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Tem quilombola na rede: telecentro muda a rotina de comunidade alagoana

11/08/2014
Tem quilombola na rede: telecentro muda a rotina de comunidade alagoana

Na vida simples da comunidade Cajá dos Negros, que tem menos de 500 habitantes, população está conectada pelo Telecentro (Fotos: Raul Plácido)

Na vida simples da comunidade Cajá dos Negros, que tem menos de 500 habitantes, população está conectada pelo Telecentro (Fotos: Raul Plácido)

O acesso é de barro. Não tem rede de telefonia celular. O povo é simples, mas está conectado. Essa é a realidade do povoado quilombola Cajá dos Negros, localizado na Zona Rural de Batalha. Distante 195 km da capital alagoana, a comunidade que vivia de forma pacata, na roça ou sentada na calçada assistindo a vida e o tempo passarem, agora interage com o mundo através da internet, que também os aproximou fisicamente: todos fazem questão de frequentar o espaço de convivência – o Telecentro Associação Quilombolas de Cajá dos Negros – para conversar, dançar e estudar.
A coordenadora do telecentro, Ivaniza Leite, está à frente das atividades. Ela conta que, além da inclusão digital, sempre procura na internet outras oportunidades e cursos para ensinar à população local, que não passa de 500 pessoas. “Não posso ver um curso destinado aos quilombolas que envio um ofício solicitando a nossa participação. Sou muito ousada”, explica, definindo-se.
Guerreira nas lutas em prol da comunidade, com tanta ousadia Ivaniza já conquistou o apoio de programas como Brasil Alfabetizado e Mesa Brasil. Hoje, está lutando para estimular as crianças e jovens a frequentarem mais a escola, porque o índice de frequência escolar é baixo.
“O que me inspira é ver a felicidade nos olhos de cada um”, falou orgulhosa a quilombola, exemplificando com histórias de vitórias e conquistas dos frequentadores do espaço. Segundo ela, um idoso começou a participar das atividades e deixou o vício do álcool. Uma jovem conquistou o mercado de trabalho fora de Alagoas, no Mato Grosso.
As aulas do telecentro funcionam em dois horários e as turmas são divididas por idades. As crianças, que nunca tinham visto um computador na vida, atualmente manuseiam a máquina com intimidade. Michaela Alves, 8 anos, acredita que as aulas do telecentro contribuirão com o futuro dela. “Já aprendi muitas coisas aqui. Sei ligar o computador, digitar e acessar a internet”, disse.
Os jogos estão entre os preferidos da criançada. O menino Renato Pereira, de 5 anos, se mostrou atento ao monitor e declarou que gosta muito de desenhar e pintar no computador. De acordo com a coordenadora, eles aprendem muito com as atividades, que trabalham o raciocínio e a coordenação motora. Além das aulas, a sala de informática fica disponível para a população produzir trabalhos escolares, imprimir documentos e aprender mais sobre a internet.
A mais nova atividade do telecentro é dedicada aos idosos. Todas as quartas, com música ao vivo, eles têm aula de dança e também participam de encontros religiosos, palestras e reuniões para conversar e discutir assuntos dos mais variados.
Maria José da Silva, aposentada e casada com um quilombola, mora na comunidade há 36 anos e assegura que esse povo, do qual já faz parte, é muito forte: “Somos da gema. Eu acordo para trabalhar na roça, planto alface, cenoura, feijão, coentro, mas sempre encontro um tempinho para participar das atividades do telecentro. Gosto muito de interagir. Quando saio daqui, volto para a minha roça satisfeita”, contou.

    Espaços podem ser aproveitados com outras atividades

Muito além de ser um local provido de computadores conectados à internet banda larga, o telecentro é um espaço destinado à comunidade em geral, segundo o coordenador do Programa Digita Alagoas, Felipe Athayde. “É importante que os coordenadores desses espaços realizem atividades voltadas às demandas sociais de cada comunidade. Por exemplo, numa comunidade onde muitas jovens engravidam cedo, pode-se realizar uma palestra sobre métodos anticoncepcionais”, explicou.
Em Maceió, o Telecentro El Shamah, localizado na Serraria, oferece serviços de atendimento à saúde, como consultas odontológicas e ginecológicas, além dos cursos de informática básica. Um novo projeto, ainda em planejamento, é destinado a recuperar jovens dependentes de drogas. Lá, as turmas estão lotadas de pessoas que precisam melhorar o currículo e ingressar no mercado de trabalho.
É o caso de Luciana dos Santos, que já perdeu três oportunidades de emprego por não ter o domínio básico da informática. O esposo dela, Carlos dos Santos, está empregado, mas também participa das aulas para conquistar uma função melhor remunerada. Ambos não tinham conhecimento nenhum sobre computadores e internet. Atualmente, estão interessados em comprar uma máquina. “Agora que já sabemos ‘mexer’, dá vontade de ter um em casa”, declarou Carlos.

12 mil alagoanos tem acesso à internet gratuitamente

Em um ano de execução e com 55 telecentros espalhados pelo estado, o Programa Digita Alagoas alcançou o número de 12 mil alagoanos participantes, entre atendimento e capacitação. O acesso à internet é um dos principais serviços oferecidos pelas unidades, além dos cursos básicos de informática. A expectativa é entregar mais 15 unidades até o final de 2014, totalizando 70 telecentros em Alagoas. Segundo Felipe Athayde, a instalação dessas unidades dentro das comunidades ajuda na inserção de muitas pessoas no mercado de trabalho.
O Digita Alagoas é uma parceria entre o Estado e o Ministério das Comunicações. Todos os telecentros foram selecionados por edital. A única exigência é que alguma associação, ONG, fundação ou entidade local disponibilize um espaço climatizado para efetivar as atividades.
Depois de selecionados, os telecentros recebem um kit com onze computadores, uma impressora, um data show e móveis. O monitor bolsista e o coordenador do local são escolhidos pela Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia (Secti).
O custo de um telecentro chega a R$ 31 mil. Já os investimentos totais alcançam R$ 1,5 milhão. Para saber qual o telecentro mais próximo, os interessados podem ligar para o número (82) 3315-1577.