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Campos: “A marca registrada da nossa gestão na UNEAL é a democratização dos recursos”

08/10/2014
Campos: “A marca registrada da nossa gestão na UNEAL é a democratização dos recursos”

10695112_697333217008413_21267443_nJairo José Campos da Costa foi eleito reitor da Universidade Estadual de Alagoas (UNEAL) pela primeira vez em 2010, sendo reeleito para os próximos quatro anos, dando início ao seu segundo mandato no dia 14 de outubro para o quadriênio 2014/2018. A solenidade será realizada em Arapiraca onde, o Governador Teotônio Vilela irá dá posse à Campos. Comumente esse evento acontece no Palácio República dos Palmares, no entanto, Jairo informou que, a pedidos da comunidade, ficou acertado que seria em Arapiraca, com o objetivo de valorizar mais a cidade e seguindo a lógica prestigiar uma sede no interior. O reitor é ainda Presidente do Conselho Estadual da Educação, e está em Alagoas há 11 anos, após ter sido aprovado em concurso público. Campos é professor universitário de Literatura do Campus de União dos Palmares (UNEAL), é natural do estado do Rio Grande do Norte, foi chefe do Departamento do curso de Letras de União dos Palmares e Diretor do Campus de União por duas vezes. Campos concedeu entrevista exclusiva ao jornal Tribuna do Sertão onde fala sobre conquistas como, por exemplo, o curso de licenciatura para professores indígenas, a UNEAL está formando 80 professores indígenas de 9 etnias diferentes em Alagoas, incluindo o Xucuru Kariri de Palmeira dos índios.

Tribuna do Sertão – O sr. se define como professor universitário e militante de várias causas como, por exemplo, a causa negra no estado de Alagoas?. Poderia falar mais sobre o assunto.

Jairo Campos – Sim, é verdade, me identifico com essas causas e através da UNEAL nós realizamos o “Xangô rezado Alto” duas vezes com os recursos do Ministério da Cultura. Essa foi uma celebração do Quebra de Xângo, que relembra o episódio ocorrido em 1912, onde algumas casas de Axé de Maceió foram invadidas por uma questão política. Então, tivemos a ideia de fazer a proposta e ir à Brasília tentar conseguir recursos do Fundo Nacional de Cultura.

Então, fizemos a celebração onde trouxemos grandes especialistas que discutem o gênero em um evento que aconteceu em Arapiraca. Na oportunidade, juntamos mães e pais de Santo de todo o Estado. Além dos estudantes universitários de várias instituições de ensino e a sociedade de forma geral. E tudo isso aconteceu por dois anos consecutivos.  O governador, no ano em que foi marcado pelo centenário, pediu perdão ao povo do Axé Alagoano em forma de Decreto, pois isso ficou na memória do povo.

Tribuna do Sertão – Como tem sido os trabalhados desenvolvidos na UNEAL durante sua gestão?

Jairo Campos – Desde que assumi a reitoria da UNEAL a minha gestão foi marcada pelas experiências dos movimentos sindicais de lutas. O início da minha trajetória foi participando do movimento estudantil, da pastoral da juventude do meio popular, e tudo isso contribuiu muito na minha forma de pensar e agir como também no meu trabalho diário na UNEAL. Então, por exemplo, quando a instituição desenvolve essa agenda ligada ao movimento negro, ou uma agenda permanente junto as comunidades indígenas no estado, oferecendo hoje um curso de licenciatura para professores indígenas, isso mostra que estamos conseguindo avançar em nossos projetos. Veja bem, em 2017 Alagoas completa 200 anos e nenhuma instituição, ao longo desses anos, enxergou esse público. E isso é significante tanto para a instituição como para os que serão beneficiados com a oferta do curso.

Tribuna do Sertão – Fale sobre a questão da formação dos professores indígenas e como Palmeira irá ser beneficiada com isso.

Jairo Campos – Veja bem, nós conseguimos captar também recursos do governo federal, e a UNEAL está formando 80 professores indígenas de 9 etnias diferentes em Alagoas, incluindo o Xucuru Kariri de Palmeira dos índios. Onde esses alunos são transportados da Aldeia da sexta para o sábado, se hospedam em um hotel e se alimentam. Tudo por meio de contratos firmados entre a universidade e as empresas que prestam serviços por meio dos processos licitatórios e esse projeto atende Palmeira por sua configuração indígena. No entanto, nesse mesmo molde, nós oferecemos um curso de licenciatura para os professores do campo, onde parte das vagas destinadas à lideranças do MST e  MLT. Então, quando são observadas essas frentes, o nosso modelo de gestão e do tipo de sociedade que nós acreditamos pode ser notada.

A UNEAL é uma instituição do interior do Estado de Alagoas, criada no interior do Estado trazendo, portanto, toda essa singularidade do interior, formando há 43 anos professores. A UNEAL é fruto do interesse nacional de levar o ensino superior para o interior do país na década de 70, e pode observar que a grande maioria das universidades estaduais têm hoje a mesma idade, com exceção da USP, que é um pouco mais antiga.

Tribuna do Sertão – Quais as dificuldades encontradas pela UNEAL no momento em que, como o sr. mesmo afirma ela atende a um público de menor poder aquisitivo e do interior?

Jairo Campos – Então, a UNEAL veio cumprir essa missão. Lembrando que, no interior nós lidamos com mais contraste, mais problemas. Nós nos sentimos na obrigação, e partindo do viés da extensão, (a universidade é feita com: ensino, pesquisa e extensão) que é esse diálogo efetivo com a sociedade, nós estamos sempre preocupados com ações, e quase sempre estamos captando recursos do governo federal, por conta das limitações orçamentária do Estado, com o intuito de que os programas se auto-sustentem, citando como exemplo, o programa do índio, da licenciatura do campo, o Xangô Rezado Alto, que são todos convênios firmados com o Ministério da Cultura e da Educação, onde entramos com a plataforma e colocamos as ideias e orçamentos, explicando tudo e fazendo todos os processos e informando ainda onde os recursos estão sendo utilizados por meio de constantes prestações e contas.

Destacando ainda que o Governo Federal têm diversas políticas públicas que financiam os projetos desenvolvidos pelos municípios e instituições, que são feitos por meio de editais ou até mesmo pelos pedidos feitos diretamente, onde eles são apreciados e quando têm relevância são aprovados. Outro detalhe importante é que os editais para, por exemplo, programa indígena e do campo, outras instituições poderiam também estar participando, mas apenas a UNEAL foi quem respondeu ao edital, que inclusive no nosso caso é mais complicado do que para as federais.

Tribuna do Sertão – Como se encontra o quadro de servidores na UNEAL. Essa é uma questão que pode ser destacada de forma positiva ou não?

Jairo Campos – A UNEAL tem 43 anos e apenas 3 anos com servidores públicos concursados. Isso quer dizer que, a UNEAL passou 40 anos com servidores precários, que só foram chamados depois que a Justiça obrigou o Estado a convocá-los. Eles assumiram os cargos 3 meses antes da minha posse. Então, eu posso dizer que acompanhei todo o processo de formação desses servidores, e distribuição de todos em seus respectivos setores por formação, em cada área específica, por exemplo, os técnicos de setor da pró-reitoria de gestão planejamento, que mechem com o financeiro, nós investimos maciçamente na qualificação dessas pessoas.

A funcionária que trata de convênios da UNEAL, já teve a oportunidade de se especializar por meio de vários cursos, para que ele manipule a plataforma, pois cada área exige uma especialização. Mas veja bem, investir nesse preparo técnico nos garante a capacitação dos profissionais para que assim possamos elaborar propostas para a captação de recursos. E com essas pessoas nós estamos conseguindo trazer mais dinheiro de fora, seja pelos editais, seja através dos pedidos diretos formulados pelos servidores competentes para tal coisa.

Isso tudo que foi exposto é com o intuito de que seja percebido o comprometimento social que a UNAL tem com as minorias. Pois, quem está na UNEAL é o povo trabalhador do interior do Estado, filhos de professores, pessoas simples, desempregados, muitos meninos que se deslocam dos seus sítios para pegar ônibus para conseguir chegar na Universidade. Então, pensando isso, nós tentamos desenvolver uma política de valorização dos nossos estudantes.

Tribuna do Sertão – Qual seria então a marca registrada na gestão de Jairo Campos na UNEAL e o quais os projetos para os próximos 4 anos?

Jairo Campos – A marca registrada da nossa gestão desses últimos 4 anos , que poderia ser colocada, é a democratização dos recursos. Por exemplo, nós temos um programa alimento, que dá uma bolsa de R$ 200 reais a alunos que estão incluídos em situação de vulnerabilidade social, além de bolas de iniciação científica com os alunos que se vinculam com os projetos de iniciação científica da UNEAL, Bolsa de iniciação à Docência, onde o licenciando que vincula a um projeto de um professor ligado a uma escola de educação básica pública, onde recebem bolsas o professor da escola, o professor da universidade e o aluno licenciando. Quando juntamos todas essas modalidades de bolsas, temos quase mil alunos envolvidos.

Então, o aluno da UNEAl além de não pagar nada, pois a Universidade é pública, nós oferecemos ainda mais de mil incentivos diretos, além de dois ônibus novos para o transporte dos alunos, além de apoiar os cursos fora do Estado e do Pais, como por exemplo agora nos estamos enviando um aluno para Servillha. Essa é uma iniciativa que vem oferecendo muitas oportunidades, sobretudo por meio do programa Ciência sem Fronteira idealizado no governo da presidenta Dilma Rousseff.

Nós mantemos 30 cursos regulares no estado inteiro Arapiraca, Santana do Ipanema. Palmeira dos Índios, União dos Palmares, São Miguel dos Campos e Maceió. Somos 300 professores e 200 servidores. O desafio para o próximo governo, por exemplo, é dá uma melhorada no custeio, ou então uma autonomia universitária, como acontece na universidade estadual da Paraíba. A ideia é estabelecer um percentual dentro da receita líquida do estado e esse valor ser repassado para a universidade é uma proposta a ser analisada e levada para os futuros governantes, pois, esse seria o ideal a ser seguido.

O desafio é fortalecer o nosso projeto, pois com ele estaremos fortalecendo também o interior do estado e o povo trabalhador de alagoas que faz parte do nosso perfil sócio-educacional. A médio de acesso ao ensino superior na faixa etária de 18 a 25 anos no Brasil é de 15% e em Alagoas esse número caí para 7%, isso significa que 93% dos jovens em Alagoas estão fora das universidades, e inclusive no mundo das drogas. Então investir no ensino superior é garantir mão de obra qualificada, é garantir promoção à cidadania, autonomia das pessoas. Enfim, queremos dar respostas mais efetivas, além dessas que estamos dando a sociedade.