Geral

Solo bem nutrido gera mais lucro ao produtor

07/01/2015
Solo bem nutrido gera mais lucro ao produtor
Outro benefício de pastagens intensificadas é evitar a desertificação do solo.

Outro benefício de pastagens intensificadas é evitar a desertificação do solo

    O sistema de produção integração Lavoura-Pecuária (iLP) visa integrar os componentes pecuário e agrícola (em rotação, consórcio e sucessão) na mesma área, em um mesmo ano agrícola ou por vários anos.
Um dos objetivos do iLP é buscar soluções eficazes para o setor produtivo. A recuperação de pastagens degradadas é uma das recomendações essenciais para que o produtor mantenha uma boa produtividade sem precisar expandir a área plantada.
O pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo (Sete Lagoas/MG), Antônio Marcos Coelho, esclarece que na maioria das regiões produtivas do Brasil predomina o solo com baixa fertilidade natural e com alta acidez.
Em consequência, ocorre a necessidade de importação de fertilizantes. Para a safra de 2011/2012 foi necessário importar 70% dos insumos, o que representou um gasto de nove bilhões de dólares.
“Esse percentual tem crescido a uma taxa de 4% ao ano no Brasil. Por isso, para reverter essa situação, é necessário construir a fertilidade dos solos, usando tecnologias mais eficientes, que permitam reduzir o uso de fertilizantes”, afirma.
O manejo da fertilidade do solo começa com uma boa amostragem para análise química e física de fertilidade. O diagnóstico da análise permitirá fazer um planejamento da adubação, considerando as culturas que vão compor os sistemas de produção, a exemplo do milho consorciado.
“Temos que observar também as exigências nutricionais das culturas e compor o solo com os nutrientes necessários para a cultura mais exigente. Isso nos dá como retorno maior sustentabilidade do sistema e ganhos econômicos”, coloca Antônio Marcos.
O calcário e o gesso agrícola são dois insumos utilizados para corrigir o solo. Assim como para fazer a calagem, o resultado da análise de solo permitirá mensurar, também, a necessidade ou não de aplicação de gesso.
A quantidade de gesso é determinada após a verificação do grau de acidez na camada subsuperficial do solo, abaixo dos 20 cm de profundidade.
“Se essa camada apresentar grau de acidez que prejudique a planta, bem como baixo teor de cálcio, é justificado o uso do gesso agrícola. O gesso proporcionará uma melhoria da fertilidade do solo e maior desenvolvimento do sistema radicular da planta. Consequentemente, haverá maior tolerância da cultura aos períodos de déficit hídrico”, orienta Antônio Marcos.
O representante da Agronelli – Insumos Agrícolas, João Donizette do Amaral Júnior, ressalta que o gesso agrícola é um fertilizante condicionador de solos, porque é uma fonte eficiente de cálcio e enxofre, promove maior desenvolvimento radicular em profundidade e permite a redução da saturação por alumínio.
“O gesso agrícola aumenta a eficiência agronômica no aproveitamento dos fertilizantes e promove maior resistência da planta à seca e maior acesso ao volume de água e nutrientes disponíveis no solo”, diz.
Ao fazer o planejamento da adubação para o cultivo de gramíneas o produtor deve observar, na análise laboratorial, todos os micronutrientes necessários para o solo e dar especial atenção aos elementos zinco e boro, que são limitantes para a produtividade do solo.
Antônio Marcos alerta para a necessidade de se fazer a adubação nitrogenada de cobertura, principalmente para o cultivo de gramíneas como o milho e a brachiaria para pastagem.
Para isso, o produtor precisa observar o resultado da análise química do solo e determinar qual potencial produtivo deseja alcançar na safra. “As exigências nutricionais das culturas em relação aos componentes nitrogênio, fósforo e potássio (NPK) também devem ser avaliadas” afirma.

 Cama de frango é uma alternativa de adubo orgânico

A cama de frango é um adubo orgânico que pode ser utilizado para a preparação do solo nos sistemas de iLP. É uma compostagem eficiente para eliminar agentes patogênicos, evitar a infestação de moscas e a proliferação de pragas de solo como cupins e larvas de besouros.
O gerente da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (Emater-MG), Walfrido Machado Albernaz, informa que a região de Sete Lagoas (MG) tem a maior produção desse fertilizante natural no Estado.
“A adubação com a cama-de-frango permanece por mais de um ano. Porém, antes de aplicar esse recurso, o produtor deve fazer a análise de solo e do composto para a adubação, de acordo com a exigência nutricional da cultura a ser semeada, para, se necessário complementar com adubo químico”, diz.
De acordo com a Emater, a análise do fertilizante orgânico, que neste caso é a cama de frango, é necessária para determinar a quantidade de nitrogênio, fósforo e potássio que o fertilizante possui.
Além de nitrogênio, potássio e fósforo, enxofre, zinco, cálcio, magnésio, ferro, cobre e outros micronutrientes,  a cama de frango também possui matéria orgânica.
A matéria orgânica melhora a capacidade de armazenamento de água, facilita o crescimento das raízes das plantas e retém água e nutrientes no solo.
“Para ser mais viável como fertilizante, a cama de frango deverá ser compostada usando-se aditivos biológicos e químicos, como fosfato, gesso, etc. Além disso, a mistura da cama de  frango com o esterco bovino pode favorecer a compostagem, pois melhora a relação carbono-nitrogênio”, afirma Albernaz.
Walfrido considera que são necessários mais investimentos em pesquisa para o desenvolvimento de melhorias contínuas no processo de compostagem, na distribuição e na transferência da tecnologia para os produtores.
Ele destaca também a necessidade de haver maior fiscalização do uso irregular da cama de frango para incentivar sua melhor utilização como fertilizante.

   Pastejo de animais favorece a recuperação do solo

A pastagem realizada em área degradada faz o rebanho bovino produzir mais gás metano e ocasiona o aumento da emissão de gases de efeito estufa, além de prejudicar o desenvolvimento dos animais.
“No sistema integração Lavoura-Pecuária recomenda-se ao produtor fazer a rotação das culturas e dos pastos, para beneficiar os dois sistemas. O manejo adequado propicia ganho de peso para os animais nos períodos de seca e equilíbrio na época de chuva”, orienta o médico veterinário da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Fabiano Alvim.
Outro benefício de pastagens intensificadas é evitar a desertificação do solo.
“Muitas áreas desertas decorrem da ausência de herbívoros. O pastejo com animais pode reverter a situação. Além disso, para o pecuarista, uma área bem tratada, proporciona maior produção de leite ou de carne, com menos animais”, afirma Leovegildo Lopes de Matos, pesquisador da Embrapa Gado de Leite (Juiz de Fora/MG).
“O solo é o principal recurso do produtor, de onde ele deve tirar o recurso (forragem e grãos) para alimentar melhor o rebanho. O gado bem alimentado tem mais saúde e gera mais lucro”, afirma Matos.

 Garantia de safra

O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) é uma das instituições financeiras que incentivam os produtores que adotam os sistemas de integração Lavoura-Pecuária-Floresta (iLPF), por meio do “Projeto Rural Sustentável”.
De acordo com o gerente, Tiago Araújo Mendes, o projeto busca levar tecnologias para serem implementadas no campo, a fim de evitar perdas de safras e apoiar o produtor com financiamentos e capacitação técnica e gerencial.