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Casos clínicos sobrecarregam Urgências dos hospitais de AL

01/10/2014
Casos clínicos sobrecarregam Urgências dos hospitais de AL
Diretor-médico da Santa Casa, Artur Gomes, 65% são casos clínicos que poderiam ser atendidos nos consultórios, unidades de saúde ou Ambulatórios 24 Horas Foto: Olival Santos

Diretor-médico da Santa Casa, Artur Gomes, 65% são casos clínicos que poderiam ser atendidos nos consultórios, unidades de saúde ou Ambulatórios 24 Horas Foto: Olival Santos

A demora na marcação de consultas, a dificuldade de acesso aos postos de saúde, o valor baixo pago pelos planos aos médicos – levando-os ao atendimento somente particular – têm resultado na sobrecarga das Urgências e Emergências de hospitais públicos, privados e filantrópicos de Maceió.

  No Hospital Unimed a situação não é diferente. O hospital atende por mês em média a 14.347 clientes, sendo a especialidade  de Clínica Médica responsável por 6.256 consultas (44% do total). 
No Hospital Geral do Estado (HGE), de janeiro a agosto deste ano, foram atendidas 62.602 pessoas apresentando casos clínicos. A maioria com problemas que poderiam ser solucionados nos postos de saúde. 
  O diretor-médico da Santa Casa de Misericórdia, pneumologista e cirurgião de tórax, Artur Gomes Neto, afirma que dos nove mil casos atendidos por mês na instituição hospitalar do Centro e do Farol (Pediátrica), 65% são casos clínicos que poderiam ser atendidos nos consultórios, unidades de saúde ou Ambulatórios 24 Horas.
  “Os médicos estão deixando as consultas pelos planos de saúde que pagam R$ 50 por paciente, porque o valor não cobre as despesas que eles têm com o consultório, que giram em torno de R$ 3 mil por mês”, destaca o diretor-médico. 
De acordo com Artur Gomes, a situação somente pode mudar no âmbito do atendimento privado, quando os planos pagarem melhor ao profissional médico e se mostrarem mais atrativos para a categoria, já que o movimento de deixá-los é nacional. “Os médicos estão abandonando todos os planos de saúde e atendendo somente paciente particular”, adverte Gomes, mostrando que o efeito dominó de perda para o usuário é também extensivo ao que depende do Sistema Único de Saúde (SUS).
Gomes diz que no SUS o problema está mais na falta de assistência básica, que deveria ser prestada pelos postos de saúde dos municípios.
  Como o usuário tem dificuldade de acesso, explica ele, a doença se agrava e, evoluindo o quadro, torna-se um paciente não mais de atendimento ambulatorial, mas de urgência. “Os pacientes com diabetes e hipertensão, por exemplo, que não tiverem um acompanhamento ambulatorial adequado, evoluem para insuficiência renal, infarto do miocárdio, lesão cerebral e até amputações”, afirmou.
  Artur Gomes esclarece que somente o HGE está preparado em termos de equipamentos e tem equipe médica especializada de plantão para os atendimentos de todos os tipos de traumas, a exemplo dos provocados por acidentes de veículo, motos e agressões graves. “Nesses casos, o mais indicado, mesmo para os pacientes que têm plano de saúde, é buscar o primeiro atendimento no HGE e, depois de estabilizados, serem transferidos para a unidade especializada ou hospital que têm o plano de saúde”.
 
Facilidade de atendimento 
 
De acordo com Raquel dos Anjos Guimarães, médica infectologista e gerente de Risco do Hospital Unimed, a facilidade de atendimento sem a necessidade de marcar consulta – e ainda o beneficio de ser medicado e ter exames realizados no ato, leva o cliente de convênios, operadoras de saúde  e beneficiários do sistema público a ocupar as salas de emergências, espaços, segundo ela, destinados aos pacientes mais graves.
  Para reverter o quadro, a especialista aposta na criação de novos módulos de pronto atendimento; ampliação do quadro das especialidades médicas em ambulatórios; programas de atendimento a distancia, com equipes médicas orientando a resolução de queixas mais triviais e quebras de paradigmas com mudanças no fluxo de atendimento da triagem sendo realizado por médicos, entre outros.
  Apesar de ser uma referência nos casos de urgência e emergência, o HGE continua sendo a porta de entrada para pacientes que não se enquadram nesse tipo de atendimento. Uma prova é que os casos clínicos continuam na liderança dos atendimentos realizados diariamente no hospital, segundo informações da direção.
  A maioria da demanda poderia ser solucionada nos postos de saúde. Um exemplo é Andréia de Lima, que estava com dores abdominais há dois dias. Depois de ser atendida em uma unidade de saúde próxima a sua casa, no bairro Tabuleiro do Martins, em Maceió, e de não ter seu problema resolvido, ela procurou o HGE.
  O mesmo ocorreu com Jaqueline Michele Barros, de 36 anos. A dona de casa estava com falta de ar e, antes de procurar um posto próximo à sua residência, decidiu se dirigir ao HGE, porque receberia atendimento mais rápido.
Há casos de pessoas que dão entrada na urgência, em função de não ter acompanhamento, passando a ser portadores de pés diabéticos, infartos e acidentes vasculares.
  
Estatísticas
 
A diretora do HGE, Verônica Omena, ressalta que os casos clínicos lideram o número dos atendimentos na unidade, com uma média de mais de 400 por dia. Ela destaca que esse número é consequência de doenças como diabetes, hipertensão, infecções e dores em geral.
Verônica alerta que as pessoas devem  manter hábitos saudáveis e procurar os postos de saúde com regularidade para assegurar a qualidade de vida.
  “Os portadores de hipertensão, diabetes e outras doenças devem procurar atendimento médico frequentemente, porque essas doenças quando diagnosticadas e tratadas precocemente podem evitar complicações futuras”, salientou a diretora.