Geral

Humanização nos CAPs assegura dignidade para portadores de transtornos mentais

17/05/2015
Humanização nos CAPs assegura dignidade para portadores de transtornos mentais
CAPs passaram a ser responsáveis pelo tratamento dos portadores de doença mental, em substituição ao internamento (Foto: Carla Cleto)

CAPs passaram a ser responsáveis pelo tratamento dos portadores de doença mental, em substituição ao internamento (Foto: Carla Cleto)

A humanização da assistência aos pacientes com transtornos mentais e usuários de álcool e drogas tem sido o caminho utilizado pelos gestores públicos de saúde nos últimos anos. E, essa nova forma de ver essas pessoas, está fazendo com que o tratamento seja mais ético, solidário e não haja exclusão, assegurando a sua dignidade.
Nesse processo de transformação longe dos muros dos hospitais psiquiátricos, os Centros de Atenção Psicossocial (CAPs) têm contribuído e levado esperança para quem estava acostumado a viver longe do convívio da sociedade e da família. Em Alagoas, atualmente, 55 CAPs atendem uma centena de pacientes com transtornos mentais, que recebem uma assistência com multiprofissional e com acesso ao lazer.
A partir de 2002, com a Lei 10.216, da Reforma Psiquiátrica, os CAPs passaram a ser responsáveis pelo tratamento dos portadores de doença mental, em substituição ao internamento. A tendência é que as unidades hospitalares sejam fechadas em todo Brasil, como já vem ocorrendo em alguns estados. Em Alagoas, o hospital Portugal Ramalho deverá se transformar em um hospital para cirurgias e atendimento de clínica geral e psiquiátrica.
“Os Caps oferecem um novo tipo de tratamento, trazem um novo olhar e estabelecem a cidadania do paciente, que é acolhido, deixa de ser uma pessoa isolada e passa a conviver com a sociedade e a família”, disse a assessora técnica da Gerência de Saúde Mental da Secretaria de Estado da Saúde, Telma Alves.
Uma equipe multiprofissional, formada por psicólogos, médicos, assistentes sociais, enfermeiros, educadores físicos e técnicos de enfermagem são responsáveis pela assistência desses pacientes. Mas a família também tem papel importante para que o tratamento tenha resultado positivo. “Como o paciente não fica internado, a família também recebe a atenção devida e é tratada com ele”, frisou a assessora técnica da Saúde.

CAPs Everaldo Moreira

Um exemplo dessa política, que lança um novo olhar para o paciente com transtorno mental, usuários de álcool e outras drogas, é o CAPs Everaldo Moreira, no bairro Farol, em Maceió. Por lá, passam centenas de pacientes, que recebem diariamente assistência especializada da equipe multiprofissional. Entre eles, há os que retornam para casa no final do dia e os que estão em situação de vulnerabilidade social e necessitam de atendimento intensivo, por um período de 15 dias.
O prédio onde está localizado é um espaço arborizado, amplo, com locais de atendimento, uma área para prática de futebol e um amplo galpão por onde circulam. Em nada lembra os muros de uma unidade hospitalar, onde alguns passaram dias totalmente isolados da sociedade e, até mesmo, sem ter a visita da família. A sensação de liberdade é mais um incentivo para que continuem com o tratamento.
O educador físico João Henrique Rocha, que também faz parte da administração do CAPs Everaldo Moreira, disse que a proposta do trabalho não é forçar o paciente a se tratar, mas conscientizar, através de um diálogo onde é evidenciada a importância da unidade, que poderá mudar seu modo de vida futuramente. No local, nada é forçado, quem não quer ser assistido tem total liberdade e a porta está sempre aberta, cabendo ao paciente fazer esta escolha.
Durante todo o dia, o paciente recebe os cuidados dos profissionais, além das atividades educacionais, esportivas e as refeições que são fornecidas. Em média, são de 30 a 40 pessoas atendidas diariamente.
João Henrique explicou também que há uma ação voltada para inserção no mercado de trabalho, mas isso ocorre através da solidariedade das pessoas que trabalham no CAPs e, consequentemente, acabam os indicando para o mercado de trabalho.

Força para mudar

A história do ex-mecânico Cláudio Jorge Albuquerque, 51 anos, não é muito diferente de centenas de pessoas que tentam abandonar o uso do álcool. Ele sabe como ninguém como é essa luta, que trava diariamente contra o vício, que o levou a perder a família e a sua fonte de renda.
O profissional, que trabalhou em várias empresas de Maceió e, inclusive, chegou a montar seu próprio negócio, viu tudo ruir em pouco tempo, devido ao consumo exagerado de álcool. O vício foi o responsável pelo fim dos dois casamentos que Cláudio Jorge teve, pelo abandono da profissão e por passar a viver em situação de rua em Maceió.
Os pais tentaram de todas as formas a sua reabilitação, mas sempre havia uma recaída. Até o dia em que um amigo que tinha frequentado o CAPs o convidou para fazer o tratamento. Sem pensar duas vezes, pediu ao pai que o levasse à unidade.
“Passei 11 anos sem beber, cheguei a frequentar uma igreja evangélica, mas depois voltei ao vício e bebia todos os dias, minha vida mudou muito. Embriagado, cheguei a vender tudo que tinha em uma mesa de bar. Agradeço ao meu amigo e ao meu pai que me trouxe para o CAPs”, disse Cláudio Jorge, que tenta mais uma vez se livrar do alcoolismo.