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Luíza de Oliveira Suruagy

06/08/2014
Luíza de Oliveira Suruagy

    A concepção física da palavra meiguice sempre me foi oferecida pela imagem de mamãe. A primeira vez, adolescente ainda, que aprendi o profundo significado do termo, associei-o, imediatamente, a ela. Transformava suas irritações em mágoas, nunca em cólera. As poucas vezes que, tentando punir alguma indisciplina infantil dos filhos, numa época em que a palmatória era um instrumento acessório de educação e de boas maneiras, inclusive nas escolas, nos dava uns “bolos”, eles pareciam mais carícias do que punição.
Nasceu em Patos, no sertão da Paraíba. Loura, esguia, olhos azuis, rosto oval e delicado, provocou, aos quinze anos, uma paixão avassaladora num aventureiro pernambucano, que chegara à cidade em busca do trabalho fácil que o programa obras-contra-a-seca, do Presidente Epitácio Pessoa, ensejava, no semi-árido paraibano. Embora se sentisse atraída pela figura máscula e insinuante que lhe despertava emoções estranhas, sua timidez e a fama de valentão, de exímio atirador  que o jovem forasteiro começava a criar, afastava-a dele. As famílias tradicionais jamais permitiriam que uma de suas filhas se casasse com um homem, sem raízes na terra, do qual se contavam várias estórias de lutas armadas e, o pior, dizia-se que, quase todas as noites, freqüentava o “cabaré”, onde recebia atenções especiais de Madame Creusa, como era chamada a bela cearense que, sabendo da presença de milhares de trabalhadores e das verbas fabulosas para a construção de grandes açudes, montara casa na calorenta e, até então, monótona Patos.
Conquistá-la, entretanto, passa a ser questão de honra para Pedro Marinho Suruagy. As dificuldades o estimulam. Inicia o cortejo. Cartas, às escondidas. Rosas e juras de amor. Procura amigos comuns para denunciar  aos pais sua vontade de esposá-la. A família não aceita. O desejo transforma-se em obsessão. Persevera. Conquista o coração da menina-moça, mas, não consegue a aprovação familiar. Fogem e casam-se.
Enfrentou, ao lado do marido, as tempestades da vida. Foi a companheira dedicada e eternamente apaixonada. Compreensiva, perdoou sempre  as fragilidades humanas do esposo e, como mãe exemplar, se perpetuou na lembrança dos filhos e amigos como paradigma de amor, renúncia e coragem, transformando-se em um porto seguro onde, ainda hoje, as preocupações se transmudam em esperanças de novas vitórias.