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Simpósio discute estratégias para aumentar número de doações de órgãos

29/09/2014
Simpósio discute estratégias para aumentar número de doações de órgãos

Valéria Hora doou os órgãos do filho, assassinado aos 18 anos, e trabalha em prol da causa - Foto:Carla Cleto

Valéria Hora doou os órgãos do filho, assassinado aos 18 anos, e trabalha em prol da causa – Foto:Carla Cleto

   Em meio à dor, a oportunidade de salvar vidas. Essa foi a experiência vivida por Valéria Hora, quando há nove anos perdeu o filho vítima da violência. A sua decisão foi responsável por tirar da fila da doação de órgãos aproximadamente cinco pessoas. O relato foi apresentado durante o II Simpósio Alagoano de Doação de Órgãos e Tecidos, no Hotel Jatíuca, no sábado (27), quando se comemorou o Dia Nacional de Doação de Órgãos.
A importância da doação de órgãos e tecidos foi um dos principais pontos de discussão do evento, que reuniu vários profissionais. Mesmo com as campanhas de conscientização realizadas anualmente e do crescimento de doações nos últimos anos, o volume de transplantes ainda não está dentro do que preconiza o Ministério da Saúde (MS).
“Precisamos aumentar as doações em Alagoas e temos utilizado de várias ferramentas para conscientizar a população, sobre a doação que é um gesto de amor”, disse Kelly Brandão, coordenadora da Central de Transplantes de Alagoas, durante o II Simpósio Alagoano de Doação de Órgãos e Tecidos.
Em Alagoas, nos últimos anos, houve um aumento no número de doações, mas ainda é considerado insuficiente. Kelly Brandão informou que foram realizados até a primeira quinzena de setembro 91 transplantes, sendo 64 de córneas e 24 de rim, contra 73 de córnea e 21 de rim, realizados em todo o ano passado.
A coordenadora informou que são necessárias mais doações, uma vez que, há mais de 300 alagoanos na fila de espera por um transplante. Ainda durante o simpósio foram discutidos diversos temas, a exemplo do diagnóstico de morte encefálica, que muitas famílias ainda temem e custam a acreditar.
O neurocirurgião, Fabrício Avelino, destacou que a morte do cérebro é detectada quando não há mais irrigação sanguínea no cérebro. Ele lembrou que o diagnóstico é feito de forma precisa, com exames que são realizados com equipamentos modernos. A morte encefálica é a perda definitiva e irreversível das funções cerebrais.
Ainda durante o II Simpósio Alagoano de Doação de Órgãos e Tecidos, foram discutidos temas como a avaliação do potencial doador e os frutos do processo de doação e transplante. Também foi apresentada como é feita a entrevista com as famílias dos prováveis doadores.

Gesto de Amor

O amor fez com que Valéria Hora decidisse pela doação dos órgãos do seu filho assassinado aos 18 anos. “Pelo meu filho ter sido uma pessoa que distribuiu amor, alegria, carinho com todos, independente de quem fosse, resolvi doar seus órgãos, quando fui informada que ele não teria mais chance de viver”, frisou.
A missão não foi fácil, pois teria que contar com a permissão do pai do jovem, que no primeiro momento se mostrou contrário a ideia, mas terminou sendo convencido.
Valéria Hora não sabe quem recebeu os órgãos de Davi Hora, pois entende que mesmo sendo partes de seu filho, não é ele que está vivo.” Meu filho está vivo em mim, apenas seus órgãos beneficiaram pessoas que poderiam morrer”, afirmou.
A tragédia que abalou a família e os amigos, não fez de Valéria uma pessoa amarga e revoltada, já que ela passou a lutar e se aprofundar nos temas sobre doação. Preocupada com o tema, irá lançar até o final do ano um projeto, que visa trabalhar com mães que doaram órgãos dos filhos e as que não conseguiram fazer. O projeto tem como objetivo dar suporte psicológico, social e jurídico a essas mulheres.
Se por um lado quem doa se sente bem, quem recebe não sabe como agradecer aos familiares de seu doador. Por quatro anos José Wilton da Silva, que é transplantado há 12 anos, conviveu com a possibilidade de morrer antes de receber a doação de um rim. “Cada dia que ia fazer a hemodiálise, pensava que seria a última sessão”, diz, ao lembrar da época em que aguardava o transplante. Para ele, todos deveriam entender a importância da doação, porque quem está na fila vive momentos de angústia e incerteza.