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Tubos danificados podem ter gerado falha que levou ao desligamento de Angra 1

21/02/2015
Tubos danificados podem ter gerado falha que levou ao desligamento de Angra 1
Houve um problema de ruptura em uma tubulação ligada à água do mar que resfria o condensador da Usina Nuclear Angra 1, segundo técnicos da ElenuclearArquivo Eletrobras/divulgação

Houve um problema de ruptura em uma tubulação ligada à água do mar que resfria o condensador da Usina Nuclear Angra 1, segundo técnicos da ElenuclearArquivo Eletrobras/divulgação

Os técnicos da Eletronuclear, sob a coordenação do superintendente da Usina Nuclear Angra 1, Marcos Melo, identificaram a existência de três tubos danificados em uma das duas caixas do condensador, o que pode ter provocado a falha que levou ao desligamento da unidade do Sistema Interligado Nacional (SIN) à 0h22 de quinta-feira (19). O condensador tem quatro caixas com 12 mil tubos cada. Os tubos serão plugueados e testados de novo, para ver se ainda estão vazando. “Aí, sim, a gente pode seguir em frente”, disse Marcos Melo hoje (20).
Segundo Melo, houve um problema de ruptura em uma tubulação ligada à água do mar que resfria o condensador. “Como houve essa ruptura, vazou água do mar para o circuito secundário da usina, que não tem nada a ver com o circuito primário”. Não existe nenhum risco de contaminação, seja para os trabalhadores da usina, à população ou ao meio ambiente, garantiu. “A usina foi desligada preventivamente pelas nossas equipes de operação e por mim, dentro dos procedimentos, de forma segura e para preservar os equipamentos de uma degradação maior”.
No circuito primário, a água passa dentro do reator e o resfria. Essa água fica confinada o tempo todo, fica ativada. Ela passa calor, isto é, energia térmica, para o circuito secundário, onde é gerado vapor que vai girar a turbina e, em consequência, produzir eletricidade. Melo disse que os circuitos secundário e primário são isentos de contaminação, porque não se comunicam. Ele esclareceu que o vapor tem que ser condensado novamente para ser reutilizado na turbina. A esse processo dá-se o nome de circuito terciário da usina, que envolve a água do mar que passa pelo condensador, cuja função, como o nome diz, “é condensar esse vapor que trabalhou na turbina”.
Melo explicou que essa água, entretanto, é de alta pureza, tratada. Com a ruptura da tubulação, entretanto, ela foi contaminada pela água do mar, que contém cloreto de sódio. “O sódio agride o metal e tende a provocar corrosão”. Como consequência, segundo ele, a Eletronuclear teve que desligar a usina rapidamente, “porque a gente não podia permitir que a contaminação [com a água do mar] ficasse muito alta e por muito tempo”.
O superintendente informou que é preciso descobrir também qual foi o mecanismo de falha. Não se trata, simplesmente, de tamponar o tubo. Tem que fazer testes com sondas para identificar de forma eficaz por que o tubo falhou. “Se não, a gente bota em operação [a usina] e falha de novo”. Angra 1 foi tirada de serviço manualmente. Ele acrescentou que, se a pesquisa identificar que houve um impacto metálico, será preciso descobrir de onde a peça se soltou dentro do condensador, para que se possa fazer o reparo adequado. Por isso, não há estimativa de quando a usina retornará à operação. Os técnicos deram início agora à inspeção da segunda caixa suspeita do condensador, para apurar se outros tubos falharam.
O superintendente da Usina Nuclear Angra 1admitiu que há prejuízos em termos de geração de energia elétrica para o país com a paralisação da unidade. “É melhor a gente ficar algum tempo sem gerar do que ter uma degradação maior na usina e a gente ficar um longo tempo sem gerar. Entendemos a situação crítica que passa o país em termos de recursos hídricos, mas nós não tínhamos opção”, avaliou.
Melo disse que Angra 1 foi mantida operando o máximo de tempo possível, mas quando a contaminação química ocorreu, agredindo os geradores de vapor, a alternativa foi desligar a unidade. “Até que eu descubra a causa raiz, eu não posso voltar [a operar a usina]”, indicou. Ele disse que os dois geradores de vapor são equipamentos novos, fabricados pela Areva. Eles substituíram os antigos equipamentos de Angra 1 em 2009 e envolveram investimentos superiores a R$ 700 milhões.
“[Os geradores] têm capacidade maior e permitiram uma geração mais segura e confiável de Angra 1”. Como ainda estão na garantia de fabricante, Marcos Melo disse que não se pode agredir quimicamente os geradores de vapor, sob pena de perder a garantia. Esse é outro ponto que exige um cuidado adicional maior.