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Professores de Igreja Nova denunciam atentado à Comissão de Direitos Humanos

06/02/2014
Professores de Igreja Nova denunciam atentado à Comissão de Direitos Humanos

atentadoOs professores Atiliano João de Deus e Moyses Ferreira denunciaram nesta quinta-feira (6), à Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil Seccional Alagoas (OAB/AL), um atentado acontecido na madrugada do último domingo em Igreja Nova, município onde vivem. Segundo eles, a casa de Atiliano foi alvejada por 12 tiros de pistola. Os dois professores, que ensinam na Escola Estadual Professor Pedro Reys, em Igreja Nova, acreditam que o atentado aconteceu em retaliação à atuação pública de Atiliano que, na sala de aula, em programa de rádio que apresenta e em site de sua propriedade, tem denunciado crimes cometidos no município e cobrado providências.
Segundo o presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB/AL, Daniel Nunes a denúncia está sendo encaminhada para os órgãos competentes, como a Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds), o Ministério Público Estadual e a Polícia Federal – tendo em vista que uma das denúncias feitas envolve suposto desvio de recursos públicos federais –, para a apuração. “Estamos encaminhando essas denúncias e vamos cobrar e acompanhar, de perto, a apuração dos fatos”, disse o presidente da Comissão.
Daniel Nunes também informou que já conversou sobre o caso com a secretária de Estado de Educação, Josicleide Moura. Segundo ele, a gestora se mostrou preocupada com a situação e quer ouvir a comunidade escolar da unidade estadual de ensino de Igreja Nova. Eles conversaram nesta quinta, durante o lançamento do Fórum de Combate à Violência nas Escolas, no Centro de Ensino e Pesquisas Aplicadas (Cepa). A OAB/AL integra o Fórum, através da Comissão de Direitos Humanos. “A OAB, inclusive, aplaude a iniciativa do Fórum”, afirmou o advogado.

O caso
De acordo com o que foi denunciado pelos professores à Comissão de Direitos Humanos da OAB/AL, os tiros foram disparados contra a residência de Atiliano por volta de 1h da manhã do último domingo. Naquele momento, Atiliano não estava em casa: ele e sua família haviam viajado de carro para a cidade de Juazeiro do Norte (CE), como fazem todos os anos, na mesma época. O professor conta que soube do ocorrido por telefone.
“Imagine o que é alguém ligar para você e dizer que sua casa foi metralhada e você não poder contar nada a sua família para não estragar o fim de semana. Depois, na volta, contar o que aconteceu e ouvir sua família chorando a viagem toda”, disse Atiliano. Os tiros, segundo testemunhas contaram, teriam sido disparados por homens que chegaram à frente da casa em uma moto.
Os professores narram que o atentado pode ter acontecido em retaliação à atuação de Atiliano, que, além de professor, é, também, radialista. Em seu programa de rádio e em seu site na internet, ele tem feito denúncias e cobranças quanto ao esclarecimento de crimes. O mais recente foi o assassinato do servidor público e estudante universitário Antony Moura, 24 anos, morto a tiros enquanto trabalhava na Escola Municipal Frei Arnaldo, durante o dia.
“Já passaram mais de 90 dias após esse crime, que ainda segue sem esclarecimento. Nos últimos sete ano, inclusive, aconteceram sete assassinatos em Igreja Nova e nenhum foi esclarecido. Isso dá a sensação de impunidade aos criminosos”, disse Atiliano. Por conta da morte de Antony, foi criado, em Igreja Nova, um Comitê pela Paz, da qual o professor foi um dos principais articuladores. Os professores narram que, devido à mobilização, que contou, inclusive, com uma passeata no município que reuniu mais de 1.200 estudantes em prol da paz, o policiamento chegou a ser reforçado, com o envio de nova viatura, inclusive.
Segundo eles, a mobilização incomodou algumas pessoas na cidade. Outro fato que pode ter contribuído com o clima de animosidade, de acordo com os professores, foi a denúncia que Atiliano fez em seu programa de rádio do desvio de uso de uma máquina adquirida pelo município com recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do governo federal. De acordo com o que foi denunciado pelo professor, a máquina estava sendo utilizada em serviço particular, na Usina Marituba. “Não tenho medo. A atividade que exerço é de risco”, disse Atiliano.
Para o professor Moyses Ferreira, os criminosos, em Igreja Nova, confiam na impunidade. “Morei durante 20 anos em Maceió e, há três, voltei para Igreja Nova. Tive que me readaptar à lei do silêncio. Se você vai de encontro a isso, vê o cerco se fechar. Eu fui eleito para integrar o Conselho do Fundeb no município e eu mesmo denunciei a eleição porque outros conselheiros foram eleitos de forma irregular. Fui eleito e excluído democraticamente. Eu tive que me readaptar para pensar o interior”, narrou.
“As pessoas apostam na impunidade. Mas não é assim: as pessoas têm que saber que, se errarem, vão responder. Não estamos mais no século XIX”, declarou. Os dois professores também destacaram que têm recebido o apoio do Sindicato dos Trabalhadores da Educação do Estado de Alagoas (Sinteal) no processo.