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Nova classificação para Câncer de Próstata é destaque de evento em São Paulo

28/02/2015
Nova classificação para Câncer de Próstata é destaque de evento em São Paulo

  unnamed  Na abertura da XVIII Jornada de Patologia na quinta, 5, o patologista Jonathan Epstein, da International Society of Uropathology anunciará as modificações na classificação de Gleason, critério essencial para definição das condutas clínicas em câncer de próstata. Dentre os objetivos estão identificar quem não precisa passar por prostatectomia (procedimento invasivo e que pode causar incontinência urinária e impotência)e que podem ser inclusos na vigilância ativa. Evento debaterá também os avanços no entendimento da patologia e biologia molecular e como eles refletem no tratamento dos tumores de rim, bexiga, pênis e testículo. A programação completa está disponível em http://www.accamargo.org.br/evento-detalhe/patologia-urologica/164
Quando o câncer de próstata está em pauta logo surge uma controvérsia. Por um lado especialistas apontam que há um excesso de diagnóstico de falsos positivos e, em contrapartida, é sabido que há mais de 90% de sucesso no tratamento quando o tumor é descoberto logo no início. Essa alternância é pelo fato de que muitos tumores são indolentes (que não devem evoluir), outra parcela é caracterizada como agressividade intermediária e há os tumores de avanço rápido. O desafio está, justamente, em definir com precisão o grau de agressividade de cada tumor, algo que não é possível sem a análise do critério histológico de Gleason e outros elementos como o toque retal e PSA (exame de sangue).
Abrindo os trabalhos da XVIII Jornada de Patologia, em São Paulo, o patologista Jonathan Epstein, representando a International Society of Uropathology – órgão responsável pelo consenso de classificação dos tumores urológicos – abordará o papel do sistema de graduação Gleason ao longo dos últimos dez anos, enfatizando a importância da nova classificação, que será anunciada no evento. Epstein é diretor de Patologia e Professor do Departamento de Patologia, Urologia e Oncologia do Johns Hopkins Hospital, nos Estados Unidos. Dentre os participantes desta discussão estará um dos mais renomados uropatologistas do mundo, o editor-chefe da American Joint Committe On Cancer (AJCC), Mahul Amin.
De acordo com a patologista do A.C.Camargo Cancer Center e membro da Comissão Científica do evento, Isabela Werneck da Cunha, a análise destes tumores propicia identificar qual é o perfil de paciente que evoluiu bem e de quem evolui pior e, desta forma, é feito o refinamento da graduação. “O objetivo com a nova classificação é, por exemplo, selecionar quem são os pacientes que não vão precisar se submeter à prostatectomia. Além disso, amplia-se também a elegibilidade para a vigilância ativa”, destaca a patologista. A nova versão da classificação – oficializada em livro da Organização Mundial de Saúde sobre câncer de próstata – passa a valer a partir deste ano.A vigilância ativa, mencionada por Isabela Werneck, consiste em oferecer um monitoramento intenso ao paciente que embora tenha o diagnóstico de câncer de próstata poderá, de acordo com as características do tumor, não necessitar ser tratado num primeiro momento.

    Classificação molecular – Além da classificação de Gleason, a patologista Isabela Werneck explica que é importante conhecer as peculiaridades de cada tumor por sua classificação molecular. Embora mais de 95% dos tumores de próstata sejam do mesmo subtipo (adenocarcinomas), há uma grande variação quando o assunto é sua biologia molecular. “Sabe-se que um paciente com tumor de baixo grau tem uma chance maior de não fazer metástase, o que não quer dizer, por sua vez, que ele esteja 100% livre de metástase. Então, hoje essas classificações moleculares favorecem que refinemos o diagnóstico e prognóstico. É o caso, por exemplo, de dois pacientes com tumores aparentemente iguais, ambos de baixo grau, sendo que um desenvolve metástase e o outro não. É a classificação molecular que tenta estratificar estes tumores”, esclarece Isabela. Este tema será abordado pelo patologista diretor de Patologia Cirúrgica e Diagnóstico Molecular da Johns Hopkins, George Netto.

    CÂNCER DE BEXIGA – O patologista George Netto é referência mundial em pesquisas relacionadas ao câncer de bexiga. Dentre os trabalhos de maior impacto está uma revisão publicada na Nature – http://www.nature.com/nrurol/journal/v9/n1/full/nrurol.2011.193.html – na qual ele mostra que este tipo de câncer tem duas vias diferentes de carcinogênese, sendo uma dos tumores não invasivos e outra dos tumores invasivos, uma classificação importante em relação ao tratamento e evolução dos pacientes. Seus estudos, que contam com a colaboração de especialistas do A.C.Camargo, sugerem um novo exame, a partir de marcadores de câncer na urina. “Ao invés do paciente fazer cistoscopia – que é um exame invasivo – buscamos identificar alterações moleculares nas amostras de urina, identificando – por exemplo – se um determinado tumor recidivou ou não”, destaca a patologista Isabela Werneck.

CÂNCER DE PÊNIS – Com mais de mil pacientes com câncer de pênis diagnosticados e tratados desde 1953, o A.C.Camargo é responsável pela maior expertise brasileira em casos tratados e em produção de artigos de alto impacto de toda a América Latina sobre esta doença. Esta experiência será compartilhada pelo diretor de Anatomia Patológica, o patologista Fernando Augusto Soares e pelo cirurgião oncologista e diretor de Urologia, Gustavo Cardoso Guimarães, que destacarão a evolução na abordagem desta doença, desde o estadiamento dos tumores  (estágios de descoberta da doença), incidência, métodos de diagnóstico por imagem e molecular e a aplicação clínica destas descobertas.
Embora multifatorial, é sabido que 40% a 50% dos casos de câncer de pênis estão relacionados ao vírus HPV. Para alguns subtipos, destaca Soares, sabemos que há maior relação com o HPV, mas outros subtipos não são. “Classificar o carcinoma de pênis, portanto, é muito importante, pois apesar de ser uma entidade única, há os que evoluem bem e os que evoluem pior, dando metástase e matando o paciente, enquanto outros são indolentes. Sabemos que os tipos 16 e 18, muito relacionados com câncer de colo uterino, também são os mais relacionados com os tumores de pênis”. Segundo o especialista, os subtipos mais relacionados ao HPV são os carcinomas verrucosos, carcinoma do tipo Warty e os basalóides.
Fernando Soares observa que para câncer de pênis ainda não há um esquema de quimioterapia eficaz, sendo preconizado, quase sempre, o tratamento cirúrgico.  Com base nisso, segundo o especialista, o principal problema no câncer de pênis é a metástase linfonodal. “A cirurgia é sempre mutiladora, principalmente quando feita a linfadenectomia inguinal. Então, o caminho está em identificar dentre os tumores quais tem mais propensão a dar metástase linfonodal, ou seja, saber qual é o tumor que, mesmo pequeno, tem maior risco de desenvolver metástase, tratando-o bem no início e tendo maior chance de sucesso”.

    CÂNCER DE RIM – O painel sobre tumores renais terá como destaque a patologista Maria Merino, do National Institutes of Health (NIH). Com linhas de pesquisa voltadas para a patologia molecular, Merino contribuiu para a classificação dos subtipos de tumores renais. “A classificação destes tumores, na qual ela foi uma das protagonistas, possibilitou que hoje tenhamos drogas-alvo disponíveis. A biologia molecular possibilitou separar o joio do trigo, oferecendo tratamentos mais específicos e eficazes”, observa Isabela Werneck. Fazendo um paralelo entre a velha e a nova classificação em câncer de rim, o patologista David Gringnon, da University of Indiana, abordará as condutas clínicas de consenso mundial relacionadas à doença. O relato da experiência brasileira com terapias-alvo para câncer de rim será trazida pela oncologista clínica do A.C.Camargo, Maria Nirvana Formiga.

    CÂNCER DE TESTÍCULO – Mais comum em homens jovens, principalmente na faixa entre 15 e 35 anos, os principais fatores de risco do câncer de testículo são o histórico de câncer na família e criptorquídia, condição em que o testículo não desce para o escroto após o nascimento.A boa notícia é que houve uma grande evolução no tratamento, que serão apresentados pelo patologista e Professor de Patologia e Medicina Molecular da McMaster University, do Canadá, John Srigley e pelo urologista do A.C.Camargo, Stênio de Cássio Zequi.
Outro destaque do evento é o patologista Kiril Trpkov, Professor Associado do Departamento de Patologia e Medicina Molecular da University of Calgary, do Canadá, que falará sobre lesões prostáticas não malignas que podem ser confundidas com câncer, novo estadiamento e graduação em câncer de rim e o papel das novas mudanças no estadiamento do câncer de bexiga.

    ESCOLA AVANÇADA – A Jornada de Patologia faz parte da Escola de Patologia Oncológica Avançada Humberto Torloni (EPOAHT), do A.C.Camargo Cancer Center, criada com a proposta de oferecer educação continuada aos patologistas brasileiros e residentes da área por meio de eventos científicos, cursos técnicos de média e longa duração, estágio e outros programas que visam a reciclagem do profissional que atua no diagnóstico morfológico e molecular do câncer. A próxima edição da Jornada de Patologia acontecerá de 27 a 30 de maio, desta vez enfatizando os tumores hematopoéticos. Inscrições estão disponíveis em http://www.accamargo.org.br/evento-detalhe/patologia-neoplasias-hematopoeticas/165.