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Ribeirão

28/01/2015
Ribeirão

    A consciência da força de uma amizade absoluta adquiri, aos quatorze anos de idade, quando, passando férias na cidade de Ribeirão, em Pernambuco, conheci tio Manoel Victor. Ele e papai, morando em regiões diferentes, pouco se frequentavam. Mas, bastava tomarem conhecimento de alguma dificuldade que um deles estivesse a viver, o outro chegava imediatamente. E chegava sem limites. Para o que desse e viesse. Para matar ou para morrer. Não sei que acontecimentos existiram no passado. Imagino, porém, que deve ter sido algo muito forte para alicerçar tão sólido sentimento. Os dois consideravam-se verdadeiros irmãos. Daí, o título afetuoso de tio que nós, seus filhos, lhes tributávamos.
Ribeirão foi um descobrir de emoções. A primeira paixão, vivi ali. Beleza diáfana, era loura e esguia. Encontrava-a sempre, nos fins de tarde, na estação ferroviária. Ela se fazia bonita para ver o trem passar. Foi paixão não correspondida. Mesmo porque jamais soube a intensidade do afeto que provocava.
Jogos de azar, bebidas alcoólicas, frequentar cabarés, foram vícios que conheci em Ribeirão. Tolamente, eles me fizeram sentir adulto.
A recordação, entretanto, que guardo com mais carinho das férias que passei, na pequena cidade do interior pernambucano, aconteceu em uma noite de sábado, no baile de encerramento da festa da Padroeira, Nossa Senhora de Santana. O Clube Social estava completamente lotado. Número enorme de pessoas tentava entrar e não mais conseguia.
A orquestra tocara várias vezes e eu ainda não dançara. As mulheres eram poucas diante de tantos homens. Encontrava-me inquieto e ansioso. Sinto-me observado por uma bela jovem. Morena, os longos cabelos negros presos em uma trança única, ofereciam-lhe graciosidade juvenil. Retribuo o olhar. Ela sorri. Convido-a para dançar. A integração foi total e repentina. A sensação maravilhosa, de corpos de sexos diferentes se transformando em um só, é embriagante. A música fortalecia a atmosfera romântica. O nome era Emília e morava na cidade vizinha de Palmares. Até hoje, nas inúmeras viagens que fiz, de automóvel, entre Maceió e Recife, ao passar por Palmares, pergunto-me por aquela que me conduziu, pela vez primeira, através dos perigosos e envolventes caminhos da atração sexual.