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Visconde de Sinimbu

12/11/2013
Visconde de Sinimbu

Viveria quase cem anos, mas, jamais esqueceria aquele dia, quando, criança de cinco anos de idade, presenciou a figura singular de sua mãe, no alpendre da Casa Grande, do Engenho Sinimbu, cercada por um contingente da força militar governista muito superior aos combatentes que ela comandava, vendo-se obrigada, para evitar maior derramamento de sangue, a suspender a luta que seu esposo, foragido do alto sertão, liderava contra a opressão do Governo Central. A dignidade, a altivez da matriarca da família Lins marcou, profundamente, sua memória. Permaneceu ao lado da mãe durante todo o período em que ela esteve prisioneira, na cadeia pública da Cidade de Alagoas, hoje, Marechal Deodoro. A coragem cívica e a grandeza na adversidade, que sempre revelou em sua longa vida pública, foram forjadas em sua aventurosa infância.
João Lins Vieira Cansanção de Sinimbu nasceu em São Miguel dos Campos e herdou, dos pais, o destemor, a serena energia e a grandeza moral que o notabilizaram, quando ocupou diversos espaços da vida pública e administrativa do Regime Imperial. Era filho do Capitão de Milícias Manoel Vieira Dantas, grande expressão revolucionária de Alagoas, entre 1817 e 1824, e de dona Ana Lins, que, nas terras do Engenho Sinimbu, ajudada por escravos e serviçais, defendeu a última fronteira da República do Equador, façanha que lhe valeu uma citação no livro “Heroínas Brasileiras”, do General Carlos de Campos. O futuro Visconde formou-se em Direito, pela Faculdade de Olinda, completando sua educação na Europa. Estudou na Alemanha, onde se doutorou. Em Dresle, capital da Saxônia, conheceu Valéria Tourner Vogeler, de uma influente família anglo-teutônica, com quem viria a casar. Foram quarenta anos de felicidade.
Sinimbu foi Presidente da Província de Alagoas e, também, governou os destinos da Bahia e do Rio Grande do Sul. Consolidou Maceió como Capital. Foi Deputado, Senador, Ministro da Agricultura, da Justiça, dos Negócios Estrangeiros e Primeiro Ministro. Era, como o chamavam, um gentleman, da elegância no trajar à fidalguia de maneiras. Um escritor político, da época, diz que o estadista alagoano estava muito perto da perfeição. Homem de governo, nenhum outro o excedeu em bravura pessoal, embora, nunca haja exibido valentia. Teve sua vida pública marcada pela moderação, calma, meticulosidade, espírito de tolerância e pela reflexão que sempre imprimia a seus atos. Sinimbu foi uma afirmação de honra, de nobreza de ações, de probidade política e de cultura intelectual. Falava, fluentemente, vários idiomas. Viveu mais de noventa anos, cercado do respeito e da admiração dos contemporâneos e conquistou o reconhecimento da posteridade.