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As entrevistas que abalaram o Regime Militar

13/09/2015
As entrevistas que abalaram o Regime Militar

O historiador Edberto Ticianeli publicou no excelente Blog HISTÓRIA DE ALAGOAS ( www.historiadealagoas.com.br) uma matéria buscada em idos de 1979: “Capitão Carlito Lima, as entrevistas que abalaram o regime militar”, da qual transcrevo parte aos leitores amigos.
” – Carlito Lima, ficou conhecido como escritor após ter lançado o livro Confissões de um Capitão, em 2001, pela Garamond, mas, o que poucos sabem é que antes de tornar-se celebridade, Carlito já tinha frequentado a mídia nacional por ter se colocado frontalmente contra a Ditadura Militar em 1979, quando já era capitão da reserva do Exército.
Hoje ele confessa que nunca imaginou que aquelas entrevistas tivessem tanta repercussão. “Naquela época foi nitroglicerina. Soube que a entrevista foi pauta de reunião, sobre a anistia, do Alto Comando Militar ”.
Carlito explica a ideia da entrevista surgiu numa conversa informal, de praia, com o jornalista Bernardino Souto Maior do semanário DESAFIO. Eles comentavam sobre o decreto do general Figueiredo proibindo militar da ativa ou da reserva de fazer pronunciamento político.
DESAFIO – Carlito, como é que fica sua situação? Você entrou na política e agora o general Figueiredo, em decreto, proibiu todos os militares, inclusive os da reserva, de se manifestarem politicamente?
CARLITO – Não sei. Inclusive penso ser candidato a vereador em Maceió nas eleições de 80. Como vou dar o recado? se sou pela democracia plena, pelas eleições diretas, a favor da anistia total e irrestrita, e, mais que nunca, tenho a convicção de que a “Revolução” acabou.
DESAFIO – Como foi essa sua decisão de deixar o Exército e entrar na política?
CARLITO – Depois de 16 anos de vida militar, algumas decepções profissionais e políticas, resolvi sair do Exército. Fazia a Faculdade de Engenharia quando o A1-5, em 1968, determinou a aposentadoria compulsória a todo militar que fosse subversivo, corrupto, pederasta ou eleito para algum cargo político. Foi aí que vi a oportunidade de sair do Exército com vencimentos proporcionais ao tempo de serviço. Das quatro opções, preferi a política. Eleito prefeito de Barra de São Miguel, fui automaticamente aposentado e hoje pertenço à reserva do Exército.
DESAFIO – Como se sentiu em sair do Exército, com regalias, mandando, tendo o poder, sendo cortejado, respeitado, para ficar do outro lado?
CARLITO – Quando rebentou a Revolução em 1964, eu era um jovem tenente crente e entusiasmado com o movimento militar, achava que era a solução para a esculhambação, a anarquia que reinava no país.
O propósito da Revolução de 64 era segurar as eleições gerais em 1965. Eu servia na 2ª Cia. de Guardas em Recife, tropa de elite do IV Exército. Participei ativamente de várias missões com meu pelotão fortemente armado, eram missões espinhosas. Participei mesmo.
DESAFIO – Houve sangue, morte?
CARLITO – Onde participei não houve morte, muita correria, pedras de um lado, cassetete do outro e prisões. Mas houve morte no Recife…

ENTREVISTA À GAZETA DE ALAGOAS

Roberto Vilanova , outro grande repórter do jornalismo alagoano, também procurou Carlito e conseguiu uma boa matéria para Gazeta.
ROBERTO – Como é que o Sr. define a situação política do Brasil, depois de 15 anos de Revolução?
CARLITO – A Revolução aconteceu, ajudei a fazê-la em 1964, como oficial do Exército da tropa de elite do Recife, a 2° Cia. de Guardas. Mas a Revolução não atingiu os objetivos a que se propôs, primeiro a garantida da eleição para presidente em 1965. Descambou por caminhos diferentes. Não é mais possível impor à nação outros 15 anos de militarismo. O nosso país está amadurecido, os militares devem voltar urgentemente aos quartéis.
ROBERTO – Quer dizer que o Sr. se sente frustrado?
CARLITO – Exatamente. E tenho medo de que meus filhos venham mais tarde a me indagar com o que contribuí.
ROBERTO – Como político, o Sr. se situa na direita, centro ou esquerda?
CARLITO – Sou apenas um democrata e acredito no seguinte: o Poder deve emanar do povo e fora disso tudo é ilegítimo.
ROBERTO – Mas o senhor acabou de dizer que apoiou a Revolução.
CARLITO – A Revolução tinha um objetivo, garantir a eleição de 1965, e ficaram no poder ha 15 anos, quem imaginaria? O presidente Marechal Castelo Branco era um democrata convicto. Mas depois veio o Marechal Costa e Silva, o general Médici, da linha-dura. A Revolução trilhou por outros caminhos e não dá mais para fazer experiências. Já se tem uma geração aí que se formou sob o regime de exceção…”
ENTREVISTAS COMPLETAS NO SITE: www.historiadealagoas.com.br