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Breno Acioly

03/09/2014
Breno Acioly

Às margens do Rio Ipanema, sob a proteção de Sant’Ana, a padroeira do município, nasceram os dois filhos do casal Doutor Manuel Xavier Acioly e Dona Maria de Lourdes. Ele, juiz de direito da comarca, ela moça rica, prendada, com educação e cultura bem acima da média interiorana daquela época, puderam criá-los num ambiente propício ao desabrochar dos valores intelectuais. Um deles, o mais velho, era Breno, nascido em 22 de março de 1921. Inteligente, astuto, curioso, viveu sua infância no casarão ancestral da família, na praça principal da cidade, sob a égide dos relatos das lendas e mitos que, sobretudo no interior, povoam o imaginário popular. Afilhado de batismo do vigário da paróquia, conviveu, também, muito de perto, com os dogmas e as tradições da igreja católica, religiosidade que, segundo seus biógrafos, era muito forte e marcaria o mundo adulto do contista em que se transformou.
A nomeação do Desembargador Xavier Accioly transferiu a família para Maceió, onde o adolescente Breno concluiu seus estudos secundários, seguindo depois para Recife, quando iniciou o curso de medicina, que concluiria em 1946, na Faculdade de Ciências Médicas, no Rio de Janeiro, então capital da República e sede da cultura nacional.
Ali, na efervescência dos intelectos privilegiados, com quem começara a conviver desde os idos pernambucanos, nasceu o escritor. Tinha apenas 23 anos de idade e seus contos, publicados em João Urso, surpreenderam a crítica, sobretudo pela temática, inspirada na insanidade, e pelo talento revelado na concepção dos enredos e domínio das construções lingüísticas. Recebeu, então, e conservou pelo resto de seus dias, a alcunha de “contista da loucura”. É como se transportasse para sua obra os personagens míticos que conhecera nas histórias ouvidas em sua infância, na cozinha e nas varandas do casarão secular, cheio de fantasmas e mistérios, onde vivera a infância, também povoada pelas histórias sobre cangaceiros, milagres, divindades que habitavam o Ipanema e as figuras típicas, tão comuns no interior nordestino.
Na seqüência de sua inspiração vieram mais contos, compilados em Cogumelos (1949), Maria Pudim (1955) e Os Cata Ventos (1962). Manteve-se fiel ao grotesco, ao disforme, ao caricato, retratando as fragilidades humanas, mesmo quando tentava se distanciar do cenário de sua terra natal. No único romance, Dunas, percebe-se o mesmo estilo, ficcional, com personagens problemáticos, cheios de dor, abandono e loucura.
No dia 13 de março de 1966, na cidade do Rio de Janeiro, onde pontificara e se fizera respeitado, morreu Breno Accioly, contando, apenas, 45 anos de idade.
Alagoas muito se orgulha desse filho, sobre cuja vida e obra já se manifestaram, lisonjeiramente, figuras exponenciais de nossa literatura, do jaez de Gilberto Freyre, José Lins do Rego, Adonias Filho, Mário de Andrade, Otávio de Farias e até Vinícius de Morais.
Reconhecido ainda em vida, apesar da curta existência, pela pujança de seu talento, cabe à nossa geração a agradável tarefa de resgatar e perpetuar no tempo, para gáudio dos pósteros, o nome e o valor desse conterrâneo singular.