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Cubanos no SUS: Onde a Saúde Pública realmente funciona em Palmeira

12/07/2014
Cubanos no SUS: Onde a Saúde Pública realmente funciona em Palmeira

O Programa “Mais Médicos” é um revolução no sistema de saúde brasileiro. O programa que trouxe ao país médicos estrangeiros para aperfeiçoar o atendimento básico de saúde é um sucesso e revela que com abnegação, denodo e dedicação desses profissionais, o sistema de saúde brasileiro pode avançar e muito.

Em Palmeira dos Índios é vísivel o contraste no atendimento realizado nas unidades de saúde entre médicos brasileiros e estrangeiros. O povo diz que com os “estrangeiros” o atendimento é contínuo e a “saúde” melhorou ao contrário de algumas unidades “chefiadas” por médicos brasileiros, que faltam ao expediente e atende com mal humor a população.
Arnulfo Martinez Cruz é médico cubano especialista geral formado há 14 anos e faz parte do programa nacional da saúde “Mais Médicos”. Está em Palmeira dos Índios desde dezembro de 2013, atendendo na Unidade de Saúde Salgada localizada no bairro Vila Maria.
111arnulfoEm entrevista exclusiva ao Jornal Tribuna do Sertão, Martinez fala sobre sua vinda ao Brasil, as dificuldades encontradas no início dos trabalhos, a grande demanda de pacientes na unidade, a falta de medicamentos e sobre seu País de origem.

Jornal Tribuna do Sertão – Como foi a vinda ao Brasil e quais as informações passadas sobre o sistema de saúde brasileiro?

Arnulfo Martinez Cruz – No primeiro momento assistimos algumas palestras para que pudéssemos conhecer como funciona o sistema de saúde no Brasil. Foram passadas algumas informações de como deveríamos trabalhar com os programas que a saúde oferece ao povo brasileiro. Foi passado por exemplo como devemos fazer o atendimento pré-natal com as gestantes e trabalhar as pessoas com a realidade de sua região, pois sabemos que existem muitas diferenças no país. Aqui em Alagoas temos que fazer além do atendimento das gestantes, o atendimento também da criança, dos hipertensos, enfim, de todos os programas que existem aqui no Brasil.

Jornal Tribuna do Sertão – O senhor está realizando o atendimento médico para a população de Palmeira dos Índios há quanto tempo?

Arnulfo Martinez Cruz – Estou no Brasil desde novembro, mas vim para Palmeira no mês de dezembro. Chegamos aqui no Brasil e fizemos um curso de língua portuguesa em Brasília, depois fomos para Maceió e, em seguida, eu vim para trabalhar em Palmeira dos Índios. Eu e mais uma outra médica que trabalha no bairro de Palmeira de Fora, no posto de saúde Denilma Bulhões. Eu fiquei responsável pelo PSF de Salgada.

Jornal Tribuna do Sertão – No início havia a preocupação da população em saber se o médico iria compreender as suas queixas, por conta do idioma diferente do brasileiro. O senhor já conseguiu se adaptar com a nova língua e com os pacientes que vem à procura do atendimento médico no posto?.

Arnulfo Martinez Cruz – No início tive algumas dificuldades com as pronúncias diferentes, pois trabalho com pessoas carentes e elas falam muito rápido, com alguns erros e com vícios de linguagem. Elas falam português, mas é um idioma regionalizado e um pouco diferente do que aprendemos. Existem algumas palavras que não é do Brasil, e sim apenas da região. Por exemplo, chegou um paciente dizendo que tem “coçeira” ou “dor no pé da barriga”. Mas hoje eu já consigo entender tudo perfeitamente, pois o dia à dia está me ensinando cada vez mais. Busco falar também devagar com eles pois, se eu me expressar rapidamente eles também não irão me entender.

Jornal Tribuna do Sertão – Como pode ser definido o papel dos enfermeiros e agentes de saúde no programa Mais Médicos. De que forma eles têm ajudado?.

arnulfo (3) 2Arnulfo Martinez Cruz – Eles são de fundamental importância. Posso exemplificar com o meu caso, pois quando, mesmo falando devagar e me esforçando para ser entendido, existiu no início algumas situações em que eu precisei da ajuda deles para conseguir tanto passar minha mensagem quanto para saber o que o paciente estava falando. Eles são da terra e sabem o que cada expressão significa. Então, esse apoio dos enfermeiros e agentes de saúde pode ser considerado muito importante para o sucesso do programa e o melhor entendimento durante as primeiras consultas realizadas.

Jornal Tribuna do Sertão – Qual é a demanda de pacientes na unidade de saúde de Salgada. Como funciona o atendimento à população local?.

Arnulfo Martinez Cruz – A demanda é muito grande. Então decidimos trabalhar com as pessoas por agendamento pela área. As consultas são agendadas semanalmente e demoram em média entre 25 a 30 dias para serem atendidas, pois são muitas pessoas. Mas estamos fazendo o possível para fazer o acompanhamento de todos os pacientes, para que não haja complicações na saúde dessas pessoas.

Jornal Tribuna do Sertão – A equipe dos profissionais da saúde da Salgada estão realizando também as visitas domiciliares?
Arnulfo Martinez Cruz – Sim, estamos fazendo sempre as quintas-feiras pela manhã, fazendo as 5 micro- áreas, deveríamos estar fazendo 6 ou 7, mas estamos enfrentando problemas com a falta de agentes para fazer o trabalho nas outras micro-áreas. Existe ainda uma nova demanda vinda da população que veio morar nesses novos conjuntos habitacionais, e nós estamos nos esforçando para atendê-los da melhor forma possível.

Jornal Tribuna do Sertão – As pessoas que chegam para se consultar no posto da salgada encontram os medicamentos necessários para o tratamento ou a prevenção das doenças?
Arnulfo Martinez Cruz – Nós fazemos as consultas. No entanto, estamos sentindo dificuldades com relação a medicação das pessoas. Existe ainda a demora na realização dos exames solicitados. Por exemplo, eu passo um exame de ultrassom para a paciente, que são pessoas carentes e não têm condições de pagar, e eles têm que esperar pelo SUS, e eu observei que é um pouco demorado, mas eu preciso desses exames para poder saber com precisão a dor que o paciente está sentindo. Existem poucos remédios aqui no posto, e já fizemos a solicitação a secretaria de saúde, deixando eles cientes. Eu estou aqui todos os dias e seria muito bom poder ter a medicação para oferecer ao paciente após a consulta.

Jornal Tribuna do Sertão – Como foi deixar seu país para vir para outro lugar onde a cultura, pessoas, línguas, enfim, onde tudo é diferente?

Arnulfo Martinez Cruz – Eu sou médico em Cuba há 14 anos. Quando recebi a solicitação para fazer a missão em um outro país e soube que era o Brasil fiquei muito entusiasmado, pois o Brasil é conhecido por suas diversidades e a alegria do seu povo. Mas é muito difícil deixar a família. Estarei aqui em um contrato de 3 anos, tenho a cada ano um mês de férias para poder rever minha família.

Jornal Tribuna do Sertão – O que poderia ser dito sobre Cuba com relação ao governo de Raúl Castro?

Arnulfo Martinez Cruz – Sou simpatizante do sistema, pois em Cuba a saúde funciona muito bem. O governo oferece tudo de graça, os hospitais, clínicas, exames são gratuitos, existem vários especialistas, tudo de fácil acesso e sem tanta demora nem burocracia. Na educação, as escolas, universidades e Institutos também são gratuitos. Cuba é um país pobre, mas tem muita humanidade. Depois de Fidel, Raúl está trabalhando e fazendo algumas mudanças que eu enxergo como positivas, o transporte está melhor, o salário está melhor. O povo cubano está aceitando ele muito bem.

Jornal Tribuna do Sertão – O contrato do programa Mais Médicos é de 3 anos. Caso fosse feito o convite para renovar e passar mais 3 anos no Brasil o senhor aceitaria?.

Arnulfo Martinez Cruz – Nós estamos trabalhando aqui pelo povo do Brasil, pelo nosso governo e, no meu caso, também por mim mesmo.
Estamos dando nossa contribuição para tentar melhorar a saúde no Brasil. Mas, nesse momento não passaria mais do que o que me comprometi, que são os 3 anos. Eu tenho minha família, casa, enfim, minha vida em Cuba, que é o meu país. Por isso, pretendo finalizar meu trabalho dando o melhor de mim ao Brasil, país que levarei ótimas lembranças do seu povo e principalmente das pessoas que trabalham aqui comigo diariamente.