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Dom Avelar

08/01/2014
Dom Avelar

Ouvindo a homilia proferida pelo Cardeal do Rio de Janeiro, Dom Eugênio Sales, na missa de corpo presente pela alma de Dom Avelar Brandão Vilela, na Igreja Mãe do Brasil, na cidade de Salvador, transporto-me para o passado e começo a recordar os diversos encontros que mantive com aquele que era o único Cardeal, nascido em Alagoas. Compareci a sua posse em 1971, como Arcebispo Primaz do nosso País, representando a Assembléia Legislativa Alagoana, em companhia de Theobaldo Barbosa e de Tarcísio de Jesus. Ofereci-lhe, por recomendação do Conselho Estadual de Cultura, a maior honraria de Alagoas, a Comenda dos Palmares, em solenidade realizada na noite de dezesseis de setembro de 1985, no Instituto Histórico e Geográfico. Participei das Missas que ele celebrou em sua querida Viçosa e do inesquecível encontro do Clero brasileiro no Estádio da Fonte Nova, na Bahia, nas festividades do seu Jubileu de Ouro Sacerdotal. Lembro-me das conversas que mantivemos nas viagens de avião que, ocasionalmente, fizemos juntos. Considerado um dos maiores oradores sacros do Brasil, marcou profundamente o meu espírito com o discurso de paraninfo dos concluintes da nossa Universidade Federal, através da mensagem explicando a necessidade do relacionamento entre o capital e o trabalho, na manhã da inauguração da Usina Seresta e das palavras de despedida do seu estimado irmão Teotônio Vilela, no Parque das Flores.
Cultura enciclopédica, voz suave, meigo no tratar a pobres e ricos, humilde em sua grandeza, encantava a todos de quem se aproximasse.
Ordenado Padre em Aracaju, Bispo de Petrolina, Arcebispo de Teresina, Presidente do CELAM (Conselho Episcopal Latino-Americano), Vice-Presidente da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), Arcebispo Primaz, Cardeal, Presidente da famosa Assembléia Geral do Episcopado Latino-Americano em Medellín, redator da introdução da Carta do Encontro de Puebla, quando lançou a tese da Civilização do Amor, foi, indubitavelmente, um dos maiores vultos da igreja brasileira.
O homem-época, geralmente, caracteriza-se pelo romantismo e pela pertinácia. Romantismo como uma nova maneira de sentir, romantismo como uma rebeldia contra convenções esdrúxulas, como reação ao conformismo.
A melhor caracterização do homem-sublime que conheço é a de um romântico Victor Hugo, imortalizada no livro – Os Trabalhadores do Mar – “Quem é apenas bravo tem só um assomo, quem é apenas valente tem só um temperamento, quem é apenas corajoso tem só uma virtude; o obstinado na verdade tem a grandeza. O segredo dos grandes corações está nesta palavra: perseverança. A perseverança é a renovação perpétua do ponto de apoio. Esteja na terra ou no céu o alvo da vontade, a questão é ir a esse alvo”.
Dom Avelar Brandão Vilela é, indubitavelmente, um desses homens-época. Romântico, porque faz da preocupação com a sua pessoa, um sinal de que se insere no drama social do nosso tempo. Sua vida é um exemplo de obstinação. É um prodígio de vontade, de tenacidade, de fé, de todos os atributos de ação.
A Catedral de São Salvador está repleta. Milhares de pessoas estão postadas diante da urna funerária. O Presidente da República José Sarney, Cardeais, vários Ministros de Estado, Governadores, Senadores, Deputados, Oficiais-Generais, dezenas de Bispos, centenas de Sacerdotes, de Freiras e, o que é mais importante, o povo baiano reverentemente se despede daquele que, durante quinze anos, foi o seu Bom Pastor. Dom Eugênio fala com o coração. As frases felizes e definidoras saem com facilidade dos seus lábios. O silêncio é apenas quebrado pela dor extravasada em choros que ecoam pela multidão. Finda a Missa, o Hino do Senhor do Bonfim é cantado. É a voz da Bahia.
Dom Avelar repousa ao lado do Padre Antônio Vieira e de outros líderes religiosos na Catedral Primeira do Brasil. Ele como São Paulo, combateu o bom combate e foi vitorioso. Sua alma iluminada foi chamada à companhia de Deus.