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Arnon de Mello

30/07/2014
Arnon de Mello

    Viajávamos de automóvel em direção a Major Isidoro.
Havíamos deixado a rodovia asfaltada que interliga Maceió a Palmeira dos Índios. O Senador contava-me a história das dificuldades que enfrentou, quando Governador do Estado, para torná-la realidade. Pertencia a um partido político contrário ao do Presidente Getúlio Vargas e sofria uma oposição sistemática no plano estadual. Conseguiu, entretanto, sensibilizar o Chefe da Nação, que muito o ajudou a realizar um grande Governo. Lamentou, profundamente, o suicídio do Presidente Vargas.
Vivíamos a campanha eleitoral de 1970. Ele era candidato à reeleição e eu a uma cadeira na Assembleia Legislativa. Fora eleito Governador de Alagoas há vinte anos. Era a experiência e a sagacidade política em pessoa. Apesar de haver conquistado a Prefeitura de Maceió, em 1965, num pleito inesquecível, sentia-me um neófito. Um aprendiz diante de um mestre. Sua magnífica votação, sob certos aspectos, surpreendeu-me. Sabia que a estrutura da Aliança Renovadora Nacional alagoana garantiria a vitória dos dois candidatos do Partido ao Senado. Imaginava, porém, que o mais votado seria o Major Luiz Cavalcanti. Inclusive, cheguei a defender esse raciocínio numa entrevista à Rádio Gazeta. Entretanto, o Senador Arnon de Mello bateu, à época, um novo recorde eleitoral. Obteve o maior número de votos de toda a história política  de Alagoas. Reelegeu-se mais duas vezes para o mesmo cargo.
Inteligente e empreendedor, implantou o primeiro jornal off-set, a primeira emissora de frequência modulada e a primeira estação de televisão em Alagoas, tornando-se um dos pioneiros do sistema de comunicação do Estado.
Menino de origem rural, soube utilizar as dificuldades do dia-a-dia como um trampolim que o levaria a transpor os obstáculos e galgar invejáveis posições na imprensa carioca, na vida pública de seu Estado e como empresário bem sucedido.
Em depoimento sobre seu padrinho, o imortal poeta Jorge de Lima, durante sessão de homenagem realizada pela Academia Alagoana de Letras, na qual o Senador Arnon de Mello ocupava a cadeira que pertencera ao acadêmico Ranulfo Goulart, ele próprio assim definiu  sua infância:
“Homem afeito ao trabalho rude, meu pai queria os filhos para o campo, para a realidade dura, enquanto minha mãe, cheia de imaginação, os queria para os livros. Já a guerra de 1914 impedira que, por insistência dela, meus irmãos mais velhos, então dedicados à agricultura, fossem fazer um curso na Europa. Casando muito cedo e tendo 13 filhos, pouco estudara, e como que desejava compensar esta deficiência através da nossa educação mais apurada. O aparecimento de Jorge de Lima, cheio de sucesso, quando a crise do açúcar levara tudo quanto meu pai possuía, reacendeu-lhe o sonho e confirmou-a no entusiasmo pelas coisas da inteligência. Eu estava a essa época em idade madura para a primeira comunhão. Jorge de Lima, além de médico, era homem de letras, poeta. Por que não o convidar para meu padrinho de crisma? E no dia da cerimônia, com a felicidade estampada nos olhos, minha mãe me dizia, ainda na Igreja:
–  Quero que você estude e se forme como o seu padrinho Doutor Jorge”.
O desejo materno se concretizou. O estudo e a pertinácia, somados aos dotes intelectuais que lhe eram inatos, levaram-no à vitória. Independentemente das paixões políticas e das simpatias ou antipatias pessoais, o Senador Arnon de Mello merece o respeito e a admiração de todos os alagoanos. Jornalista, com renome nacional, autor de vários livros e relevante atuação nas redações dos órgãos de imprensa de sua propriedade, passou à história como um realizador”.