram fazer vários penteados naquele que as visitava, cantaram, contaram histórias e ouviram histórias. Foi uma festa!

    Mais tarde, em outro abrigo anexo à Casa do Menor, o visitante entrou em contato com os adolescentes. Sabia que eram ex-usuários de drogas e alguns eram até criminosos. Rafael Volpe que foi simplesmente fazer uma visita e cantar algo, para alegrar aqueles seres esquecidos e desprezados, torna-se agora alguém com o qual os adolescentes contam suas histórias, como se já se conhecessem há anos.

   Os internos mostram seus sonhos, falam de suas esperanças e de suas transformações. E o cantor aproximou-se mais daqueles seres e pede que coloquem na lousa algumas palavras que indicassem suas aspirações, seus sonhos, seu futuro. Até mesmo as rimas foram solicitadas e veio mais tarde a música.

    Escreveu “ipsis litteris” Rafael Volpe: “Rimas de adolescentes que sequer acreditavam que eram alguém ou que pudessem ser ouvidos. Histórias de mortos/ vivos, segundo eles mesmos. Mensagem de paz que eles não acreditavam mais. Juntamos batidas, ritmos, sons e rap para fazê-los acreditar que existe vida após o crime e que existe o perdão após o pecado. Voltei para casa e o sentimento era de que uma pequena luz se acendia a cada gesto”.

     Não é difícil suspeitar que o livro do Padre Renato Chiera intitulado “Presença do Inferno” trata da situação das crianças e dos adolescentes, quando, em situação de risco e abandonadas, estão sentindo a presença do inferno.

   Eis por que Rafael Volpe fez um artigo publicado na revista “Missão Nova”, com o título: “Um olhar pelos esquecidos.” Recebendo, portanto, acolhida, compreensão, o pesadelo pode transformar-se em sonho, o desengano será vencido pela esperança e o mundo será melhor para os que já estavam como que no pórtico do inferno. E suave luz no final do túnel começou a aparecer.