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Almas imprevisíveis

10/11/2013
Almas imprevisíveis

– “Neguinha, tenha certeza, isso é mulher nova, bonita e carinhosa, só você não quer enxergar, procure um detetive, disse em tom de mofa Alzirinha”.
Marlene ao ouvir a amiga deu vontade de chorar, a raiva tomou conta de sua alma; não queria acreditar nas suspeitas, a opinião da melhor amiga deu-lhe quase certeza, Eurico lhe traía, há mais de quatro meses não fazia amor. Precisava ter calma, muita calma, despediu-se de Alzirinha, saiu da pizzaria, no estacionamento a cabeça rodava, pensava não ser ciumenta, entretanto, o ciúme penetrou em suas entranhas, em sua mente.
Eram quatro da tarde, sentou-se na confortável cadeira na varanda do apartamento, a vista encantadora da praia de Pajuçara, coqueiros e o azul-esverdeado do mar deu-lhe volta a tranquilidade, pensava como agir, ficou matutando até às oito da noite quando Euricão chegou do trabalho.
Depois do jantar, ela pediu uma conversa, foram à varanda, Marlene perguntou na bucha:
-“Eurico já não somos crianças, temos filhos bem encaminhados, exijo sinceridade. Existe outra mulher em sua vida?”
O marido levou um susto com a pergunta tempestiva. Suspirou para responder.
– “O que é isso Marlene? Por que você botou essa história na cabeça?”
– “Estou perguntando tem ou não tem alguma mulher?”
– “Claro que não meu amor, para que preciso de uma amante? Tenho você, companheira por mais de trinta anos.”
Eurico se achegou, acariciou o rosto da mulher, beijou-lhe a face, a boca, iniciou algumas carícias pelas costas descendo até levá-la à cama, uma noite de amor como nunca mais havia acontecido.
Marlene não perdeu a desconfiança, contratou o detetive Audálio no Edifício Breda, centro da cidade, diária, R$ 100,00. Quinze dias de investigação, Marlene retornou ao escritório, ao ver as fotografias de Eurico entrando no motel, desabou a chorar, a raiva aumentou ao perceber um detalhe, a acompanhante era Silvinha, secretária de total confiança, esposa de seu primo Edmundo. Marlene sufocada pela dor do ciúme, desceu pelo elevador, foi à Casa do Esporte, comprou um chicote de equitação. Dirigindo o carro rumou ao escritório da construtora no bairro do Tabuleiro.
Foi entrando com o chicote na mão, perguntando pela Silvinha. Cadê Silvinha? gritava. Ao ver a loura, bonita, 26 aninhos, deu-lhe uma chicotada na cara, continuou a surra, gritando para todos ouvirem, “Rapariga, filha de uma égua…” Um funcionário teve a coragem de tomar o chicote abraçando Marlene, acalmou-a falando baixo, conseguiu tirá-la do local. Levou-a para casa em seu carro. Deixou a mulher do patrão no apartamento, retornou de ônibus.
Eurico foi chamado com urgência ao escritório. O que mais doía em Silvinha não eram os edemas das chicotadas, era o marido saber da traição, acabar o casamento de cinco anos, uma filhinha de três, ao pensar na família desandava a chorar.
Eurico não teve coragem de ir ao apartamento àquela hora, telefonou para Alzirinha, pediu para acalmar a mulher. Retornou à casa ao anoitecer, ao chegar no edifício suas malas estavam na portaria, em um envelope pardo um bilhete.”Nem ouse subir”.
O fato se deu exatamente ha um ano. Hoje Marlene vive em busca do tempo perdido, é a coroa mais charmosa e assídua nos bares da boemia. Eurico fez tudo para voltar, ela nem quer vê-lo. E quanto a Silvinha, o maridão depois de algum tempo perdoou, vivem na maior felicidade. Imprevisível a alma de um corno ou de uma corna.

 

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