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Ivan Barros faz lançamento de biografia sobre Suruagy na AAL

08/11/2015
Ivan Barros faz lançamento de biografia sobre Suruagy na AAL
O ESCRITOR Ivan Barros em discurso na Academia Alagoana de Letras apresentando a biografia de Divaldo Suruagy

O ESCRITOR Ivan Barros em discurso na Academia Alagoana de Letras apresentando a biografia de Divaldo Suruagy

O escritor Ivan Barros lançou na última sexta-feira, 23, na Academia Alagoana de Letras, o livro “Divaldo Suruagy, vida e obra de um estadista”. A solenidade teve presença expressiva de intelectuais e amigos do biografado. Na ocasião, o autor Ivan Barros fez uma saudação aos presentes.

Leia trechos do discurso do escritor:

“Meus Senhores, Minhas Senhoras,

Ao adentrar os umbrais desta Casa de Inteligência Alagoana, Cenáculo da Cultura, chega aos meus ouvidos vozes que o tempo silenciou, me vem à memória, figuras que a roda da vida levou.

Carlos Moliterno, Ib Gatto Falcão, Fernando Iório, Teófanes Barros, Medeiros Neto, GuiomarAlcides de Castro, Cléia Marsiglia, Silvio Macedo, Helionia Ceres, Raul Lima, Ilza Espirito Santo Porto, Alcides Gusmão, Ledo Ivo, Humberto Cavalcante, João Azevedo, José Medeiros, Anilda Leão.

Creio que fui um dos últimos a falar com Anilda. Ela me telefonou, dizendo que estava muito doente, sentindo muitas dores, e lendo o meu livro “Eutanásia” e criou coragem para cometer a eutanásia. E respondi que não fizesse isto. Quando a medicina não cura, a fé cura. Que ela fizesse preces a Santa Teresinha do Menino Jesus, de quem sou devoto, e ela alcançaria a graça da cura. E mandei para ela um santinho com a oração da Teresa de Lisieux. Mas ela não recebeu. Morreu dois dias depois. Como eu me lembro de Anilda, a poetisa, a pintora, a cantora lírica, a pianista, mulher sensível, simples.

Quando Pontes de Miranda aqui esteve, visitando Alagoas depois de 50 anos ausente, a meu convite, recepcionado no Hotel Luxor, Anilda foi ao piano, começou a dedilhar e cantar: “Tu não te lembras da casinha pequenina/ onde o nosso amor nasceu/ Tinha um coqueiro de lado/ e o coitado de saudade/ já morreu…”.

Pontes de Miranda, um gênio, estava próximo a mim, a sua mulher Amnéris e Adalberon Lins. E o Velho Pontes começou a lacrimejar os olhos. A Embaixatriz Amnéris perguntou: “Por que choras Francisco?”. E ele respondeu: “É que esta música me faz lembrar a casa do Mutange, onde vivi a minha juventude”. E tirou o lenço do bolso, chorou e enxugou as lágrimas. Ele era um gênio. E eu pensava que os gênios não choravam. E Anilda fez um gênio chorar.

Hoje, eu imagino Moliterno e Anilda juntos, de mãos dadas, entrelaçadas, passeando pela Pátria Etérea, longe da matéria, vivendo uma nova história de amor…

O AUTOR IVAN BARROS e as filhas de Divaldo Suruagy Walkíria, Cristina, Patrícia e Mônica presentes ao lançamento

O AUTOR IVAN BARROS e as filhas de Divaldo Suruagy Walkíria, Cristina, Patrícia e Mônica presentes ao lançamento

Esta noite, presto homenagens a Divaldo Suruagy, com o lançamento de sua biografia. BIO – Vida, GRAFIA – Escrita. A escrita de sua vida.

Conheci Divaldo Suruagy nos idos de 1970, quando fui candidato a deputado estadual pelo MDB.

Achava-me em São Marcos (antigo Riacho do Sertão), distrito de Major Isidoro. Na ocasião, fazia um discurso, em frente a casa de Hildebrando Cintra, para os feirantes, quando Divaldo chegou, era candidato a deputado estadual pela ARENA. Ele veio a mim, cumprimentou-me, e disse: “Você tem discurso de deputado. Faço votos que se eleja”. Agradeci. São Marcos tinha 800 eleitores. Com o apoio dos Cintra, Vavá Tenório e Jorge Preto, fazendeiros locais, esperava obter no mínimo 400 votos. Houve a eleição. Apurados os votos, tive uma surpresa desagradável. Divaldo arrancou 420 votos, e eu apenas 185 votos. No Estado, a apuração dos votos prosseguia, fui o mais votado em Palmeira dos Índios, Igaci, Minador, Cacimbinhas, Belém, e a imprensa noticiava que eu estava entre os eleitos. No entanto, Valter Figueiredo, de meu partido, MDB, obteve uma consagradora votação em Rio Largo, sua terra natal, passou a minha frente, tive no Estado 5.520 votos. Ele, Valter 5.580 votos, e eu perdi porque me faltaram 60 votos. Fiquei na primeira suplência.

Desencantado, amargurado pelo insucesso eleitoral, meu dileto e saudoso amigo Tobias Granja, residente no Rio de Janeiro, diretor da revista “O Cruzeiro”, sabendo do resultado, convidou-me para ir ao Rio de Janeiro fazer jornalismo. Tobias era filho de meus padrinhos Manoel Granja e Adelaide Granja. E decidi que iria para o Rio. Nesse ínterim, Divaldo me procurou e disse-me: “Se eu soubesse que a votação de São Marcos iria lhe prejudicar, não teria ido buscar votos”. E eu respondi: “A política é assim. Você tem méritos e cacife”.

Divaldo, o mais votado do Estado, cerca de 10 mil votos, era cotadíssimo para a presidência da Assembleia e ofereceu a mim um cargo de assessor na Mesa Diretora, prometendo trabalhar junto a Valter Figueiredo, para eu assumir o mandato de deputado estadual.

Disse a Divaldo que não aceitava, pois havia trabalhado para ser deputado e não assessor de deputado.

Estava programado para ir ao Rio de Janeiro, tentar a vida de jornalista, porque não havia perspectivas de melhoras em Alagoas.

Casei-me com Zenilda. E no ônibus da empresa São Geraldo, com 2 mil cruzeiros no bolso, fui para o Rio, com a cara e a coragem, mas muita fé. Cheguei ao Rio, depois de 4 dias de viagem estafante, e me hospedei na casa de meu irmão, Luiz Carlos, que me abrigou durante 30 dias. Procurei Tobias, que tentou me empregar na Revista “O Cruzeiro”.

Mas David Nasser, disse a Tobias que estava surgindo uma revista nova no Rio, para concorrer com a “Cruzeiro” e Assis Chateaubriand havia determinado o enxugamento da folha do pessoal, não contratando mais repórteres. Tobias então procurou um amigo, Jairo Costa, grande empresário imobiliário, dono da OCA, muito conceituado, intelectual, e ele ligou para seu cunhado, Arnaldo Niskier, diretor de jornalismo da nova revista MANCHETE, de Adolfo Bloch.

Levei meu currículo, e na sede da Manchete, na praia do Russel, fui atendido por Niskier, que empregou-me como auxiliar de repórter, com o salário de 3 mil cruzeiros. Comecei a trabalhar. Aluguei um apartamento na Rua Silveira Martins, 127, apto. 103, por mil cruzeiros mensais. Distante da redação apenas 500 metros. Tinha vantagem: não pegava transporte para ir ao trabalho.

Dois meses depois aconteceu o assassinato de Valter Mendes, e que causou grande repercussão no País.

Sugeri a Niskier uma reportagem porque conhecia Valter e a história dos Mendes. Niskier aprovou. Pedi, por telefone, que Zadir Cassela, diretor da “Gazeta”, que me ajudasse, mandando fotos da tragédia. Recebi-as através dos serviços de encomenda da Transbrasil. E escrevi a reportagem: “Assim como os Kennedy, na guerra da política, eles vão tombando um a um. Alagoas até o último Mendes”. Quatro páginas ganhei e uma chamada na capa da revista. Niskier disse-me: “Você começou com o pé direito”. Um mês depois, os Bloch compravam 4 teletipos, da United Press, Associated Press, France Press e Reuters.

Um grande avanço: os teletipos traziam notícias nacionais e internacionais, 24 horas por dia. Niskier convidou-me para tomar conta e fazer um boletim informativo, com três edições diárias e que seriam distribuídas aos diretores e chefes da redação das revistas da Bloch Editores.

Um técnico das empresas de teletipo ensinou-me a lidar com elas. Ligar, desligar, tirar a bobina de papel. Instalaram os teletipos numa sala vizinha a redação, fechada com vidros, ar condicionado, rádio, xerox, e distribuía os boletins. Nas quintas-feiras fazia uma pauta das principais notícias da semana e sugestões para reportagens.

Aumentaram o meu salário para 4 mil cruzeiros. E ficava de plantão na redação aos sábados e domingos, ganhando mais 800 cruzeiros. Fiz o vestibular de Direito na Faculdade Brasileira de Ciências Jurídicas, aprovado, comecei a estudar no curso noturno. Trabalhava na manchete de 7 horas da manhã às 4 horas a tarde. Saía da Manchete e ia para a Luta Democrática, trabalhar como redator-chefe, empregado pelo meu amigo Tenório Cavalcanti, ganhando mil cruzeiros.

Saía do apartamento às 7 da manhã, e voltava, depois das aulas da faculdade, às 9 horas da noite. Fazia refeições na Manchete. Trabalhei muito. Estudando. Estudando.

Como editor de Pauta na revista, fiz grandes reportagens. O Crime de Sacopã, com Bandeira, acusado, colocado em liberdade por Tenório Cavalcanti, que provou a sua inocência, porque o autor do crime tinha sido Valter Avancini. Tive exclusividade na cobertura do caso, com apoio de Tenório Cavalcanti. A reportagem saiu com destaque e ganhou a capa da revista.

No plantão, fiz a cobertura da morte de Dana de Teffé, morta pelo advogado Leopoldo Heitor, o Advogado do Diabo, que matou-a por passionalismo e pela herança de Dana de Teffé.

O pior plantão da minha vida foi à noite em que JK morreu em acidente na Via Dutra. Fui o primeiro repórter a chegar ao local, acompanhado do fotógrafo Gervásio Batista. Vi coisas inacreditáveis que me levaram ao conhecimento de que o acidente foi planejado, foi assassinato. Conto isso em meu livro “O Assassinato de JK”.

Estava de plantão quando ocorreu a morte de Maysa Matarazzo, na ponte Rio Niterói. Outra reportagem de sucesso “A Saga de Maysa”. Numa tarde de sábado, ouvia a rádio Globo, de plantão, e veio a notícia da morte de Carlos Lacerda. Fui imediatamente ao hospital São Vicente, em Botafogo, onde estava o corpo de Lacerda, e vi uma enfermeira, pelo corredor, chorando, e com uma seringa na mão, dizendo:

“Mataram Doutor Lacerda. Deram uma injeção errada”.

Voltei para a redação e comecei a escrever o texto, contando a cena da enfermeira. O meu colega de redação, Magalhães Jr. Aconselhou-me a não incluir no texto o comportamento da enfermeira. O diretor do hospital apressou-se em dizer que tinha acontecido um choque anafilático. Na redação da Manchete, chegaram os asseclas de Golbery do Couto e Silva, da SNI, e censuram a reportagem, um deles perguntou quem é o repórter, eu me apresentei, e ele ameaça: “O senhor tenha cuidado e seja mais responsável e prudente”. Eu fiquei na minha.

A reportagem saiu sem falar na enfermeira, que sumiu do hospital Depois soube que tinha ido morar em Juan Porto Cabalero, no Paraguai e nunca mais voltou ao Brasil.

A morte de Lacerda, como a de JK, ainda hoje é um mistério. Fiz também a cobertura da morte de Zuzu Angel. Fui ao local do acidente simulado, encontrei seu corpo sendo removido pelo IML e vi o carro com marca de colisão. Hildegard Angel disse-me que foi planejado o acidente e estava ligado à morte de Stuart, filho de Zuzu. Outro mistério, na época da odiosa e cruenta Ditadura.

Como repórter entrevistei Pontes de Miranda. Eu o conheci num jantar do clube dos repórteres de Alagoas que oferecia um jantar a Afrânio Lages. Tornei-me amigo de Pontes de Miranda. Freqüentava sua mansão na Prudente de Morais, em Ipanema, almoçava com ele e saía para clubes, com ele e sua esposa, a Embaixatriz Amnéris.

Fiz uma reportagem com Pontes de Miranda que publiquei na Revista Fatos&Fotos da Bloch Editores.

“Ele só tem, apenas, 50 mil livros”. E mostrava pela primeira vez a biblioteca de Pontes, que tinha uma Bíblia escrita em hebraico, com 200 anos. Levei Pontes de Miranda para Alagoas, depois de 50 anos de ausência.

O ACADÊMICO Dr. Diógenes Tenório, abrindo a sessão, na ausência do presidente da Academia, fazendo a saudação disse: “Esta solenidade é simples, como simples é o nosso colega Ivan Barros e simples foi Divaldo Suruagy”.

O ACADÊMICO Dr. Diógenes Tenório, abrindo a sessão, na ausência do presidente da Academia, fazendo a saudação disse:
“Esta solenidade é simples, como simples é o nosso colega Ivan Barros e simples foi Divaldo Suruagy”.

No Rio, entrevistei Raquel de Queiroz, Nise da Silveira, fui, várias vezes ao seu apartamento acompanhado de Ledo Ivo e ela me concedeu dois depoimentos publicados em meus livros “Graciliano Era Assim” e “Abrindo a Janela do Tempo”. Um, sobre Graciliano Ramos e outro sobre Olga Benário

Prestes, que foram companhia de Nise da Silveira no cárcere. Rodeada de gatos – ela criava 10 gatos – os olhos de Nise brilhavam quando falava em Alagoas. Ofereceu-me um livro precioso: “Psiquiatra forense”, que guardo com cuidado em minha estante. Fiz entrevista com Janette Clair, autora da novela “Pecado Capital”, de grande sucesso na época. Entrevistei Haroldo Valadão, meu professor de Direito Público, Procurador da República, que recusou-se a assinar o Ato n° 5. Entrevistei Roberto Lyra, autor do Código Penal de 1940.

O ator Paulo Gracindo, alagoano de Viçosa. Uma boa amizade. Sempre que vinha de Alagoas, trazia sururu para ele e Pontes de Miranda.

Entrevistei Chico Xavier. Ele perguntou-me se eu gostava da profissão de repórter e respondi que sim.

Era a minha profissão. Ele pôs a mão em minha cabeça e profetizou: “Você vai deixar o jornalismo e vai ser magistrado”. Anos depois, ingressei no Ministério Público, como Promotor de Justiça, um magistrado em pé.

Em 1977, Divaldo Suruagy obteve 65% em seu segundo mandato de Governador. Uma votação inédita com repercussão em todo País. Câmara Cascudo, dirigia as sucursais da Manchete, no Nordeste.

Pernambuco, Ceará. Sabendo de meu relacionamento com Suruagy, veio a mim e me pediu para convidá-lo para um jantar na Manchete. Cascudo queria verbas publicitárias da ASPLANA porque Alagoas era o maior produtor de álcool do Brasil e investir no plano de educação de Alagoas vendendo livros didáticos produzidos por Bloch Editores.

Assim fiz. Suruagy atendeu ao convite, reuni personalidades que residiam no Rio, Afrânio Melo, Teotonio Vilela, Geraldo Bulhões, Mário Berard, Diegues Júnior, Raul Lima, Péricles Barros, Tobias Granja, Juarez Ferreira e Mendonça Neto. Suruagy trouxe Benedito Bentes.

Após o jantar, Suruagy, sabendo que havia me formado em Direito, convidou-me para fazer o concurso de Promotor de Justiça que ele havia programado em Alagoas.

Convidou a mim, Tobias Granja, Juarez Ferreira e Mendonça Neto. Tinha férias acumuladas na Manchete, pedi 15 dias. Suruagy mandou-me a passagem aérea. Em Maceió, no Palácio, Divaldo chamou

Carlito Lobo, Procurador Geral de Justiça, perguntou a ele, quantas vagas. Carlito disse: “Três vagas, já que tem 35 candidatos. E Suruagy disse a Carlito: “Ivan é o meu candidato. Oriente a ele”. E Carlito pediu-me para estudar certos pontos de Direito Penal, Processual Penal, Direito Civil, Constitucional, e a Lei do Divórcio recentemente promulgada. Não tinha essa Lei. Carlito me arranjou uma cópia. Estudei com afinco. Nas provas escritas, tirei o 3° lugar e na prova oral, tendo a comissão julgadora Edgar Valente de Lima, José Torres, Joubert Scala e Carlito Lobo, fui aprovado com nota 10.

Fiquei em primeiro lugar. Disse a Divaldo o resultado e ele disse: “Sua nomeação são favas contadas”.

Voltei ao Rio, escrevi uma carta pedindo demissão, a Niskier, dispensando as vantagens empregatícias, apenas o FGTS. Com o dinheiro do FGTS pagaria o transporte da mobília e de meus livros.

Voltei para Alagoas e fui nomeado por Suruagy. Percorri várias comarcas. Destaquei no Tribunal do Júri, como orador. Considerava o Júri um teatro. E fui um bom ator. Caravanas de estudantes da UFAL iam assistir os julgamentos que eu atuava. A tal ponto que, em Arapiraca, um fazendeiro rico, cometeu um crime e foi a julgamento, e ele mandou me oferecer dinheiro para não atuar contra ele. Fiz o júri. Ele foi condenado a 25 anos.

Atuei na promotoria de Palmeira dos Índios. Fui promovido para Maceió, 1ª Vara Cível e pedi a aposentadoria. Divaldo e Dilmar Camerino achavam que minha aposentadoria era precoce.

Estava o meu nome no quinto constitucional do MP e poderia ser desembargador. Mas eu disse que meu projeto era advogar e fazer jornalismo, pois tinha saído direto da faculdade para o MP. E me aposentei. Em Palmeira, com o dinheiro ganho na advocacia, comprei um terreno, construí o prédio, comprei uma gráfica, uma impressora rotativa, contratei gráficos e inaugurei o jornal com a presença de Suruagy e Renan, que sempre acreditaram no jornal. Suruagy escreveu até uma semana antes de morrer. E Renan continua escrevendo, em 20 anos de circulação. Resolvi entregar o jornal ao meu filho Vladimir, que modernizou o jornal e continua a frente da empresa.

Dediquei-me a escrever livros.

Pertencia a Academia desde 1990. Já escrevi 29 livros. Na época da internet, dos tabletes, ainda creio no livro impresso. “Nada que o homem constrói, vive mais do que um livro”, é a frase existente na Biblioteca Nacional.

E hoje apresento este livro que é a biografia de Divaldo.

Divaldo Suruagy morreu numa tarde cinzenta de março, mês de seu aniversário. Ao saber de sua morte, chorei muito. Sentimento assim só senti quando morreram meus pais e meu irmão Fernando.

A morte é o estágio da vida. Os seres humanos nascem, crescem, vivem e morrem, como os dias.

Suruagy partiu para a eternidade. Dizem que nós acadêmicos, somos imortais. Não. As obras literárias que escrevemos que são imortais. Os livros têm perpetuidade. Não somos imorríveis.

Suruagy morreu e deixou uma dor coletiva no Estado. Aos 79 anos desapareceu de nossa convivência, mas jamais desaparecerá de nossa saudade que é a memória do coração. Aqui a vida continuará e continuará viva a sua lembrança, pois as almas segundo Raul de Leoni, são como as flores, no lugar onde viveram, deixam pairando no ar sua essência, despertando em nós lembranças inesquecíveis.

Mas a lei da vida é irrevogável. Nascemos todos para morrer. Quero agradecer a amabilidade das pessoas aqui presentes, tolerando a extensão destas palavras. Elas foram ditadas pela emoção. Agradeço aos que atenderam ao meu convite. E encerrando, permitam- me fazer uma confissão de foro íntimo.

É que, aos 73 anos, acometido de cardiopatia, dia após dia, sinto que aproxima-se a hora de atravessar o rio da vida, para o outro lado desconhecido, numa travessia sem retorno.

Aos 73 anos, peregrinando pelos caminhos da vida, cheios de pedras, urzes e espinhos, sempre olhei para o alto, querendo a luz de uma estrela para mim.

E, no entanto, só tive a luz de um pirilampo. Era o que tinha a dizer.