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Padre Cícero
Câmara de Vereadores de Juazeiro do Norte concede-me o Título de Cidadania sob os argumentos, expostos no ofício que recebo do Presidente da Casa, de que sempre defendi, em todos os cargos que ocupei, os interesses maiores do Nordeste. Embora sensibilizado com a homenagem, imagino que o motivo real seja o grande número de alagoanos que reside na cidade notabilizada pela ação pastoral do Padre Cícero Romão, santo ungido pela profunda fé do povo nordestino, independentemente da vontade do Vaticano. O Padre Cícero, inclusive, é mais venerado em Alagoas do que no próprio Ceará. Acredito que o fato ocorra em virtude da sua militância na política cearense, onde foi eleito Deputado Federal e Vice-Governador do Estado. Participando, ativamente, do processo político, saiu do campo teológico, envolveu-se nas paixões humanas que o levaram à excomunhão de Roma. Transformado em mártir, a credibilidade popular o faria santo, ainda em vida.
Contam-se mil histórias de seus milagres que se vêm multiplicando ao longo dos anos. Milhões de romeiros já visitaram o Juazeiro, que se transformou em Cidade Santa. Ela está para o Nordeste como Meca está para o mundo muçulmano. Desde a minha infância, ouço falar nos milagres do Padre Cícero. Minha mãe era uma de suas devotas. Narrarei, apenas, o que ouvi de Dom Hélder Câmara numa de suas visitas a Maceió, a convite de Dom Adelmo Machado. Dom Hélder contou que, logo depois do término da Primeira Guerra Mundial, em 1918, aluno do Seminário de Fortaleza, passou uma semana, em férias, no Juazeiro e conviveu com o Padre Cícero. Certo dia, uma senhora o procurara, angustiada, pedindo a proteção do “padrinho” para salvar o filho do vício da embriaguez. Ela, chorando, afirmava que o rapaz vivia constantemente embriagado, caindo pelas sarjetas. Não conseguia trabalho e se transformara num trapo humano. Padre Cícero mandou chamá-lo à Igreja. O jovem, trêmulo de respeito, aproximou-se dele. Mandou que abrisse a boca. Puxou-lhe a língua e fez nela o sinal da cruz, dizendo que, se ele bebesse uma gota de álcool, estaria amaldiçoado. A maldição do Padre Cícero era inferno garantido, o rapaz deixou de beber.
Estive em Juazeiro nos primeiros dias de junho. O movimento é incessante. Dezenas de novos hotéis, centenas e centenas de estabelecimentos comerciais, milhares de carros trafegando em suas estreitas ruas retratam o progresso material. Ao longe, na serra, a gigantesca estátua do Padre Cícero domina e abençoa a cidade. Lembro-me de um diálogo que tive, em 1968, com o então Prefeito de Juazeiro e, depois, Deputado Federal, o médico Mauro Sampaio. Estávamos na Alemanha participando de um Seminário de Administração Pública. Ele explicava que mandara construir a estátua convencido de que ela influenciaria o desenvolvimento do Município. Não sabia ele que estava criando um exemplo que se espalharia rapidamente. Rara é a cidade nordestina que não possua uma estátua do Padre Cícero. Aconteceu o que Mauro previa. Crato e Barbalha transformaram-se em satélites. A região do Cariri é a mais próspera do interior cearense. Juazeiro é o centro propulsor desse progresso.
A pureza da fé do homem simples do Nordeste forma o espírito da cidade.
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